(…)
A empresa beneficiada com esta decisão era a
Mota-Engil.
(…)
O Parlamento, vigilante, exige a revogação da
decisão. Mas a maioria absoluta é do PS e o negócio avança, pelo menos até ao
segundo mandato de Sócrates.
(…)
Nestes debates, o PSD é implacável. Como é
possível avançar depois de o Tribunal de Contas sentenciar que as concessões
portuárias superiores a 30 anos são contrárias ao interesse público?
(…)
Saltamos agora até novembro de 2024. Mais de
uma década e meia depois, é pela mão do atual Governo que surge o prolongamento
do prazo legal das concessões dos portos de 30 para 75 anos.
(…)
Como se não fosse suficiente, uma alínea na lei
prevê ainda a extensão dos atuais contratos pelo mesmo prazo — sem concurso,
sem concorrência.
(…)
Desta vez, a lei assinada por Montenegro e
Pinto Luz passa completamente despercebida e merece apenas um aviso enigmático
na respetiva nota de promulgação.
(…)
Quando um contrato de concessão desprotege o
Estado, este pode ver-se na situação de ter ainda que reembolsar a empresa
concessionária no fim do prazo acordado.
(…)
Para não assumir esse custo, o governo pode ter
a tentação de compensar a empresa prolongando a concessão.
(…)
Vale a pena dizer que se contam pelos dedos de
uma mão as empresas que concentram a gestão dos principais portos portugueses.
(…)
Para a prorrogação destes contratos, sem transparência
e sem concurso, valem tanto as justificações de Montenegro-Pinto Luz hoje como
valiam as razões de Sócrates-Lino em 2008.
(…)
O único mistério por desvendar é a razão pela
qual mudou o PSD tão radicalmente de posição.
(…)
Uma coisa ficamos a saber esta semana: estas
não são as únicas concessões que o Governo pretende prolongar sem concurso.
(…)
Enquanto o Governo brinca às concessões, por
todo o país prosseguem, silenciosos, milhares de despedimentos coletivos nos
setores têxtil e automóvel.
(…)
Em Portugal, o centrão não planeia a economia.
Só planeia os negócios dos donos da economia.
Mariana Mortágua, “Expresso”
(sem link)
Nos três anos em que Thompson esteve à frente
da UnitedHealthcare, os lucros da empresa cresceram 5000 milhões de dólares.
(…)
Com a ajuda de um algoritmo, duplicou a taxa de
recusa para cuidados pós-agudos e expulsou doentes e deficientes de lares de
idosos e tratamentos de reabilitação.
(…)
Três em cada dez segurados viram os seus
tratamentos recusados, um registo sem comparação no sector.
(…)
A família média americana pagou, no ano
passado, 24 mil dólares por um plano privado de saúde.
(…)
O dobro dos principais países industrializados
e com piores indicadores em quase todos os registos.
(…)
Num país fraturado, a revolta com um sistema de
saúde disfuncional une, de forma transversal, milhões de americanos.
(…)
E, ainda assim, os gritos contra a “medicina
socialista” e as campanhas das farmacêuticas conseguem derrubar cada tentativa
de reforma que o aproxime de uma cobertura universal.
(…)
Num país que deixa 70 mil pessoas morrerem,
todos os anos, sem tratamento, e milhões sem cobertura de saúde para a qual
pagam como ninguém.
(…)
Os vencedores da economia da indignação são os
que defendem a desregulação da saúde e a sua tutela monopolista por grandes
empórios empresariais.
(…)
Sem mecanismos de mediação política, resta a
indignação inconsequente e a violência performativa que empurra as democracias
para becos sem saída.
(…)
Imaginem que a raiva a tudo o que Brian
Thompson representava, que os aplausos imorais a Mangione revelaram, servia
para eleger quem construísse um sistema de saúde universal.
(…)
Veja-se, noutra escala e consequências, como um
suposto turismo de saúde matou a discussão sobre a privatização das USF, que
poderão escolher os seus pacientes.
(…)
E como são os mesmos que vão dando passos para
a privatização do SNS a convencerem-nos que estamos a ser invadidos por
americanos em fuga de um sistema privatizado.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
A narrativa anti-imigração ganhou força pela
colagem do centro-direita ao discurso maniqueísta da extrema-direita.
(…)
A presença massiva de armas é, habitualmente,
uma das mais fortes razões que sustentam a autorização judicial destas
operações policiais [como a que levou à decisão de fazer uma “operação especial
preventiva” no Martim Moniz, em Lisboa].
(…)
Falar em prevenção numa operação deste calibre,
onde dezenas de pessoas são encostadas à parede pelo lugar, pela desconfiança e
pela cor da pele, é um atestado inqualificável de como fazer tudo ao
contrário.
(…)
Um protótipo de racismo de Estado, pelo que
obsceno é pouco.
(…)
O efeito dissuasor é muitíssimo questionável,
sobretudo porque se percebe que há uma tentativa de criar uma história que
acaba por se consubstanciar em muito pouco.
(…)
E assim chegamos a um balanço provisório da
Polícia onde constam alguns artigos contrafeitos, 4600 euros em numerário
e um detido português por posse de arma branca e droga.
(…)
Sem menosprezar a necessidade de regular e
criar policiamento de proximidade em zonas críticas, a operação do Martim Moniz
é tudo o que não se deve fazer.
Temos o principal eixo da União Europeia
magnetizado para a direita.
(…)
Vemos que o galo dos ventos, no topo da
geopolítica mundial, aponta na direcção dos autoritarismos.
(…)
Apesar
da “deterioração alarmante dos direitos humanos no país”, como diz a directora
executiva da Amnistia Internacional Argentina, Mariela Belski, incluindo
o mais básico que é o da sobrevivência: mais de metade dos argentinos vive hoje
abaixo do limiar da pobreza, 15 milhões deles em resultado das políticas deste
governo.
(…)
A
pulsão de morte domina política e socialmente o mundo e a imagem do
autodenominado “anarco-capitalista” (marioneta excêntrica ao serviço das mesmas
elites de sempre.
(…)
[Os ricos] enriquecem no caos e consolidam o
poder com a “sua” ordem.
António Rodrigues, “Público”
(sem link)
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