quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

CITAÇÕES À QUARTA (135)

 
O mercado de créditos de carbono, como o Mercado Voluntário de Carbono que recentemente o Governo aprovou, é um sistema de compensação que “supostamente” permite reduzir a pegada carbónica.

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Muitos países fazem depender a sua meta de neutralidade carbónica da compensação de carbono e da capacidade de absorção das suas florestas, que compensam as emissões que não conseguem reduzir.

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Empresas, instituições e cidadãos pagam pela plantação de árvores que irão absorver carbono da atmosfera em quantidade equivalente às emissões que desejam compensar (offsets).

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Será que há, de facto, uma redução de emissões com o sistema de compensação? Não, não há.

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O máximo que se consegue, caso as árvores sejam mesmo plantadas e não morram, não sequem ou não ardam, é uma neutralização parcial das emissões, compensadas pela captura adicional de carbono atmosférico.

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Mas as emissões não diminuem.

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Pelo contrário, as emissões tendem a aumentar.

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O sistema de compensação dá a sensação de que o problema fica resolvido.

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Salvo quando as notícias nos lembram de que as alterações climáticas continuam aí e cada vez mais intensas.

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O dióxido de carbono na atmosfera não pára de aumentar, tal como a temperatura média global, que as catástrofes climáticas continuam a aumentar com consequências cada vez mais graves.

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A analogia atrás referida sobre o significado real do sistema de compensação de carbono relata uma situação hipotética em que alguém nos paga para sermos vegetarianos, de forma a poder comer mais carne de vaca.

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O excesso de emissões associado à produção de carne bovina que come é compensado pela redução das emissões associadas à nossa dieta vegetariana.

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A esta analogia extraordinária podemos acrescentar outras [como por exemplo]: o meu amigo paga-me para eu andar de transportes públicos e fazer férias em parques de campismo, para ele poder viajar de avião e ir de férias às Caraíbas, a Bali, às Seicheles e ir visitar o Machu Picchu.

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O meu amigo é muito amigo do ambiente, pois com todas as medidas de compensação de carbono consegue a sua neutralidade carbónica, já que as compensações anulam as suas emissões.

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Como não uso nenhum sistema de compensação de carbono, eu sou o emissor-poluidor e ele é verde, ele é sustentável e grande amigo do ambiente.

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Contudo, na prática, eu já vou um a dois dias por semana de bicicleta de casa para o trabalho (…) já viajo o mínimo de avião (…) já sou quase vegetariano (…) compro muito pouca roupa e até aceito roupa usada (…)  sou pouco consumista (…) reparo tudo o que me é possível reparar e envio tudo o resto para reciclar (…) até tomo banho de água fria da Primavera ao Outono.

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Se já faço tudo isto e tenciono fazer ainda mais para reduzir a minha pegada de carbono, porque é que o meu amigo me quer pagar? Não precisa, eu faço-o na mesma.

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Não deveria ele fazer esforço idêntico? E assim, juntos emitiríamos muito menos.

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Na prática, com o seu método de redução da pegada de carbono, através das compensações e depois das contas bem-feitas, o resultado não dá “resto zero”.

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Na prática, e mesmo com este grande esforço, não consigo reduzir abaixo das 3,2 toneladas anuais de dióxido de carbono (minha estimativa)

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Mesmo assim, [será] muito superior às actuais emissões anuais per capita de Guiné-Bissau, de 140 quilos ao ano.

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Se fizesse como o meu amigo, eu compraria créditos de carbono, pagaria compensações no mercado voluntário de carbono e, por fim, conseguiria a minha neutralidade antes de 2050, com muito menor esforço e sem me preocupar. E a sustentabilidade do planeta, como ficaria?

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Há um grande número de empresas à espera deste mercado de carbono.

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Governos e multinacionais estão a fazer pressão para que se dependa cada vez mais deste “negócio” das compensações de carbono e menos da redução efectiva de emissões.

Carlos Antunes, “Público” (sem link)

 

Quais são os municípios em que se esgotaram os terrenos destinados à construção de habitação e nos quais existe falta de habitação para responder quer às necessidades de realojamento das famílias, em situação de indignidade habitacional, quer à procura de arrendamento acessível?

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Nos municípios sujeitos a maior pressão urbanística e/ou com maior aumento dos preços da habitação, quais são os que já esgotaram os solos disponíveis para habitação situados nos seus perímetros urbanos?

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Como consequência da aplicação da Nova Lei de Solos em 2014, protelada através de sucessivas alterações legislativas, quantos milhares de hectares de solos urbanizáveis passaram a rústicos e em que municípios?

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Que experiência internacional valida a tese de que a liberalização do processo de classificação do uso do solo concorre para uma efectiva diminuição do preço do solo urbano e do preço final da habitação?

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Como já aqui referi, a propósito da intenção liberalizadora presente no Mais Habitação, em Portugal não há falta de terrenos para a construção de habitação que justifique uma decisão política desta natureza.

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Quantas centenas de milhares de habitantes é ainda possível alojar, na situação actual, dentro dos seus perímetros urbanos?

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Se analisarmos as Estratégias Locais de Habitação aprovadas em todos os concelhos da AML, verificamos que foram identificadas 37.381 famílias a viver em situação indigna nos 18 concelhos.

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Na AML há terrenos urbanos suficientes para alojar dignamente todas as famílias necessitadas e para construir todas as habitações necessárias para regular o mercado de arrendamento. Falta apenas vontade política.

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Por que razão, em muitos dos municípios nos quais se regista um aumento continuado dos preços da habitação, o investimento público em habitação foi nulo nas últimas duas décadas?

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Actuando numa lógica que concorre para a manutenção dos preços especulativos e que ignora as respostas necessárias – e possíveis, caso existisse vontade política – às necessidades das pessoas, das famílias e das empresas.

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A actual estratégia de neutralização da Lei de Solos favorece os interesses do sistema financeiro e dos especuladores, atraindo o capital estrangeiro, seja de que origem for.

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[O que agora se propõe] torna todo o território do país potencialmente urbanizável.

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O álibi das necessidades habitacionais é apenas isso, um álibi.

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Quantos milhares de fogos irão ser construídos com esta nova lei que antes não poderiam ser e onde? O Governo não sabe.

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Na verdade, ao concretizar esta alteração o Governo devolve ao urbanismo o seu imenso poder corruptor, praticado com esplendor antes da crise do imobiliário, com as consequências de todos conhecidas.

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Vamos ter a segunda edição dos “Donos disto Tudo” e da sua próspera corte de vassalos, desta vez com uma relevante “expressão territorial”.

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Como país somos incapazes de criar riqueza para todos.

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Mas criar ricos e muito ricos é mesmo a nossa especialidade.

José Carlos Guinote, “Público” (sem link)


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