(…)
As propostas de política social e
económica rompiam com os desastres da Direita; e largos segmentos da sociedade
sentiram que não iam continuar abandonados.
(…)
Ainda na primeira legislatura, o BE e o
PCP começaram a manifestar desconforto com a gestão de Orçamentos de Estado
(OE) em que parte do que era negociado não era cumprido.
(…)
Em vésperas do chumbo do OE para 2022, a
solução de governação mais desejada pelos portugueses continuava a ser o
entendimento das forças da Esquerda.
(…)
O positivo património da governação à
Esquerda não pode ser descartado.
(…)
Constituirá pesado retrocesso voltar-se
ao anacrónico "arco da governação" e ao centrão de interesses, em
velha ou nova versão.
(…)
Trabalho, emprego, proteção social,
saúde, educação e o perfil de especialização económica têm de ser temas
centrais de um programa de governação.
(…)
O desfecho de 2021, com a não aprovação
do OE, não foi assim tão surpreendente.
(…)
A rutura não é um mal absoluto, desde
logo, porque ela pode ser necessária para reformular e projetar novos
compromissos entre os atores envolvidos.
(…)
Assumamos [na esquerda] que nesta grande
área vai ter de se aprofundar e articular a mobilização e a ação social e
política.
PS e
PSD não estão igualmente próximos de uma maioria absoluta – uma é difícil outra
é delírio.
(…)
Os
entendimentos com o Chega são tóxicos e com a IL tenderão a puxar o PSD para um
nicho social e ideológico perigoso.
(…)
Como
já vimos com António Costa, há diferenças entre o que é dito em campanha e o
que se faz perante os resultados eleitorais.
(…)
Costa
transformou umas eleições em que tinha mais escolhas do que Rio, por estar mais
próximo da maioria absoluta e ter pontes possíveis com toda a esquerda e o
centro-direita, no oposto.
(…)
O
discurso [de Costa] passou a ser o da impossibilidade de entendimentos, para
tirar utilidade ao voto no BE e no PCP.
(…)
[Costa]
faz aos eleitores o que suspeito que fez aos seus “parceiros”: ou o mantêm no
poder sem mais exigências, ou pagam as favas da crise.
(…)
Costa [está
a exibir] o seu calcanhar de Aquiles: a arrogância.
(…)
Quando,
em vez de se concentrar na conquista do voto centrista, Costa usa a chantagem
para secar o eleitorado à sua esquerda, não está a tentar regressar ao pré-2015.
(…)
Recordo
que muitas das medidas de que Costa se gaba não estavam no programa do PS de
2015. Existiram porque existiram BE e PCP.
(…)
Os
partidos que o puseram no poder depois dele não ter conseguido derrotas Passos
Coelho e ali o mantiveram por seis anos, não pedindo lugares nem políticas.
(…)
Deram
bem mais do que receberam, apesar de hoje serem tratados como uns malandros em
quem não se pode confiar.
(…)
Apesar
das suas [de Costa] más relações com Catarina Martins, foi dos governos
minoritários mais duradouros. E apesar das boas relações com Jerónimo, houve
uma rutura.
(…)
O que
determinará o que cada um fará, incluindo o PS, serão os resultados eleitorais.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Ainda
vivemos num mundo onde diariamente 4 mil crianças morrem de diarreia e mil de
malária, 1400 mulheres morrem na gravidez ou durante o parto, e 6 mil pessoas
morrem de VIH e doenças relacionadas com a SIDA.
(…)
Portugal,
que faz parte do grupo de países de alto rendimento, uma proporção muito
significativa da população não tem médico de família, um cuidado de saúde
primário e uma forma muito eficiente de revenir a doença.
(…)
As
pessoas não podem ser reduzidas a meros consumidores de saúde.
(…)
Há
quatro décadas, os lideres mundiais concordaram que qualquer indivíduo tem
direito a cuidados de saúde adequados.
Maria Manuel Mota, “Expresso” (sem link)
As
maiorias absolutas de um só partido são mesmo a exceção num sistema eleitoral
proporcional como o nosso.
(…)
Aparenta
fazer pouco sentido que Costa tenha defendido uma maioria absoluta que parece
difícil de atingir.
(…)
Como é
pouco provável que das legislativas resulte uma maioria absoluta, como é que se
criam condições de governabilidade num parlamento fragmentado?
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
[Para Thomas
Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos] em democracia, as maiorias dependem mais do grau de participação de quem lhes dá forma que da mera soma dos
votos que as produzem.
(…)
Tantos anos depois, esta afirmação (…) mantém a sua grande
justeza.
(…)
A maioria dos votos concedidos em eleições a um partido ou a
um candidato, por não corresponder a um efetivo compromisso político da maior
parte dos cidadãos que a exprimiram, acaba por desvalorizar a própria
democracia.
(…)
O exemplo mais vezes referido é o da Alemanha da República de
Weimar, onde em 1932, nas eleições de junho e de novembro para o Reichstag, (…),
os nazis obtiveram uma ampla maioria traduzida em mais de um terço dos votos
expressos.
(…)
Em Portugal, durante o Estado Novo, sucessivas maiorias de
votos, obtidas em eleições fraudulentas, (…), serviram para legitimar o poder
ditatorial de Salazar e impedir durante décadas uma via democrática.
(…)
Se o embuste das eleições que legitimaram ditaduras é de
fácil constatação, já o mesmo não acontece em atos eleitorais produzidos sob
regimes alicerçados no sistema representativo e numa liberdade formal, mas onde
a mobilização política dos cidadãos se encontra, na verdade, fortemente
desvalorizada.
(…)
Nestas condições, a participação dos eleitores tem em muitos
lugares passado por quase automáticos momentos do voto, separados por
letárgicos períodos de indiferença.
(…)
[Em Portugal, no atual quadro, homens e mulheres] não só
deverão mesmo votar, como deverão fazê-lo de forma consciente e participativa.
Rui Bebiano, “Diário as beiras”
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