(…)
Só que uma operação supostamente preparada durante meses, mas
que o Governo dissera ter sido calendarizada por instrução sua, resultou em
duas facas apreendidas.
(…)
Mas, acima de tudo, fingiu-se não perceber que aquela imagem
só se tornou política porque o Governo andou, durante mês e meio, a fazer
política com operações policiais.
(…)
A operação foi marcada para o preciso momento em que se
debatiam, no parlamento, restrições de acesso de estrangeiros ao SNS.
(…)
Uma lei que também respondeu a uma agenda partidária.
(…)
E quando se fazia uma operação na Cova da Moura, relacionada
com os tumultos.
(…)
Uma investigação em que o Governo se envolveu publicamente,
com primeiro-ministro e ministros a anunciarem detenções de suspeitos.
(…)
Foi o Governo que montou o cenário que torna aquela
fotografia [ com imigrantes, até perder de vista, com as mãos encostadas à
parede] assassina.
(…)
Depois de um mês de instrumentalização política da polícia, a
imagem de uma rua inteira de inocentes encostados à parede seria
inevitavelmente política.
(…)
E a súbita tentativa de despolitizar o que andou a politizar,
para tirar carga política àquela imagem, mostra que o Governo ainda acredita
que pode nadar nas águas da extrema-direita e manter-se seco.
(…)
Como mostra o Barómetro da Imigração da Fundação Francisco
Manuel dos Santos, as perceções sobre a imigração resultam de fortes distorções
da realidade.
(…)
Pensam, em média, que os imigrantes correspondem a 30% da
população residente (andam entre os 10% e 12%).
(…)
Querem diminuir o número de pessoas vindas do subcontinente
indiano, apesar de não corresponderem a mais de 9% dos imigrantes.
(…)
Segundo o barómetro, estas opiniões são mais determinadas por
convicções políticas prévias do que pela experiência vivida.
(…)
Quem acabasse de aterrar em Portugal e visse os telejornais
não acreditaria que vivemos num dos países mais seguros do mundo e com menos
imigrantes do que a média europeia.
(…)
Tudo parece invertido.
(…)
Porque um Governo de gente sem convicções aconselhada por
agências de comunicação e concentrada na competição com o Chega se dedica a
agravar esta absurda paranoia securitária e xenófoba.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O discurso de Natal de Luís Montenegro não demonstra virtude
por ignorar olimpicamente a realidade ou por abandonar a adesão ao argumento
profundamente falacioso que associa imigração, violência e parasitismo.
(…)
Bastaria que traçasse como claras, de uma vez, as linhas que
separam a sua argumentação da extrema-direita, a mesma que sempre aparece, como
abutre à carne viva, quando sente que o PSD lhe dá a mão e lhe suaviza
argumentos.
(…)
[A retórica tóxica da extrema-direita] encontra bases sólidas
nas medidas recentemente tomadas pelos partidos que apoiam o Governo, PSD e
CDS-PP, ao excluírem do direito à saúde os imigrantes que estejam em vias de
regularização.
(…)
Com quase dois milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da
pobreza, dos quais 300 mil são crianças, com a s dificuldades sentidas no SNS e
na educação.
(…)
Exigia-se a Montenegro algo mais do que um discurso hábil.
Este não é um Natal como os outros.
(…)
Este era o momento para traçar distâncias e colocar o PSD na
rota dos valores que sempre advogou.
Nunca a realidade impediu a extrema-direita de oferecer soluções
erradas para problemas reais.
(…)
A
Alternativa para a Alemanha (AfD) vem propor políticas que se mostraram
ineficazes em muitos lados para travar a crise demográfica que o país
atravessa.
(…)
Em
2023, pela primeira vez, desde 1960, o número de nascimentos na UE foi inferior
a quatro milhões, na Alemanha desceu abaixo dos 700 mil (692.989), uma queda de
7%.
(…)
Entre
a diminuição real dos salários e acentuar das exigências profissionais, o
aumento do custo de vida, a falta de acesso a habitação, a crise da saúde
pública (…) os casais escolhem ter filhos mais
tarde.
(…)
E os
incentivos aos casais para terem mais filhos, como o que propõe a AfD,
revelaram-se ineficazes em quase todo o lado.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Na sua
habitual conferência de imprensa do Ano Novo, o raïs (chefe) da maioritariamente muçulmana República
do Tartaristão, na Rússia, mostrou-se preocupado com a baixa natalidade no
território.
(…)
Há uma
década nasciam 56 mil novos tártaros, número que baixou para os actuais 36 mil,
uma queda acentuada apesar de todos os incentivos financeiros dados pela
república aos casais.
(…)
É por
isso que pretende transformar o Tartaristão numa república da natalidade, um
governo de encontros, tudo em prol do futuro.
(…)
No
Tartaristão, os tártaros são 53% dos 4 milhões de habitantes, os russos 30%,
entre 70 nacionalidades diferentes, duas línguas oficiais (…) e duas religiões maioritárias.
(…)
É provável que para Minnikhanov a taxa de
natalidade seja o menor dos seus problemas daqui a uns anos.
António Rodrigues, “Público”
(sem link)
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