(…)
E com
uma relação íntima com a Adidas, que garantiu comissões muito interessantes ao
presidente da FIFA.
(…)
Se o
desporto é uma simulação lúdica da vida, a derrota de Rous foi a substituição
de uma aristocracia colonial racista e eurocêntrica por um capitalismo corrupto
global e aberto ao terceiro mundo.
(…)
Com
Blatter, a corrupção endémica deixou de ser consequência da degeneração moral
que o dinheiro sempre traz para fazer parte da identidade da FIFA.
(…)
A
escolha do Catar para organizar o Mundial de 2022 é o justo retrato de uma
organização que representa uma indústria onde tudo se vende e se compra, de
seres humanos à verdade desportiva.
(…)
O
Mundial do Catar representa bem a desumanização mercantil do futebol.
(…)
O
Catar é uma ditadura. Mas isso não é novo. A Itália de Mussolini organizou o
Mundial de 1934, Havelange estreou-se oferecendo à ditadura argentina a
possibilidade de se branquear enquanto atirava opositores para o Rio de Prata,
em 1978.
(…)
A FIFA
proibiu que a seleção dinamarquesa exibisse mensagens em defesa dos direitos
humanos.
(…)
O
problema do Catar não é estar fechado ao mundo, é comprar o mundo para que ele
feche os olhos.
(…)
Não
posso ignorar que os estádios onde os adeptos se sentam, os quartos onde os
atletas dormem, os campos onde as equipas jogam estão construídos sobre 6500
cadáveres.
(…)
Que
tudo foi feito à custa do sofrimento de milhares de escravos vindos do Sri
Lanka, Bangladeche, Nepal, Índia e Paquistão.
(…)
Roubados
nos seus salários, escravizados pela ameaça de deportação.
(…)
Não há
como naturalizar este crime em nome do entretenimento.
(…)
Por
mim, seria um orgulho se a seleção que nunca me representará naquele campo de
morte ali não estivesse.
(…)
E
Blatter, humanista de sempre, queria que o Irão também ficasse de fora. Por
causa da violação dos direitos humanos.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O tempo mostrou que essas teses catastrofistas [de 1997 sobre o futuro da
Segurança social] não tinham cabimento e que algumas amputações de direitos
para gerações futuras não deviam ter sido feitas.
(…)
A Segurança Social não está perto da
falência, antes mostra inequívoca solidez.
(…)
Nos últimos anos registaram-se saldos
excedentários.
(…)
O sistema ficará em causa se houver
cedência à ofensiva neoliberal de individualizar riscos para alimentar negócio.
(…)
Entretanto, todos sabemos que o
equilíbrio financeiro de longo prazo está sempre dependente da expansão da
atividade económica e da boa distribuição da riqueza.
(…)
O relatório que anunciava uma
"antecipação de 13 anos" na pretensa insustentabilidade do sistema é
uma peça com objetivos perigosos.
(…)
Direta ou indiretamente a sustentação das
pensões é amputada, a proteção reduz-se.
(…)
A Organização Internacional do Trabalho
defende, e bem, que todo o trabalho deve estar dentro dos sistemas de proteção
social.
(…)
[Se o Governo considerar] que o emprego
do futuro é amputado de direitos, individualizado, incerto e mal remunerado,
acabarão por nos propor um Sistema de Segurança Social miniaturizado.
(…)
Sempre que é insinuada a
insustentabilidade, a Direita retrógrada e o lobby do sistema financeiro agitam
os tentáculos: cheira-lhes a amplo campo de negócio.
Portugal
tem relações diplomáticas com muitas ditaduras, porque são as relações
Estado a Estado cuja natureza não implica um julgamento das suas instituições,
dos seus actos internos, do carácter do seu regime político.
(…)
É
suposto haver um banimento de qualquer relação entre Estados, quando a própria
existência de relações diplomáticas significa a aceitação de circunstâncias
particularmente gravosas no âmbito do direito internacional.
(…)
Mas o
mais grave é permitir a impregnação vinda de fora para dentro, aceitar
restrições e limitações à liberdade, a começar pela liberdade de expressão,
para não “irritar” ditaduras e países que violam os direitos humanos.
(…)
A
realização do campeonato no Qatar é mais uma das histórias de corrupção em que
o futebol abunda, com votos comprados para garantir uma escolha
que nunca devia ter sido feita.
(…)
[A questão do Mundial no Qatar é] permitir
um apoio e dar uma caução a um país onde a violação dos mais elementares
direitos humanos está inscrita na lei.
(…)
[Os que lá vão] põem o futebol acima da democracia, dos
direitos humanos, da decência.
(…)
Seja
quem for que vá ao Qatar não me venha depois indignar-se com a violência sobre
as mulheres, só para dar um exemplo.
(…)
A
corrida para ir ao Qatar de toda a hierarquia do Estado, em nome de “Portugal”
por causa da selecção, é mais um sinal de como o futebol tem um estatuto de
impunidade cívica.
(…)
Este
não é o meu Portugal, é outra coisa, é a delegação nacional do Qatar feita por
portugueses. Isto vai acabar muito mal.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
No
Qatar, a homossexualidade é proibida. As pessoas LGBTQI+ são vítimas de maus
tratos, tortura e detenções arbitrárias pelas forças de autoridade.
(…)
Se o
Qatar é o que é, a FIFA não é melhor. O
Mundial foi atribuído através de luvas pagas aos responsáveis com
direito de voto, que já deram origem a vários processos judiciais.
(…)
Na sua
infinita hipocrisia, a FIFA afirma que está a trabalhar com organizações locais
para promover os direitos dos trabalhadores, mas, quando confrontado com o
número de mortes, o seu presidente papagueou a estatística oficial do governo
do Qatar.
(…)
De tão
preocupada, não responde ao apelo da Amnistia
Internacional, que, junto com várias ONG, anda há seis meses a pedir uma
compensação para os trabalhadores incapacitados e para as famílias dos mortos.
(…)
A FIFA
deverá ganhar seis mil milhões com o campeonato. A AI está a pedir 400 milhões
para os mortos e estropiados. E eles não aparecem.
(…)
A Carbon Market Watch,
um think-tank
ambiental que trabalha, entre outros, para a Comissão Europeia, avisou que a
neutralidade carbónica reivindicada pela organização do Qatar 2022 é “rebuscada
e espúria”.
(…)
E depois há a jactância dos estádios climatizados. Se
argumentos faltassem.
(…)
A sua [de
Marcelo, Costa e santos Silva] viagem ao Qatar legitima a lavagem desta
monarquia arcaica e repressiva, em nosso nome. Se não têm eles vergonha, pensem
na nossa e fiquem em casa.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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