(…)
Poluições diversas voam de muito longe até aos nossos pulmões
ou da nossa terra para os pulmões dos outros.
(…)
Se o vento não sopra do lado do mar, ou se o calor aperta, ou
se os incêndios se ateiam, ou se o tráfego aumenta, o facto de sermos um país
vastamente litoral deixa de nos servir de defesa [contra as poluições].
(…)
[Em Portugal] uma percentagem elevada das populações está
constrangida a respirar um ar carregado de poluição.
(…)
A Agência Europeia do Ambiente considera a poluição
atmosférica como “o maior risco para a saúde humana”.
(…)
Por causa da poluição atmosférica em Portugal, há seis mil
mortes prematuras por ano e outros tantos milhares de doenças crónicas que se
expandem, afetando cada vez mais as crianças.
(…)
Se a saúde não tem preço, as doenças têm-no. Tanto no que
significam como recurso ao SNS como nos níveis de absentismo que provocam.
(…)
O país está atualmente sujeito a pesadas multas interpostas
pelo Tribunal de Justiça Europeu (TJUE) por incumprimento da diretiva de
qualidade do ar.
(…)
Ora, se o nosso grande problema com a qualidade do ar se
encontra sobretudo nas cidades, a causa é fácil de ver: acima de tudo, o
tráfego rodoviário.
(…)
A falta de iniciativas em dotar o país de transportes
públicos eficientes e limpos para limitar o tráfego rodoviário em várias áreas
das cidades está-nos a custar saúde e dinheiro ao mesmo tempo.
(…)
A sobrevivência nas cidades vai depender de sermos capazes de
nos livrar da necessidade de usar o carro para todo o lado.
(…)
[Numa cidade como Lisboa], para além do estendal de
disfunções de mobilidade e de desordenamento do território, acresce o círculo
vicioso da expulsão de população para as periferias e o desinvestimento em
transporte coletivo limpo.
Luísa Schmedt, “Expresso” (sem link)
O
centro está tão à direita que isto está prestes a tombar.
(…)
[Quase
todos os partidos] empurrados pelos média, são obrigados a posicionar-se sobre
os temas que esta [extrema-direita] impõe.
(…)
Só
isto explica que, num dos países mais seguros do Mundo e que precisa de
imigrantes, estejamos há meses a discutir insegurança e o controlo da
imigração.
(…)
Até
na política autárquica é uma evidência que andamos
a reboque da sua agenda, com Moedas a surfar na onda da sensação de
insegurança.
(…)
[Recentemente]
passámos à discussão da inexistente associação da imigração à criminalidade,
para mais recentemente.
(…)
[Andamos] a
conjeturar até ao infinito a possível passagem de Ventura à segunda volta das
presidenciais.
(…)
Com a
polémica das malas roubadas pelo meio, a verdade é que bem ou mal, direta ou
indiretamente, só se fala do Chega ou sobre o que o Chega quer que se fale.
(…)
A
omnipresença de André Ventura e da sua agenda é superior à presença mediática
de qualquer outra figura.
(…)
Nas últimas décadas, o diapasão dos valores e a linha que
traçava a mediana do panorama político nacional foram sendo puxados para a
direita.
(…)
Houve uma banalização e dessensibilização tal, que o
enviesamento extremou-se.
(…)
Estudos mostram que os comentadores de esquerda têm menos
representatividade.
(…)
Temo que, estando tudo a orbitar em volta do Chega, isto se
agrave irremediavelmente.
(…)
Basta ouvir um discurso de Sá Carneiro para perceber o quão
distantes estamos do que outrora chamámos centro-direita.
"Never again" — “nunca
mais”. Esta frase, cunhada após o holocausto, deveria ser um alerta
permanente contra a repetição de atrocidades genocidas.
(…)
A
realidade é clara: o genocídio dos palestinos é uma ferida aberta, sustentada
pelo silêncio cúmplice da comunidade internacional, que mantém uma postura de
negação.
(…)
No contexto da Palestina, vemos a sistemática negação da
humanidade de um povo inteiro.
(…)
O sionismo tornou-se, paradoxalmente, um movimento que
perpetua o sofrimento judaico ao replicar práticas de exclusão e repressão.
(…)
A
"nazificação", termo que uso para descrever a normalização de
ideologias fascistas, é um processo que não se restringe à Palestina.
(…)
Em
Portugal e noutros países da Europa, assistimos ao fortalecimento de partidos
fascistas e grupos neonazistas e violentos que ganham força ao explorar o
desespero social e político.
(…)
Donald Trump é um símbolo desse avanço fascista global.
(…)
Num
gesto inumano e insensível, deporta pessoas imigradas como se de tralha se
tratasse e sugere a deportação forçada de todos os habitantes de Gaza.
(…)
O fascismo
moderno não hesita em justificar atrocidades em nome de um suposto bem maior.
(…)
Esses
líderes [como Musk ou Tramp] e figuras públicas tornam-se cúmplices de uma
ideologia que continua a negar a realidade das atrocidades e a reforçar
estruturas de opressão.
(…)
A negação da humanidade do outro foi o primeiro passo para a
ascensão do genocídio.
(…)
No caso palestiniano, essa desumanização não só é evidente,
como também é reforçada por uma inversão da narrativa.
(…)
Qualquer crítica a Israel é imediatamente rotulada como
antissemitismo
(…)
Sete
milhões de palestinos vivem prisioneiros na Palestina histórica, enquanto
outros sete milhões vivem na diáspora, na sua maioria como apátridas.
(…)
Para o
mundo, tudo parece ter começado a 7 de outubro de 2023, um acontecimento que,
para muitos, “justifica” a atual ofensiva militar em Gaza.
(…)
Essa narrativa seletiva ignora décadas de opressão, limpeza
étnica e ocupação.
(…)
[A
nazificação] espalha-se nas nossas sociedades, alimentada pela normalização de
ideologias extremistas, pelo uso indiscriminado de violência policial e pela
indiferença da comunidade internacional.
(…)
É
impossível não traçar paralelos com a ascensão do nazismo na década de 1930,
quando o mundo também preferiu o silêncio à ação.
(…)
[O genocídio] prospera num ambiente onde as mentiras são
aceites e a realidade é negada.
(…)
Se permitirmos que o genocídio na Palestina continue (…)
estamos a abrir espaço para o avanço de ideologias fascistas em todo o mundo.
(…)
Estamos
diante de uma escolha crucial: ou enfrentamos a nazificação e
denunciamos o genocídio onde quer que ele aconteça, ou aceitamos um mundo onde
as lições do holocausto são completamente ignoradas.
(…)
O silêncio é cumplicidade. Ninguém se deve calar e aceitar.
Isabel Oliveira, “Público” (sem link)
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