(…)
Na
Califórnia as pessoas estão habituadas aos incêndios nas partes altas, nas
colinas e florestas, mas o que está a acontecer desde terça-feira é outra
coisa.
(…)
E o
mar está interditado, cheio de materiais tóxicos e detritos. O ar irrespirável.
O céu negro de fumo. O horizonte em fogo.
(…)
A água da torneira pode estar contaminada.
(…)
Chovem cinzas e detritos — até Las Vegas, a
centenas de quilómetros.
(…)
A Casa Eames não é uma mansão, mas muitas das
suas vizinhas são, ou eram.
(…)
E o
ainda-Presidente Joe Biden fez o que o povo esperava dele, cancelou a agenda no
estrangeiro, despachou bombeiros, soldados, todos os milhões federais
possíveis.
(…)
Com a
provável próxima almofada de oito mil milhões da venda de armas a Israel, que
foi o derradeiro adeus de Biden ao seu outro povo.
(…)
Quantos carros de bombeiros dá para comprar com
cada bomba largada em Gaza?
(…)
Enquanto
a expressão “desastre natural” se repetia na cobertura dos fogos, uma das vozes
a trazer o debate para as alterações
climáticas foi a de Daniel L. Swain, cientista da UCLA.
(…)
O que
está a acontecer agora, explica Swain, é uma oscilação cada vez mais rápida
entre extremos climáticos, aquilo que em inglês se chama “whiplash weather”, a
chicotada do tempo entre dilúvios e secas.
(…)
E isto
não só resulta das alterações climáticas, diz Swain, como será cada vez mais
intenso, com oscilações mais e mais abruptas entre dilúvios e incêndios. O
derreter dos pólos tem impacto nos ventos.
(…)
Ao
mesmo tempo que todas estas casas e estruturas ardidas estavam cheias de
materiais inflamáveis, derivados do petróleo, até literalmente à sola dos
sapatos.
(…)
Os fogos da Califórnia são uma espécie de última chamada sobre o que estamos a
fazer aqui na Terra.
(…)
Todos os combustíveis fósseis que continuam a ser queimados. Todos os
milionários que continuam a viver disso.
(…)
Um paraíso onde vivem muitos desses
milionários, ou quem os influencia, tem agora um vislumbre do inferno.
(…)
Dia 20 sai Biden, entra Trump, o negacionista
que não acredita nas alterações climáticas, mas acredita em anúncios do inferno.
(…)
Mas o facto é que ele entrou em 2025 a prometer
o inferno.
(…)
E não
deixa de ser irónico que o inferno, de facto, apareça, mas na costa oeste dos
Estados Unidos da América, e para dizer: não há planeta B.
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
Gente
ilustrada, com títulos académicos [americanos], cargos de responsabilidade em
empresas, apoiante de Trump, não só aceitava como repetia as mais absurdas
teorias conspirativas do próprio Trump, e dos seus propagandistas.
(…)
Muitas destas teorias conspirativas tinham
directa relação com as eleições e o conteúdo da campanha de Trump.
(…)
(…)
Uma das teorias mais absurdas associava o
número de abortos num estado com as tempestades ou com outros flagelos naturais.
(…)
Como é
possível? Não só é como se tornou um elemento essencial para se perceber o que
se está a passar na crise da democracia.
(…)
A
segunda pergunta, é se isto é apenas americano ou se é também português? E a
resposta é sim, também é português.
(…)
Ignorância
é a palavra-chave, não a ignorância antiga, a que vinha do analfabetismo e da
escassa escolaridade, e que tinha também uma variante a que hoje podíamos chamar
conspirativa.
(…)
Não se reconhece como ignorância, o que faz
toda a diferença, e considera-se um saber, um saber perseguido.
(…)
É uma ignorância que assenta em “enganados” e
por isso tem um forte componente agressivo.
(…)
O
forte conteúdo social e político desta forma de ignorância agressiva é
evidente, e o seu papel no populismo essencial.
(…)
Não precisa de um argumento racional basta-lhe
um meme.
(…)
O problema para a democracia, como aliás para
todas as instituições de mediação (…) é que muitos mecanismos
tecnológicos com forte impacto social estimulam essa ignorância.
(…)
Tudo o
que se passa com a emergência desta ignorância tem raízes na sociedade, no modo
da economia, naquilo que antigamente se chamava “luta de classes”, nos que
ganham e nos que perdem.
(…)
Como sabem os serviços de informação, as
empresas de marketing e publicidade, todos os poderes que as [tecnologias]
sabem usar.
(…)
Entre todos os lubrificantes desta ignorância
agressiva o primeiro é o deslumbramento tecnológico.
(…)
O
segundo lubrificante é um falso igualitarismo: eu não preciso saber nada sobre
o tempo, para me pronunciar sobre as alterações climáticas.
(…)
A
capacidade de distinguir entre a verdade e a mentira (seja lá o que for a
verdade, mas ela existe como procura), desaparece numa selva que coloca a
conspiração ao nível do saber.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Antony Blinken, secretário de Estado da
Administração Biden, concedeu no dia 2 uma entrevista de 50 minutos à
jornalista Lulu Garcia-Navarro, do jornal The New York Times.
(…)
Atingiu com Biden o topo da sua carreira, sendo
hoje reconhecido como o verdadeiro presidente em exercício.
(…)
As suas decisões, que já causaram morte e
sofrimento em vários continentes, não parecem ter abalado este homem.
(…)
Não foi a retirada do Afeganistão um desastre
humilhante, deixando milhões de mulheres sem esperança nem futuro? Não.
(…)
Em relação à Ucrânia, fugiu da tese oficial da
“invasão não-provocada”.
(…)
Isso significa reconhecer que Moscovo, afinal,
atacou preventivamente um país que se tornara um membro de facto da NATO.
(…)
Blinken emudeceu quando interrogado sobre a sua
responsabilidade pessoal no apoio dos EUA ao genocídio em curso de Israel
contra o povo palestiniano.
(…)
A entrevista ignorou o facto de este ser o
período mais turbulento de transição presidencial desde a eleição de Lincoln em
1860, na véspera da Guerra Civil.
(…)
As hipóteses de pacificação geral oscilam entre o
improvável e o quimérico.
Sem comentários:
Enviar um comentário