(…)
O privilégio de aceder ao conhecimento é uma das divisões
mais silenciosas e persistentes da sociedade, escondida à vista de todos.
(…)
A desigualdade no acesso ao conhecimento, tal como a desigualdade
de riqueza, é uma divisão abrangente moldada por forças semelhantes, afetando a
sociedade de maneiras profundas, mas frequentemente negligenciadas.
(…)
O conhecimento
tem sido, há muito, reconhecido como um dos principais motores de mobilidade
social, inovação e progresso económico.
(…)
A ideia de Piketty sobre a acumulação de capital e a
concentração de riqueza entre poucos pode ser comparada à acumulação de capital
intelectual em instituições com recursos.
(…)
A analogia é clara: tal como a riqueza gera riqueza, o
conhecimento gera conhecimento.
(…)
Os gastos com Investigação e Desenvolvimento (I&D) estão
fortemente concentrados, com cerca de 10 países a representarem 75% do total
global.
(…)
Esta concentração distorce o panorama do conhecimento para
regiões com abundância de recursos, particularmente os Estados Unidos e a
China, que juntos representam cerca de 50% do investimento global em I&D
(Investigação e Desenvolvimento).
(…)
O modelo tradicional de publicação científica, de pagar para
ler, há muito que reflete esta desigualdade.
(…)
Esta barreira financeira restringe o fluxo de informação
científica para aqueles que mais dela precisam, reforçando a divisão global na
educação, ciência e inovação.
(…)
A publicação em
acesso aberto (OA, na sigla em inglês) desafia diretamente este status quo. Ao
tornar a investigação acessível a todos, independentemente da localização
geográfica ou capacidade financeira, o OA procura democratizar o acesso ao
conhecimento.
(…)
Além disso, o OA
permite que cientistas e académicos de todas as partes do mundo, incluindo
regiões com poucos recursos, participem na criação e partilha de conhecimento.
(…)
De forma semelhante, a ciência aberta (OS, na sigla em
inglês) promove estes ideais, incentivando a transparência, a colaboração e a
partilha de dados e métodos além-fronteiras.
(…)
Esta prática desloca a comunidade científica de um sistema
que privilegia a exclusividade para um que sistema que valoriza a inclusão e a
equidade.
(…)
Ao considerarmos as lições do trabalho de Piketty, torna-se
evidente que a luta contra a desigualdade deve ser travada em múltiplas frentes.
(…)
A desigualdade de
riqueza é uma preocupação urgente, mas também o é a distribuição desigual do
conhecimento.
(…)
Para a comunidade da ciência, recai sobre
nós a responsabilidade de apoiar e advogar pelo acesso aberto. É através destes
esforços que podemos contribuir para um mundo mais justo e equitativo, onde o
conhecimento, tal como a riqueza, deixa de ser um privilégio de poucos para se
tornar um direito de todos.
Rui Duarte, “diário as beiras”
Nos últimos
anos temos assistido a uma preocupante e crescente saída de enfermeiros do
Serviço Nacional de Saúde (SNS).
(…)
Para muitos
enfermeiros, o trabalho deixou de ser uma vocação e tornou-se uma fonte de
desgaste constante.
(…)
Não existe
uma preocupação institucional que promova incentivos claros para o
desenvolvimento dos seus profissionais.
(…)
A desmotivação
repercute-se nos dados do abandono da profissão. Muitos são aqueles que decidem
mudar de área ou emigrar para países onde as condições de trabalho são mais
atrativas e Portugal enfrenta um êxodo preocupante de enfermeiros.
(…)
Profissionais
qualificados deixam o país em busca de melhores condições de trabalho,
reconhecimento e qualidade de vida.
(…)
Em vez de
investir na retenção e valorização dos profissionais, as instituições
permanecem passivas, comprometendo o futuro da enfermagem no país.
(…)
Esta saída
de enfermeiros do SNS tem repercussões graves para os utentes e para o sistema
de saúde como um todo.
(…)
Não se trata
apenas de proteger os enfermeiros, mas sim assegurar o direito à saúde de todos
os portugueses.
(…)
Num momento
em que se discute o futuro do SNS, é imperativo lembrar que sem enfermeiros não
há cuidados de saúde de excelência.
(…)
Garantir que
os enfermeiros se sintam valorizados é, afinal, garantir um sistema de saúde
mais humano e eficiente para todos.
(…)
Em última
análise, abandonar os enfermeiros é abandonar a saúde e comprometer os pilares
do SNS.
Filipa Barata, “Diário de Coimbra” (sem link)
Apesar
da criação de áreas protegidas e de extensa legislação produzida, as atividades
humanas continuam a degradar e a destruir os espaços naturais.
(…)
Em
muitas regiões, as áreas protegidas são facilmente convertidas para uso
agrícola ou urbano.
(…)
A
tentação do lucro imediato supera muitas vezes os benefícios menos tangíveis e de
longo prazo da conservação.
(…)
Mesmo
em zonas com elevado estatuto de de proteção, uma gestão inadequada compromete
os esforços de conservação.
(…)
A
exploração ilegal de madeira, a caça furtiva e a falta de fiscalização
continuam a ser problemas em múltiplos contextos.
(…)
Com o
afastamento do mundo rural tende-se a subvalorizar os serviços dos
ecossistemas.
(…)
A
educação ambiental e a sensibilização são fundamentais para inverter esta tendência,
impondo-se mais literacia ecológica no currículo escolar e experiências diretas
na natureza.
(…)
As
alterações climáticas amplificam todos estes desafios, afetando os ecossistemas
e aumentando a pressão sobre os recursos naturais, como a água e os solos
aráveis.
(…)
A
proteção dos sumidouros de carbono, como as florestas e a s zonas húmidas, não só
preserva a biodiversidade, como também ajuda a regular o clima e a controlar as
inundações.
(…)
Os
mercados internacionais impulsionam a procura de recursos, e a perda de
biodiversidade tem impacto planetário.
(…)
A natureza
não é apenas um recurso; é o suporte da vida.
Helena Freitas, “Diário de Coimbra” (sem link)
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