quinta-feira, 24 de outubro de 2024

CITAÇÕES À QUARTA (126)

 
Já aqui escrevi, mais do que uma vez, sobre esta trôpega tentativa de querer equiparar o 25 de Abril ao 25 de Novembro.

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Não é por acaso que não há festa popular no 25 de Novembro e ela tem uma inédita persistência e dimensão de protesto e ausência de tutela oficial, no 25 de Abril.

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Os excessos posteriores ao 25 de Abril, sobretudo durante o PREC, eram inevitáveis depois de meio século de ditadura.

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O respeito que o poder político tem pelo direito à manifestação é um exemplo quase sem paralelo na Europa. 

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Uma das poucas áreas intocadas por Abril foi a Justiça e ainda hoje pagamos essa fatura.

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25 de Novembro foi necessário perante um processo revolucionário que não só se estava a afunilar numa vanguarda minoritária e cada vez mais isolada do país.

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O 25 de Novembro, não sendo uma data popular e não estando no centro das autobiografias dos seus próprios autores (…), faz parte do processo de democratização.

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Ainda assim, equiparar o 25 de Novembro ao 25 de Abril é absurdo. O 25 de Abril é uma data fundadora. 

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Nessa data fundadora, incluem-se, como é habitual nestes processos, outras tantas, onde se encontram todas as contradições de processos conturbados.

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[No 25 de Abril] estão contidos todos os passos da construção da nossa democracia constitucional.

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Parte dos derrotados do 25 de Novembro quer reconquistar a data que perdeu.

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Foram [derrotados] os que desejavam iniciar uma revanche e um recuo democrático, ilegalizando partidos e perseguindo parte da esquerda.

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Esta equiparação absurda pretende dar a parte da direita (…) um papel que ela não teve.

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O principal [objetivo] é, equiparando meio século de ditadura a uns meses de PREC, equiparar os representantes desses momentos históricos.

Daniel Oliveira, “Expresso” online

 

Eu venho de uma família de classe média e pude dar-me ao luxo de não querer saber de política até bastante tarde na vida.

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Aquela noite, em Outubro de 2016, foi na minha primeira missão [de resgate no Mediterrâneo] e mudou-me para sempre. Tinha 24 anos.

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Como é que a União Europeia podia deixar morrer crianças às suas portas? Por que razão o berço da Declaração Universal dos Direitos Humanos parecia não querer saber se o mar à sua volta se tornava num cemitério?

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[Este texto é] sobre o que nos acontece depois de testemunharmos um acontecimento que faz estremecer os alicerces da visão que tínhamos do mundo. É sobre como nos radicalizamos.

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O primeiro sentimento é necessariamente o desespero, o desamparo.

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Quer nos demos conta quer não, usamos o horror daquilo que vimos como ponto de partida para articular o mundo.

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A responsabilidade de se justificar recai sempre sobre quem vê as coisas de maneira diferente da maioria.

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O fardo dos radicais é o ónus da prova.

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Não será precisamente isto que está a acontecer com milhões de pessoas em todo o mundo ao testemunharem o genocídio em Gaza?

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Todas as manifestações, todas as ocupações de universidades, todas as vigílias, greves e sabotagens estão a dizer para que se oiça bem: “Isto é inaceitável”.

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É que nós não vivemos num continente de valores liberais.

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O preço a pagar para mantermos essa imagem de nós mesmos [de defesa de valores liberais] é considerarmos colectivamente que aquilo, na verdade, não era bem gente.
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Nós, europeus, vivemos tão imersos na nossa ilusão que rejeitamos críticas ao colonialismo dizendo que não se pode julgar o passado com os valores do presente.

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Nem damos conta de que, se insinuarmos que a escravatura se harmonizava com os valores das pessoas do passado, somos obrigados a manter que os escravos não eram pessoas.

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[Os povos colonizados] viam pela sua própria experiência quotidiana que os princípios liberais não se lhes aplicavam.

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As revoluções anticoloniais do século passado, bem como as dezenas de milhares de mortes completamente evitáveis no Mediterrâneo deram-nos inúmeras oportunidades de nos libertarmos das amarras da nossa ilusão colectiva.

Miguel Duarte, “Público” (sem link)

 

Mais uma vez, a questão sobre aquilo que deve ser ou não a disciplina de Cidadania veio à tona, desta vez puxada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro

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Desta feita, foram propostas transformações a esta disciplina que a libertassem das “amarras ideológicas” que a envolvem.

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O mais interessante das iniciativas políticas, quando desejam ficar bem na fotografia, é que se tornam mais populistas do que baseadas em factos rigorosos produzidos e debatidos no seio da comunidade científica.

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A reavaliação do currículo da Cidadania é uma decisão sempre indissociável de uma reconsideração do que é ser cidadão, do perfil que um cidadão deve ter.

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Contudo, como sabemos, o problema não está aí: como sempre, está nas questões de sexualidade.

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Nada mais absurdo do que acreditar que a escola pretende ou está a realizar tal prática quando a orientação sexual é uma predisposição biológica.

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[Para o Governo é preferível uma alargada ignorância em áreas fundamentais das nossas vidas] a cada um ser livre na exploração e expressão da sua sexualidade.

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Para quem se tem debatido por virar a página socialista e por diminuir a imposição do Estado na vida das pessoas, espero que neste momento tenha consciência de que uma revisão da disciplina da Cidadania que oculte ou exclua algumas realidades e beneficie outras (…) é uma enorme ingerência estatal no que os cidadãos fazem.

Leonardo Camargo Ferreira, “Público” (sem link)


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