(…)
Traduzindo por miúdos, o que antes resultava da decisão maioritária de condóminos sobre o destino do prédio onde vivem, torna-se num
imbróglio legal.
(…)
Quem comprou uma casa, pensando que o estava a fazer num
prédio de uso habitacional, fica de mãos atadas se o andar de baixo e a casa em
frente se transformarem numa porta giratória com gente a entrar e sair às
tantas da manhã.
(…)
O direito à propriedade, tantas vezes citado pela direita,
acaba quando há hipótese de outros investidores lucrarem com ela.
(…)
É a financeirização total da habitação.
(…)
Montenegro vem abrir portas à entrada de um sem número de
processos, tentando resolver nos tribunais o que devia resultar do bom-senso do legislador.
(…)
Agora não estamos a falar de casas vazias para especulação,
mas de quem apenas pretende dormir e descansar em paz na casa onde vive e vê
esse direito ameaçado por uma alteração legislativa.
(…)
Só na cidade de Lisboa, há cinquenta mil casas vazias.
(…)
Como diz Alda Botelho Azevedo, mais do que de casas precisamos de reabilitação e de uma política pública
que regule o seu uso.
(…)
Isto não acontece apenas em Lisboa ou em Portugal. Em
Espanha, país que viu gigantescas manifestações pelo direito à habitação este
mês, uma em cada sete casas está vazia.
(…)
Apenas 29% dos espanhóis com menos de 30 anos vivem fora de
casa dos pais, metade dos que o faziam há 15 anos.
(…)
A ideia que basta construir mais casas para baixar os preços,
sem uma política que regule o mercado habitacional, esbarra com a dureza de
números.
(…)
Precisamos de nova construção (sobretudo para oferta
pública), mas se ela não for acompanhada de medidas que regulem o mercado, vale
de pouco.
(…)
Com este decreto-lei cai também a suspensão em vigor de novas licenças de alojamento local em onze
freguesias de Lisboa.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
No ano
em que se comemoram os 50 anos do ato revolucionário que derrubou a ditadura em
Portugal, por que razão a história do acontecimento mais importante da era
contemporânea portuguesa continua a ser esparsa, frágil e pouco aprofundada?
(…)
Mas,
entretanto, o que sabe, na verdade, a maioria dos portugueses sobre os
acontecimentos que se sucederam ao dia 25 de Abril de 1974? O que aprendem os
jovens sobre esta matéria? Suspeito que quase nada.
(…)
Entre
o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975 aconteceu muita coisa no país,
e as duas datas, colocadas agora em igualdade de simbolismo, revela uma
necessidade de afirmação ideológica, no mínimo bizarra.
(…)
A
confusão ideológica, que também é histórica, tem-se exacerbado nos últimos
tempos, porque dá muito jeito, no atual quadro político, posicionar o Chega e o
Bloco de Esquerda como blocos opostos, mas semelhantes no seu extremismo.
(…)
A
ditadura do proletariado nunca se cumpriu, e o proletariado já lá vai como
consciência de classe. Descansem os corações, nenhuma revolução virá desse
lado.
(…)
A história da Revolução de Abril (…)está, obviamente,
recheada de peripécias, de lutas e compromissos ideológicos, que espelham a
fragilidade dos seus primeiros momentos.
(…)
O
papão, ressequido e esvaziado, imoral e radical da extrema-esquerda, continua a
alimentar os espíritos mais atormentados pela falta de esclarecimento.
(…)
Não se pode instaurar a comemoração do “fim” de um processo
revolucionário (…) sem que a data que desencadeou esse processo
seja posta em causa.
(…)
O dia
25 de Abril foi, este ano, um exemplo de como as diferenças políticas podem
conviver sob o teto simbólico de uma Revolução, sem preconceitos ou terrores
imaginários.
Emília Tavares, “Público” (sem link)
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