(…)
O seu
ativo seria uma invenção de um software maravilhoso, que estava por desenvolver
e cujo objetivo era também segredo.
(…)
Os
empreendedores reclamavam valer cerca de 20% do PIB, se a memória não me falha.
(…)
Pensariam
então que bastava uma promessa para atrair investidores ávidos de foguetes
bolsistas.
(…)
Não se
ouviu mais falar disto.
(…)
Aprendizes
de feiticeiro pululam num mundo em que a informação engana e a especulação
ataca e foge.
(…)
[O
Governo] namora com os “nómadas digitais”, atraídos pela promessa de impostos
risíveis, para que se instalem à beira-mar pela época alta e comprem uma
mansãozita.
(…)
Já
houve senhores neste mercado.
(…)
António
Champalimaud, venerado como o empresário de maior sucesso da segunda metade do
século XX, contou como comprou um banco, o BPSM, com um cheque careca.
(…)
Quando
o cheque sem cobertura teve que ser pago, Champalimaud já presidia ao banco.
(…)
Não
foi o único génio financeiro. [Basta lembrar Oliveira e Costa ou Berardo mas a
lista continua]
(…)
O erro
do nosso “PhD” [leia-se Miguel Alves] foi só não ter conseguido ir mais longe
com o seu padrinho. A traição foi muito feia.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Está já comprometida a cirurgia do
processo de revisão constitucional a desenvolver em 2023.
(…)
O processo ocorre dentro do bloco
operatório da extrema-direita.
(…)
O projecto de revisão constitucional do
PSD está mais próximo do projecto do CH do que, por exemplo, do da IL.
(…)
[O PS] não pode esquecer que será com
este PSD que concertará posições para uma revisão da Constituição.
(…)
Qualquer avanço da comissão de revisão, a
criar este ano, estará sempre dependente do acordo entre os dois partidos do
bloco central.
(…)
Nada melhor para normalizar a
extrema-direita do que fazê-la parte integrante de um processo formal de
revisão da CRP.
(…)
A resistência de alguns deputados ao teor
das mudanças é um sinal de que todo este processo nasce por inseminação
artificial, fora do tempo e sem consideração dos elevadíssimos custos do
contexto.
(…)
Se António Costa considerar que esta
revisão não deve alinhar em alterações ao regular funcionamento das
instituições democráticas, será então tempo de abraçar a proposta do BE para
que se prescinda da necessidade de referendar a regionalização.
O
futuro de Portugal depende da capacidade de atrair e integrar imigrantes.
(…)
Recuso
encarar a maioria dos imigrantes como corpos de trabalho sem direitos, enquanto
se privilegia turismo e imigração de luxo.
(…)
Portugal
participa neste processo de seleção social.
(…)
[Foi
assim com os vistos gold, é] também assim, agora, com o visto para nómadas
digitais.
(…)
O
problema surge quando esse regime: i) é mais favorável face a imigrantes ou
refugiados; ii) está associado a benefícios fiscais desproporcionais e
injustos; e iii) é limitado a cidadãos com rendimentos mais altos.
(…)
Notem
como o conceito [de nómadas] digitais é indefinido. [Têm a particularidade] de
usufruírem de rendimentos muito superiores à média portuguesa.
(…)
[Não
há] razão para tratamento privilegiado.
(…)
Gostaria
de ver o meu país a ser mais criterioso quanto a esta ‘nova economia’.
(…)
Mas
Portugal segue a tendência de países que, com segurança e um certo exotismo,
são baratos para os bolsos dos nómadas.
(…)
É o
expoente máximo do empreendedor atomizado no contexto da economia global
financeirizada, marcada pela despolitização do trabalho e do salário.
(…)
É o
avatar perfeito do ultraliberalismo, que o Governo PS tão bem promove.
Mariana Mortágua, “Expresso” (sem link)
A palavra ‘rua’ ganhou uma dimensão que a contrapõe a formas institucionais de
luta.
(…)
Está
associada às forças de esquerda, na medida em que os movimento populares
tradicionalmente são constitutivos daquelas forças.
(…)
As
manifestações de rua são expressões de lutas que podem dar bons trunfos, pois a
sua adequada utilização dá força a esses movimentos e funcionam como incentivos
a outros sectores.
(…)
Exige
ainda um trabalho cuidadoso, para trazer à luta quem não estava disponível,
fazendo-o através de reivindicações concretas.
(…)
Não há
contradição entre este tipo de luta e a institucional.
(…)
Não é
por decreto que se criam movimentos de massas para enfrentar a política de
cariz neoliberal.
(…)
A
avenida do povo que desagua na Assembleia da República não se faz no dia das
eleições, é um percurso por mil ruelas e ruas.
Domingos Lopes, “Expresso” (sem link)
Alfredo
Molano era um homem que sabia que “onde há terras, há guerras” e, mesmo assim,
nunca deixou de se esforçar para encontrar os caminhos da paz num país
[Colômbia] que tanto conhece de conflitos.
(…)
O
poder político, o terrorismo e o narcotráfico minaram e continuam a minar
quaisquer perspectivas de pacificação de um território em que a boa notícia da
paz negociada entre as FARC e o Governo foi esventrada por Iván Duque, sucessor
de Santos, que nunca gostou do acordo.
(…)
A violência voltou a aumentar, como garantia um relatório publicado este ano pela Fundação Ideias para a
Paz.
(…)
Na verdade, a guerra, a violência e a insegurança facilitam a
vida a quem quer explorar os recursos fora-da-lei.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A
sinistra viagem das três mais altas figuras do Estado ao Qatar
inspirou-me. Que fique claro: esta viagem não resulta de protocolo nenhum.
(…)
Estima-se
que há cerca de dois milhões de trabalhadores imigrantes no Qatar. A legislação
laboral que prevalecia até outubro de 2020 era esclavagista, porque inibia os
trabalhadores de mudarem de emprego ou de saírem do país sem autorização do
empregador.
(…)
A
falta de direitos explica o número de mortos e estropiados. Os cálculos do The Guardian apontam para
6500 mortes de trabalhadores migrantes entre 2011 e 2020.
(…)
Pode morrer-se do trabalho sem ser no trabalho.
(…)
A
fraca qualidade da informação sobre as causas de morte, que tanto o The Guardian como os autores
deste artigo apontam, é em si mesma sinal de que as vidas destas pessoas valem
pouco para as autoridades qataris.
(…)
A lei foi alterada, mas a prática não.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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