(…)
O capitalismo sabe resolver o problema e o mercado é o seu
profeta.
(…)
Diz ele [António Guterres] que estamos a caminho do abismo e
a manter o pé no acelerador.
(…)
[António Guterres é]o único naquelas reuniões a desprezar os
discursos e as promessas com que se espera que sejamos entretidos.
(…)
[António Guterres] tem razões para isso [estar exasperado e
zangado] e, já agora, essa é a motivação dos jovens que protestam.
(…)
A dimensão desta mentira pode ser ainda maior do que se supõe.
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93% dessas [duas mil] empresas [mundiais que afirmam
compromissos de emissões-zero] não atingirá nunca o objetivo com as suas
medidas previstas.
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Uma consultora, a Accenture, registou os casos generalizados
de “apresentação desonesta de contabilidade” de emissões, em alguns casos
mascarando a promoção de novos investimentos em combustíveis fósseis.
(…)
Há ainda o caso da contabilização falsificada da redução de
emissões por países onde já se generalizou o automóvel elétrico.
(…)
Com tudo isto, chegamos ao único resultado que não é possível
disfarçar, o planeta já aqueceu 1,2ºC em relação à média pré-industrial.
(…)
Já não é possível restringir o impacto aos prometidos 1,5ºC,
mesmo que houvesse agora um travão total à produção de emissões.
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Afirma a mesma instituição da ONU [IPPC] que seria necessário
o triplo do investimento em energias limpas para permitir o travão das emissões.
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Estão instalados na COP27 603 lobistas das empresas mais
poluentes, são mais do que os dos dez países mais afetados pelas alterações
climáticas.
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Os governos mais poderosos incentivam a corrida ao fóssil, em
particular ao gás.
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Espanha e Alemanha retomaram a produção de carvão, e a lista
continua.
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O mercado funciona e caminho para o abismo está cheio de
consoladores lucros e dividendos.
Francisco Louçã, “Expresso” online
Temos de reconhecer a nossa incapacidade cognitiva de lidar
com a dimensão do problema [das alterações climáticas].
(…)
A comunicação social é incapaz de fazer esta comunicação e
perde-se na espuma dos dias e em episódios tragicómicos.
(…)
Há algo em comum em todas as abordagens: nunca tocar no
problema central, nunca abordar o sistema capitalista construído em cima da
energia fóssil que está a transformar todos os territórios do planeta num
inferno perigoso.
(…)
Há uma série de escolhas para reiteradamente não se falar de
como resolver esta crise.
(…)
Quando o assunto é custo de vida, há o cuidado de não o
associar à inflação provocada pelos lucros recorde das empresas petrolíferas,
em particular do gás natural.
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O que os governos europeus estão a fazer é, em vez de
controlar o gás e promover alternativas ao mesmo, expandir a sua infraestrutura
e reforçar a nossa dependência dele.
(…)
Esta é uma resposta essencialmente negacionista das
alterações climáticas e de quaisquer compromissos de travar o caos climático.
(…)
Com a crise do custo de vida e com a crise energética, o
sistema só pensa em voltar a aumentar emissões, continuar a crescer e abrir as
portas a mais energia.
(…)
O capitalismo está a corroer as bases materiais que permitem
a existência de civilização humana como a conhecemos.
(…)
Os governos garantem esta indústria e a contínua dependência
de fósseis, despejando biliões de euros sobre eles e construindo a sua
infraestruturas para mais décadas.
(…)
O
capitalismo como um todo é a derradeira crise da Humanidade, mas neste momento
o gás é um vector central que tem de ser travado.
João Camargo, “Expresso” online
Numa
conferência [COP27] inundada por lobbying
fóssil, parece que estamos a ser colocados rumo ao colapso e, se
assim continuarmos, estaremos perante um aumento de cerca de 2,4 ºC nos
próximos 30 anos.
(…)
Dentro das salas de reunião, o tópico de “perdas e danos”
está pela primeira vez na agenda.
(…)
Com o falhanço nas medidas de adaptação, chega a necessidade
do financiamento para perdas e danos.
(…)
Quando
falamos de financiamento para perdas e danos, não
estamos apenas a falar de dar dinheiro aos países, mas para onde é que esse
dinheiro vai?
(…)
Apesar
de óbvio para alguns, uma das mensagens mais importantes a passar nesta Cimeira
é a de que não há justiça climática sem direitos humanos.
(…)
Temos feito diversos protestos dentro da Cimeira.
(…)
Durante os protestos, erguem-se as vozes que realmente
deveriam estar presentes nos espaços de decisão.
(…)
[No arquipélago asiático, Filipinas] defensores da terra são
prisioneiros políticos, activistas estão a ser levados, assediados, mortos.
(…)
Pela primeira vez na história, temos mais refugiados
climáticos do que refugiados de guerra.
Bianca Castro, “Público” (sem link)
As alterações
climáticas são um problema global que requer a cooperação entre
todas as nações.
(…)
Em
vez de saírem dos combustíveis fósseis
e entrarem na energia limpa, muitas nações ricas estão a reinvestir no petróleo
e no gás, não conseguindo reduzir as emissões com rapidez suficiente.
(…)
Nenhum continente conseguiu evitar desastres climáticos
extremos este ano.
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[Novos projectos de combustíveis fósseis] são lançados
como medidas temporárias de abastecimento, mas arriscam-se a causar ao planeta
a danos irreversíveis.
(…)
Se a energia renovável fosse a norma, não haveria emergência
climática.
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Os
países em desenvolvimento, diz um relatório influente, precisam de dois biliões
de dólares anuais para reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa e lidar
com a ruptura climática.
(…)
Os
países ricos representam hoje apenas uma em cada oito pessoas no mundo, mas são
responsáveis por metade dos gases com
efeito de estufa.
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As nações em
desenvolvimento deveriam receber dinheiro suficiente para enfrentar as
condições perigosas que pouco fizeram para criar — especialmente quando se
aproxima uma recessão global.
(…)
No
mínimo, deve ser decretado um imposto sobre os lucros combinados das maiores
empresas de petróleo e gás — estimados em quase 100 mil milhões de dólares nos
primeiros três meses do ano.
(…)
As Nações Unidas tiveram razão em apelar a que o dinheiro
fosse utilizado para apoiar os mais vulneráveis.
(…)
Uma
crise económica reduziu a apetência dos países ricos por fazer despesas e o
planeta corre o risco de ficar na dependência dos combustíveis fósseis por uma
acção de retaguarda das grandes empresas.
Editorial conjunto de mais de 30 jornais e organizações da comunicação social em mais de 20 países, “Público” (sem link)
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