(…)
Se me
permitem a extrapolação, a facilidade com que o Catar comprou o Mundial também
explica por que não vai haver uma comissão de inquérito sobre o caso
Costa-Costa.
(…)
A raiz
destes poderes é dinheiro que não se quer mostrar, nem num caso nem no outro.
(…)
A FIFA
tem mais membros do que a ONU e receberá 4,5 mil milhões de dólares por estes
direitos televisivos.
(…)
É uma
sociedade financeira e um poder político que verga Governos.
(…)
Enfunado
por esse sucesso, navegou até aqui por entre escândalos sucessivos.
(…)
O que
o caso desta semana indica é que o mesmo se terá passado com o Catar [no que
diz respeito a suspeitas de corrupção].
(…)
Em
2015, sete executivos da FIFA foram acusados pela justiça norte-americana e
detidos na Suíça.
(…)
[Blatter]
só meses mais tarde viria a ser suspenso.
(…)
Entretanto,
dos 50 acusados nos EUA por corrupção no futebol 27 já se declararam culpados.
(…)
[Entretanto]
a bola roda no relvado, [e] os nossos governantes vão-se fazer filmar nos
estádios.
(…)
Separemos
então, por um segundo, estes casos de corrupção da chuva de dinheiro em que
medram.
(…)
Olhemos
então para as condições que protegem os poderes financeiros das regras da
responsabilidade: um bom caso de estudo é o capital angolano em Portugal.
(…)
Abuso,
disseram alguns a propósito do telefonema entre o primeiro-ministro e o
governador do Banco de Portugal sobre Isabel dos Santos.
(…)
Houve
mesmo quem propusesse uma comissão de inquérito.
(…)
Teve
então o PSD um assomo de prudência e evitara a comissão, pois percebeu que,
defunta a acareação impossível, ficaria destapado o ninho de vespas.
(…)
Nenhum
desses partidos quer as respostas, nem sequer as perguntas que se fariam sobre
Isabel dos Santos.
(…)
O
facto é que ela nunca foi questionada até ao fim do poder do seu pai e à
explosão do Luanda Leaks.
(…)
É
curioso que agora o ex-governador alegue reservas que nunca impediram esta
pesada presença acionista em grande parte da banca portuguesa.
(…)
Proença
de Carvalho garantia que “não é por ser filha do Presidente que Isabel dos
Santos teve o sucesso que está a ter”.
(…)
A
relação era tão estreita que um primeiro-ministro em exercício [de uma
coligação de direita em Portugal] esteve no casamento de uma das filhas de
Eduardo dos Santos.
(…)
Dois
ex-ministros dos Negócios Estrangeiros foram contratados por interesses
angolanos.
(…)
Na
Assembleia-Geral da Fundação Eduardo dos Santos estavam todas as grandes
empresas de construção.
(…)
Quando
Manuel Vicente foi investigado pela justiça portuguesa, o ministro Rui Machete
foi a Luanda pedir desculpa.
(…)
Acha
mesmo que vai haver algum inquérito que pergunte por onde andou o dinheiro
nesta novela?
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O pontapé de saída para o Mundial nunca será dado num jogo inaugural, por
menos bafienta que a cerimónia de abertura se revele ao Mundo.
(…)
O verdadeiro pontapé de saída português
só aconteceu frente ao Gana e durou uma eternidade em bocejo e ansiedade.
(…)
Jogámos quase nada mas, enfim, esqueçamos
isto.
(…)
A teoria do
"agora-não-interessa" formulada pelo presidente da República não foi
partilhada pelas autoridades cataris que, rezam as notícias, terão chamado o
embaixador português no país.
(…)
O puxão de orelhas diplomático poderia
ter o sortilégio de encontrar políticos portugueses em trânsito, obrigando-os a
reconsiderar a vontade de assistir ao primeiro jogo da selecção, desse por onde
desse.
(…)
Ainda que, pela presença, [algum
político] caucione positivamente as violações dos direitos humanos no emirado,
que vão muito para além de uma mera questão de costumes.
(…)
A ideia de que se vai confrontar o
anfitrião com as notícias sobre a sua própria tirania são muito auspiciosas,
mas ficam reféns de concretização.
(…)
Se já é questionável a realização de
visitas oficiais das mais altas autoridades da nação a países ditatoriais, nada
consegue defender a necessidade da sua presença no exercício lúdico de torcer
por Portugal nas bancadas de um jogo de futebol.
É verdadeiramente vergonhoso – e indesculpável – que
anualmente nos juntemos para assinalarmos um dia pela Violência Contra as
Mulheres.
(…)
Nos primeiros onze meses deste ano foram assassinadas 28
mulheres, ultrapassando as 16 vítimas de todo o ano de 2021.
(…)
Estes números dizem-nos, com toda a arrepiante frieza da
morte, que este fenómeno não está a desaparecer – pelo contrário.
(…)
Não existem desculpas para um horror que não tem atenuante
possível.
(…)
Sendo
a nossa sociedade voltada para o valor e para o lucro, vários são os estudos
que medem os prejuízos económicos das mulheres trabalhadoras vítimas de
violência doméstica.
(…)
E na
contabilidade do deve e do haver, os empregadores são incentivados a tomar
medidas de apoio e auxílio às vítimas.
(…)
Mas
nós, enquanto mulheres e sindicalistas, temos obrigação de alertar, também,
para os ambientes de trabalho nocivos, onde as trabalhadoras são vítimas de
violência e assédio sexual e moral.
(…)
Este é
um tipo de violência mais despercebido aos olhos da sociedade, que
insidiosamente se infiltra nos locais de trabalho e raramente é denunciado
porque as vítimas têm receio de represálias, que muitas vezes terminam em
despedimento.
(…)
Apesar
da força da legislação, muitas mulheres sofrem de abuso físico e moral no seu
local de trabalho, seja pelo empregador, pelo chefe ou pelos colegas.
(…)
São demasiados os exemplos da degradação a que as mulheres
são sujeitas, apenas porque são mulheres.
(…)
E nós,
mulheres e sindicalistas, temos, mais do que o direito, o dever de lutar para
interromper este círculo vicioso que se perpetua apesar da evolução das regras
sociais, da lei, da educação.
(…)
Nesta
data simbólica, em que se assinala o Dia Internacional pela Eliminação da
Violência contra as Mulheres, o nosso voto solidário vai, obviamente, para
todas as mulheres vítimas.
(…)
Não
baixaremos os braços e só descansaremos quando este dia deixar de ter sentido.
Cristina Trony, “Público” (sem link)
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