sexta-feira, 28 de julho de 2023

CITAÇÕES

 
O protagonista da campanha eleitoral [em Espanha] foi o medo.

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Ora, o medo pode vencer, mas não sabe governar. 

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O uso do medo é naturalmente um subproduto da aceleração emocional.

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É nele que se especializam os criadores da política gasosa. Vai prosperar.

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Para estudar esse vazio, dois cientistas, Bjorn Bremer e Kine Rennwald, do Max Planck Institute e da Universidade de Genebra, publicaram há dois meses um estudo sobre evolução do mapa eleitoral em 18 países europeus entre 1945 e 2021.

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O que Bremer e Rennwald fizeram foi olhar para os seus dados e inquirir sobre as razões deste desgaste [dos partidos sociais-democratas], perguntando se alguém ainda gosta da social-democracia.

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Em 20 anos o apoio do centro baixou de cerca de 30% para cerca de 20%.

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Ao passo que as esquerdas subiram alguma coisa, ficando acima dos 10% desde a crise financeira de 2008.

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Por detrás destes dados, no entanto, descobre-se uma mutação ameaçadora.

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Desde que se virou para a “terceira via” nos anos 1990, os partidos sociais-democratas consolidaram as suas referências estratégicas numa combinação de liberalismo económico com um discurso benfeitor e atenuante das dificuldades que assim aceleravam.

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A contradição já vinha de trás: na década anterior, Mitterrand tinha nacionalizado todo o sector financeiro e os sete principais grupos industriais, para logo desfazer essa investida e se conformar com as regras de mercado.

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Foram governos sociais-democratas que paraconstitucionalizaram as regras liberais na União Europeia.

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Alienou o apoio dos operários empobrecidos, que são “desmobilizados”, nos termos dos nossos dois autores.

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[O apoio da classe média] é um apoio instável, gere interesses e, cá está, flutua com os medos.

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Dois desses medos são a guerra e a imigração.

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Esta, tão necessária, é usada pela extrema-direita para criar uma identidade nacional racista.

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A invasão da Ucrânia desfez partes da esquerda e levou o centro a desistir de um projeto energético europeu e a alinhar-se com os falcões norte-americanos. O medo, mais uma vez.

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A conclusão espanhola parece evidente: o medo é uma força eleitoral.

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Há sempre mais medo depois do medo.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Já se começava a desvendar na minha cabeça que o novo filme sobre a Barbie não era estritamente sobre a boneca que habita a nossa imaginação colectiva, mas sim sobre as ideias ancoradas a essa boneca.

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Greta Gerwig propõe-se a iluminar-nos esse caminho, e a traçar indelevelmente o que significa ser Barbie.

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Acabo por discordar de muitas das críticas feitas ao filme, sentindo que não estão realmente a descortinar a teleologia do filme.

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Por um lado, vejo as críticas masculinas reaccionárias, de se tratar de um filme com um discurso woke e que quer destruir a masculinidade.

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Do outro lado, vejo homens progressistas que se desiludiram com a forma superficial, típica do feminismo liberal, com que é abordada a questão.

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A Barbie, nos termos da Greta Gerwig, recusa-se a seguir os cânones do cinema mainstream, que impinge uma doutrina feminista cansada: o feminismo é sermos todos iguais, palavras vazias e coniventes com o mesmo sistema que nos oprime.

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Mas também se recusa a seguir os cânones da contracorrente, que obriga as mulheres a tornarem-se os mártires da sua própria condição, condenando-as a carregarem uma cruz.

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[O filme vem] descrever a feminilidade através do female gaze (olhar feminino, em português).

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A Barbie decide ser humana, aceitando que, com essa condição, venham também as adversidades da vida real, mas também a felicidade de sentir conexões reais.

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Não conseguimos uma revolução feminista porque não temos uma linguagem que defina a sociedade que queremos criar. 

Isabel Lobo, “Público” (sem link)

 

A extrema-direita enche de perdigotos malsãos tudo à sua volta, arremete contra os mais fracos, confunde má educação com frontalidade, mas quando os resultados da democracia, cujos mecanismos, usa em seu proveito, não são os esperados, recorre ao discurso do perseguido.

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Santiago Abascal não falhou na noite eleitoral de domingo (…), recorreu à perseguição, que o resultado tinha sido heróico, porque todos estavam contra o Vox.

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Mesmo os meios de comunicação social foram disso acusados, quando, em Espanha, como em Portugal, como noutros cantos da Europa, têm (temos), na verdade, contribuído para normalizar a imagem da extrema-direita.

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Em Espanha, o Vox (…) sabe, no entanto, que esta é apenas mais uma etapa da volta ao fascismo em bicicletadas políticas.

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 “Desta vez”, afirma Jesús González Pazos, activista político basco, em entrevista publicada pela agência Prensa Comunitaria, “a direita foi travada, a extrema-direita afundou-se em grande medida e as forças progressistas salvaram esta eleição”.

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No entanto, não se pode descansar, como se o trabalho estivesse feito, porque “o fascismo não se pode branquear, não se pode jogar com as suas cartas; ao fascismo é preciso combatê-lo sempre, em todos os lugares”.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

Claro que [o filme] Lightyear, de Angus MacLane, o spin-off feito a partir da personagem do astronauta de brinquedo Buzz Lightyear de Toy Story, acabou por ser proibido no ano passado em diversos países muçulmanos.

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Agora, o mesmo aconteceu na localidade espanhola de Bezana, na Cantábria [pela mão do vereador do VOX, Javier Ruiz].

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Como uma das suas primeiras medidas, o vereador Javier Ruiz retirou o filme da programação do Cine de Verano.

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[Perante esta medida], na quarta-feira, junto à câmara de Santa Cruz de Bezana, meio milhar de pessoas, muitas delas do mesmo sexo, desataram a beijar-se desalmadamente como se disso dependesse o futuro de Espanha.

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Ao invés do chocho de Lightyear, frente à câmara de Bezana houve uma bebedeira de beijos lânguidos, com e sem língua, lésbicos, gays, heterossexuais e até em trio.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

Ainda hoje, no programa político que levou a sufrágio das urnas no domingo [a Falange Espanhola, um partido político fascista fundado em 1933] defende o regresso à Espanha que havia antes da Constituição de 1978, ou seja, a da ditadura de Franco.

António Rodrigues, “Público” (sem link)


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