(…)
As
vantagens económicas e financeiras de partida; acesso a bens culturais desde
muito cedo; uma educação melhor; uma rede de contactos entre os privilegiados.
(…)
A
esmagadora maioria dos “vencedores” não são Cristiano Ronaldo.
(…)
A
ideologia meritocrática acredita que o sucesso resulta, em quase tudo, de ações
individuais, mesmo em situações grotescamente desniveladas.
(…)
[Segundo
a ideologia meritocrática] se vivemos em sociedades onde todos têm acesso a
mecanismos de promoção social, como escolaridade universal e apoios sociais, o
falhanço na ascensão social só pode ser individual.
(…)
Michael
Sandel explica como esta convicção alimenta um ressentimento que corrói a
democracia e dá força à revolta populista.
(…)
O mito
do “sonho americano”, a mais fantasiosa mentira meritocrática, mostra que ela é
tão mais necessária quanto mais falsa se revela.
(…)
Como
lembra Sandel, apenas um em cada 20 norte-americanos que nascem entre os 20%
mais pobres chegam aos 20% mais ricos.
(…)
No
índex da mobilidade social do Fórum Económico Mundial, os primeiros quatro
lugares são de países escandinavos, mais igualitários e com menos lances de
escada para subir.
(…)
Os EUA
estão no 27º, três posições abaixo de Portugal.
(…)
Há
mais jovens oriundos das famílias dos 1% mais ricos nas universidades da Ivy
League [EUA] do que dos 50% com menores rendimentos.
(…)
Um
estudo de Shira Greenberg, (…), concluiu que o rendimento e educação dos pais
do empreendedor são os fatores mais importantes para iniciar uma startup.
(…)
É o
empurrão do berço, mais do que mérito próprio, que faz a diferença.
(…)
Há
muito que o acesso a essas instituições [leia-se universidades mais
prestigiadas] é facilitado para os filhos dos seus principais doadores.
(…)
A
crença no mérito é vital para defender uma estratificação cada vez mais
violenta.
(…)
A
ilusão do mérito é o aparato moral que justifica o privilégio.
(…)
Quando,
[em pleno período da pandemia] tirando médicos e enfermeiros, os empregos mais
qualificados ficaram em casa e os trabalhadores pior remunerados e menos
valorizados eram os heróis da “linha da frente”.
(…)
Os
mesmos que passaram as últimas décadas a perder rendimentos e prestígio.
(…)
A
proposta de Sandel para combater o ressentimento que está a destruir a
democracia é revalorizar os trabalhos menos considerados
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Há sempre possibilidade de abrir caminhos
à esperança, ao futuro. Os movimentos dos jovens contra as causas das
alterações climáticas e ambientais provam-no.
(…)
Aos mais velhos compete tentar ser
jovens, ou seja, assumir o futuro como presente contínuo.
(…)
Parece-me muito positivo termos visto
recentemente alguns milhares de jovens, em escolas secundárias e universidades,
darem sinais de não quererem sucumbir à despolitização egoísta, nem ao
consumismo desenfreado, nem à desesperança que lhes é incutida.
(…)
A catástrofe ecológica é produzida por um
sistema tão injusto quanto predador e o discurso político está distante das
políticas praticadas.
(…)
É nos anos de formação que se forjam
convicções e compromissos de ação.
(…)
A ação, de todos, tem de ser militante,
organizada, persistente, determinadamente ofensiva.
(…)
É muito importante que os jovens estejam
despertando para essas causas específicas, situem-se elas no plano das
liberdades e direitos de cidadania, das igualdades ou do ambiente e ecologia.
(…)
A construção de uma alternativa ecológica
exigirá que se (…) coloque o trabalho com direitos e o combate às precariedades
no centro da ação.
Quando
uma ideia inverificável ganha força suficiente para ser partilhada por muitos e
se transforma ao ponto de ser impermeável ao ridículo, é preciso ter cuidado
porque muito fanatismo religioso começou assim.
(…)
[O bolsonarismo mais empedernido] assemelha-se
cada vez mais a uma seita impenetrável à realidade dos factos e que assumiu
como verdadeiro o segundo nome próprio de Bolsonaro: Messias.
(…)
[Os discípulos de Bolsonaro] têm
falado para manter viva a chama dos seguidores que em alguns estados continuam
a bloquear estradas e a exigir a reversão dos
resultados ou a intervenção militar.
(…)
[Como o general Braga Neto, candidato a “vice” de Bolsonaro
que] veio alentar
os peões do jogo antidemocrático que permanecem na rua: “Não percam a fé. É só
o que eu posso dizer.”
António Rodrigues, “Público” (sem link)
São
Teotónio é uma freguesia do concelho de Odemira, Portugal, mas podia ser um
qualquer outro local do mundo onde ser imigrante é ser parte de um mundo do
trabalho altamente segmentado onde milhões de trabalhadores são explorados.
(…)
Os
construtores do mundo, os agricultores do mundo, as costureiras do mundo, os
pescadores do mundo vêm todos dos mesmos sítios: do Bairro dos Pobres e da
Aldeia dos que nada têm.
(…)
Os
trabalhadores que construíram o Qatar não são padrão FIFA, mas deviam
ser. Os seus direitos são os nossos direitos e deveriam ser respeitados
plenamente.
(…)
Quando
a FIFA censura braçadeiras, declarações dos
jogadores, protestos nos estádios, liberdade de expressão, o que está a fazer é
a tornar o mundo pior.
(…)
Cabe a cada um de nós fazer cumprir estes princípios [da
Declaração Mundial dos Direitos Humanos], no dia a dia, todos os dias.
(…)
A
hipocrisia de gritar contra a FIFA ou contra o Qatar e calar o que se passa em
São Teotónio impede-nos de perceber o mundo em que vivemos.
(…)
Nada
deve impedir que os nossos governantes visitem São Teotónio e nos mostrem que
as histórias de exploração laboral, sobreocupação das casas, racismo e
xenofobia fazem parte de um passado a que não voltaremos.
(…)
São Teotónio e o Qatar são duas moedas com a mesma face.
Pedro Góis, “Público” (sem link)
O nosso debate orçamental é uma versão condensada e pouco
democrática, porque opaca, do que devia ser.
(…)
E não vai melhorar, porque a Lei de Enquadramento Orçamental
foi entretanto ferida de morte pela alteração de
abril.
(…)
A cacofonia orçamental fica assim consagrada na lei que foi
criada para a combater.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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