(…)
Apesar
da detenção de Rendeiro, da prisão domiciliária de Manuel Pinho e da acusação
no caso das PPP rodoviárias, esta não foi uma semana de vitórias para a justiça
portuguesa.
(…)
No
primeiro pedido de extradição [de Rendeiro] o Ministério Público esqueceu-se de
indicar que ele não é apenas arguido, mas um condenado a pena de prisão em
última instância.
(…)
Pouco
tempo depois da humilhante fuga de Rendeiro, mas nove anos passados do início
do processo da EDP, o MP pediu a prisão preventiva de Manuel Pinho, que é
apenas arguido, por risco de fuga.
(…)
Só que
depois da fuga de Rendeiro a pressão pública mudou e os atores judiciais
reagem, antes de tudo, ao ambiente externo ao processo.
(…)
Quanto
à acusação no caso das PPP rodoviárias, ela acontece depois de o inquérito ter
sido aberto há quase uma década, ser amplamente noticiado há mais de sete anos
e os envolvidos só terem sido constituídos arguidos no ano passado.
(…)
E
assim se degrada a credibilidade da justiça, criando um sentimento difuso de
impunidade.
(…)
É
saber até quando continuaremos a satisfazer-nos com a suspeita pública, que
pode durar uma década de vazamento de peças processuais na imprensa.
(…)
Quando
exigiremos menos foguetório e mais resultados no combate aos crimes de
colarinho branco?
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Passado
o Natal, a campanha eleitoral transformar-se-á num longo e fastidioso conjunto
de frente a frentes.
(…)
Não
estaremos através de um mecanismo de parlamentarização do espaço mediático a
empobrecer a campanha?
(…)
Mesmo
se partirmos da Lei, em lado algum está escrito que todos têm de debater
individualmente com todos.
(…)
Com
tanto debate, a campanha será um debate sobre os debates, o que é a definição
de uma campanha pobre.
(…)
Qual
era a alternativa? Menos debates, decididos com critérios jornalísticos
transparentes e claros, que garantissem a participação de todos, de acordo com
a lei.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
O caso da transição energética no nosso país é crucial para
analisar se existe, de facto, energia para todos.
(…)
Segundo
o Observatório da União Europeia
para a Pobreza Energética, mais de 50 milhões de famílias europeias
vivem em pobreza energética.
(…)
Portugal
aparece no fundo da mesma [tabela], em 25.º lugar, como um dos países com maior nível de pobreza energética da
Europa.
(…)
Portugal
[está] em segundo lugar, só atrás de Malta, [no ranking do excesso de mortalidade no Inverno em 30
países europeus] com um acréscimo médio de 28% nas mortes ocorridas
entre Dezembro e Março face às que têm lugar nos meses mais quentes.
(…)
Importa falar sobre o controlo público da energia no nosso
país.
(…)
O sector energético está dominado por interesses privados que
colocam a vontade lucrativa face às reais necessidades das populações.
(…)
O que este cenário tem demonstrado não é uma adaptação rápida
e estrutural às urgências que a crise climática impõe.
(…)
Temos vindo a reduzir ligeiramente as nossas dependências de
combustíveis fósseis.
(…)
É preciso tocar onde dói, nomeadamente nos monopólios de
energia que têm vindo a ser inúmeras vezes denunciados por activistas.
(…)
A
menos que haja reduções nas emissões de gases de efeito estufa imediatas,
rápidas e em larga escala, o aquecimento global ultrapassará os 1,5ºC.
(…)
[Há que] terminar com a ideia insustentável e fantasiosa
de que é possível manter um desenvolvimento infinito sobre recursos finitos.
(…)
O
movimento social está forte nas ruas e em permanente oposição com a lógica de
que é demasiado difícil garantir a nossa subsistência.
Andreia Galvão, “Público” (sem link)
Segundo
o Relatório Mundial sobre Migração (Organização Internacional das Migrações),
em 2020, havia no mundo cerca de 281 milhões de migrantes internacionais, o que
significa que 3,6% da população mundial residia noutro país que não o de
origem.
(…)
Todos os países, ainda que com intensidades distintas, são
afetados pelas migrações internacionais.
(…)
Segundo o Observatório da Emigração, estima-se que em 2020
tenham saído do país 68209 portugueses.
(…)
De acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, em
2020, entraram em Portugal 71747 novos estrangeiros.
(…)
Nesse ano residiam em Portugal 662 mil cidadãos estrangeiros,
o que representa aproximadamente 6,4% da população residente.
(…)
[Em 2015] mais de um milhão de pessoas ultrapassaram as
fronteiras externas da Europa de Schegen e caminharam em direção a Berlim.
(…)
Também em 2018, uma caravana de milhares de migrantes
sul-americanos atravessou sucessivos países em direção aos EUA.
(…)
Num
contexto de globalização, onde tudo flui quase sem constrangimentos,
nomeadamente o dinheiro, as matérias, a informação e as pessoas, algumas
pessoas são limitadas nas possibilidades de migrar.
(…)
Resulta
assim paradoxal que os Estados, (…) reivindiquem o controlar das suas
fronteiras sobre os mais vulneráveis.
(…)
A
odisseia de chegar ao “condomínio fechado” europeu fez com que a travessia da
fronteira líquida do Mediterrâneo a convertesse na mais dramática das
fronteiras, com 22941 mortes de migrantes em oito anos.
(…)
O número de pessoas em mobilidade é crescente.
(…)
O
caráter estruturante das migrações requer que, para além das respostas
políticas e jurídicas, sejam dadas também respostas sociais e éticas aos homens
e mulheres migrantes, bem como às sociedades de acolhimento, num compromisso
coletivo de integração.
Carlos Nolasco, “Público” (sem link)
Todas
as matérias que dizem respeito à polis,
à sociedade humana, aos homens e às mulheres, colectivamente ou em grupo, são
naturalmente políticas.
(…)
A produção política do “consenso” [durante a ditadura] foi a
grande obra da censura que subsiste nos dias de hoje.
(…)
Vem isto a propósito da polémica da questão das vacinas, acentuada
pela decisão de vacinar as crianças.
(…)
Sim, a questão das vacinas é política e deve ser discutida
politicamente.
(…)
As medidas tomadas não são exclusivamente técnicas nem
científicas, comportam uma dimensão de decisão que é naturalmente política.
(…)
O
movimento antivacinas dos nossos dias é bastante diferente de movimentos
semelhantes no passado, comunica intimamente com o negacionismo e com um
discurso político de extrema-direita, que são de hoje e não de ontem.
(…)
É a permeabilidade da direita radical aos aspectos políticos
do negacionismo que o torna preocupante.
(…)
No
caso português, a direita radical foi buscar aos movimentos antivacinas e
negacionistas pretextos para atacar as decisões governamentais sobre a
vacinação das crianças.
(…)
É por
isso que é um erro da comunicação social, e da agenda política que ela
condiciona, o menosprezo pela perigosidade destes movimentos.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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