sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

CITAÇÕES

 
Depois da imagem [de uma longuíssima rua do centro de Lisboa com imigrantes, até perder de vista, com as mãos encostadas à parede], os porta-vozes formais e informais do Governo passaram dias a mostrar-nos que, no passado, também houve operações no Martim Moniz.

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Só que uma operação supostamente preparada durante meses, mas que o Governo dissera ter sido calendarizada por instrução sua, resultou em duas facas apreendidas.

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Mas, acima de tudo, fingiu-se não perceber que aquela imagem só se tornou política porque o Governo andou, durante mês e meio, a fazer política com operações policiais.

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A operação foi marcada para o preciso momento em que se debatiam, no parlamento, restrições de acesso de estrangeiros ao SNS.

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Uma lei que também respondeu a uma agenda partidária.

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E quando se fazia uma operação na Cova da Moura, relacionada com os tumultos.

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Uma investigação em que o Governo se envolveu publicamente, com primeiro-ministro e ministros a anunciarem detenções de suspeitos.

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Foi o Governo que montou o cenário que torna aquela fotografia [ com imigrantes, até perder de vista, com as mãos encostadas à parede] assassina. 

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Depois de um mês de instrumentalização política da polícia, a imagem de uma rua inteira de inocentes encostados à parede seria inevitavelmente política.

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E a súbita tentativa de despolitizar o que andou a politizar, para tirar carga política àquela imagem, mostra que o Governo ainda acredita que pode nadar nas águas da extrema-direita e manter-se seco.

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Como mostra o Barómetro da Imigração da Fundação Francisco Manuel dos Santos, as perceções sobre a imigração resultam de fortes distorções da realidade.

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Pensam, em média, que os imigrantes correspondem a 30% da população residente (andam entre os 10% e 12%).

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Querem diminuir o número de pessoas vindas do subcontinente indiano, apesar de não corresponderem a mais de 9% dos imigrantes.

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Segundo o barómetro, estas opiniões são mais determinadas por convicções políticas prévias do que pela experiência vivida.

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Quem acabasse de aterrar em Portugal e visse os telejornais não acreditaria que vivemos num dos países mais seguros do mundo e com menos imigrantes do que a média europeia. 

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Tudo parece invertido. 

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Porque um Governo de gente sem convicções aconselhada por agências de comunicação e concentrada na competição com o Chega se dedica a agravar esta absurda paranoia securitária e xenófoba. 

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

O discurso de Natal de Luís Montenegro não demonstra virtude por ignorar olimpicamente a realidade ou por abandonar a adesão ao argumento profundamente falacioso que associa imigração, violência e parasitismo. 

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Bastaria que traçasse como claras, de uma vez, as linhas que separam a sua argumentação da extrema-direita, a mesma que sempre aparece, como abutre à carne viva, quando sente que o PSD lhe dá a mão e lhe suaviza argumentos.

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[A retórica tóxica da extrema-direita] encontra bases sólidas nas medidas recentemente tomadas pelos partidos que apoiam o Governo, PSD e CDS-PP, ao excluírem do direito à saúde os imigrantes que estejam em vias de regularização.

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Com quase dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, dos quais 300 mil são crianças, com a s dificuldades sentidas no SNS e na educação.

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Exigia-se a Montenegro algo mais do que um discurso hábil. Este não é um Natal como os outros.

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Este era o momento para traçar distâncias e colocar o PSD na rota dos valores que sempre advogou.

Miguel Guedes, JN


Nunca a realidade impediu a extrema-direita de oferecer soluções erradas para problemas reais.

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A Alternativa para a Alemanha (AfD) vem propor políticas que se mostraram ineficazes em muitos lados para travar a crise demográfica que o país atravessa.

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Em 2023, pela primeira vez, desde 1960, o número de nascimentos na UE foi inferior a quatro milhões, na Alemanha desceu abaixo dos 700 mil (692.989), uma queda de 7%.

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Entre a diminuição real dos salários e acentuar das exigências profissionais, o aumento do custo de vida, a falta de acesso a habitação, a crise da saúde pública (…) os casais escolhem ter filhos mais tarde.

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E os incentivos aos casais para terem mais filhos, como o que propõe a AfD, revelaram-se ineficazes em quase todo o lado.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

Na sua habitual conferência de imprensa do Ano Novo, o raïs (chefe) da maioritariamente muçulmana República do Tartaristão, na Rússia, mostrou-se preocupado com a baixa natalidade no território.

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Há uma década nasciam 56 mil novos tártaros, número que baixou para os actuais 36 mil, uma queda acentuada apesar de todos os incentivos financeiros dados pela república aos casais.

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É por isso que pretende transformar o Tartaristão numa república da natalidade, um governo de encontros, tudo em prol do futuro.

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No Tartaristão, os tártaros são 53% dos 4 milhões de habitantes, os russos 30%, entre 70 nacionalidades diferentes, duas línguas oficiais (…) e duas religiões maioritárias.

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É provável que para Minnikhanov a taxa de natalidade seja o menor dos seus problemas daqui a uns anos.

António Rodrigues, “Público” (sem link)


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