(…)
O pano de fundo que hoje marca toda a vida coletiva no plano
mundial é um perigoso conflito entre o esbracejar de uma potência que se sente
em queda e “quer ser grande outra vez” - Estados Unidos da América - e a
agitação provocada pela emergência de uma outra potência que não pertence ao
Ocidente - a China.
(…)
A carga explosiva acumulada exige aos europeus e a todo o
Ocidente humildade e uma postura genuinamente democrática.
(…)
Os contributos dados pelos países europeus para o progresso
das sociedades foram reais, mas os outros não os reconhecerão se construímos
narrativas oportunistas ou mentirosas.
(…)
Não podemos apoiar ou condenar um beligerante em função de
ser ou não considerado nosso amigo.
(…)
A persistência em narrativas carentes de verdade e o estender
do tapete ao avanço das forças fascistas conduzirão a Europa para a sua velha
condição de palco permanente de guerras.
(…)
O execrável espetáculo que Luís Montenegro e o seu governo
deram ao país e ao Mundo, na passada quinta feira, no Martim Moniz, em
Lisboa (…) é uma prática fascista e arrastará graves prejuízos para o país e
para a imagem dos portugueses à escala global.
O turbilhão de acontecimentos que atinge a
Europa é deliberadamente ilegível, tal a intensidade de narrativas fabricadas,
encarniçadas contra a debilidade da verdade material.
(…)
Querer substituir a dureza dos factos pelas
opiniões convenientes, é receita certa para o desastre.
(…)
Biden, (…) resolve envolver-se diretamente no
conflito [da Ucrânia] (com o apoio de Londres), através do uso de mísseis
contra alvos na Rússia (…) arriscando generalizar a guerra.
(…)
O candidato que iria ganhar folgadamente a
segunda volta, Calin Georgescu, queria sair da guerra e travar a construção na
Roménia da maior base da NATO. Os protestos foram abafados, incluindo com
detenções…
(…)
A retórica humanista do Ocidente tem coabitado
com a perseguição a cidadãos que nos EUA, Alemanha e Reino Unido protestam
contra o genocídio e a violência extrema de Israel em todo o Médio Oriente.
(…)
O descontentamento popular com o empobrecimento
europeu, muito forte em Paris e Berlim, bate no muro blindado de uma ordem,
aparentemente, inamovível.
(…)
As verdades empíricas, os factos, são
apresentados como meras opiniões.
A
China tem hoje um dos programas espaciais mais activos do mundo e o objectivo é
ver os seus astronautas pisar a Lua em 2030.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A arte
dá a possibilidade de alguns se elevarem acima da sua pequenez biográfica, de
serem mais altos do que a sua estatura física; sobretudo, de nos mostrarem a
beleza quando a sordidez da humanidade nos faz esquecer o resto.
(…)
É
nestas alturas, quando nos sentimos a caminhar para o desastre, uma indignidade
atrás de outra, que a nossa fé mal direccionada para recompensas post mortem deveria prestar
atenção aos poetas e pôr de parte os seus biógrafos.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
“Visibilidade?” Certamente. De que há em
Portugal pessoas que vivem e trabalham e que não têm a cor certa, não têm a
religião certa, não vestem como nós, não têm os nossos costumes e que não falam
ou falam mal português.
(…)
E que, ao não ser isto tudo, dá “visibilidade” a que essa gente estranha é criminosa.
(…)
Pode-se
e deve-se falar de insegurança, real e de percepção, pode-se e deve-se falar de
emigração, legal e ilegal, sem vir logo com o anátema do Chega.
(…)
A esquerda esquece que muitos dos que sofrem
mais com a insegurança gerada (…) são os mais pobres, os mais
excluídos, os que vivem em bairros onde tudo é perigoso, para si mesmos e para
a sua família, os seus filhos em particular.
(…)
As
cidades estão cada vez mais agressivas, os transportes cada vez mais demorados,
as ruas com o caos do trânsito mais cansativas e perigosas.
(…)
Todos
dispõem hoje de instrumentos que destroem a sociabilidade, e são usados para o
controlo de proximidade, como os telemóveis.
(…)
A operação do Martim Moniz foi feita para este
mundo de insatisfação, ressentimento, culpabilidade dos outros, de medo.
(…)
No
caso das pessoas encostadas à parede na Rua do Benformoso, neste caso, o
Governo do PSD e CDS comportou-se como o Chega, em ideologia, em política, em
racismo e actuou
como o Chega.
(…)
Ora Chega já basta um.
(…)
Mas se
se quer falar de crimes, quando é que são encostados à parede os que vivem do
emprego ilegal, pagando salários de miséria, sem quaisquer direitos laborais.
(…)
[Também
há que encostar à parede] os que obrigam a trabalhar em condições extremas em
temperaturas altíssimas nas estufas, os que exploram esse proletariado da
bicicleta que atravessa as nossas cidades com mochilas de alimentos a qualquer
hora do dia ou da noite?
(…)
Desses emigrantes há muito quem goste porque
vive de os explorar.
(…)
Para
um partido como o PSD, cujo fundador unia duas influências dominantes, a da
doutrina social da Igreja e a da social-democracia europeia, é uma mancha de
vergonha.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Visto
do céu, o mundo é sem muros e sem fronteiras.
(…)
A preferência
ou a parcialidade por alguém em razão do seu nascimento, classe, qualidade ou
títulos é incompatível com uma visão adesão ou filiação cristã.
(…)
Donde,
por exemplo, as atuais políticas públicas de condicionamento, de limitação ou
de interdição do acesso de emigrantes ao SNS, e as práticas de concessão relâmpago
de residência e de nacionalidade (vistos gold) apenas a milionários, além de
eticamente insuportáveis, traduzem um modelo, de existir e de agir em
insuprível contravenção com o ditame evangélico.
Manuel Castelo Branco, “Diário de Coimbra” (sem link)
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