sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

CITAÇÕES

 
Em três semanas, Elon Musk desmantelou programas, levou à demissão de funcionários, encerrou agências, congelou financiamentos, acedeu a informação de milhões de pessoas e contratos, violou protocolos, leis e a Constituição e desafiou as funções reservadas ao Congresso.

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Tudo sem fazer parte do governo.

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Os rapazes do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) assumiram o controlo dos sistemas informáticos do Gabinete de Gestão de Pessoal, da Administração de Serviços Gerais e de vários departamentos e agências.

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Nas palavras do líder democrata do Senado, Chuck Schumer, trata-se de uma “aquisição hostil do governo federal”.

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Os cortes propostos fariam regressar a função pública moderna ao final do século XIX.

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Como revolucionário, [o investidor iraniano-americano Shervin Pishevar] acredita que as duas tempestades, uma política outra tecnológica, “estão a destruir a mesma estrutura apodrecida”.

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A estrutura democrática que esta oligarquia quer demolir. 

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A recusa, declarada por J. D. Vance, em aceitar decisões judiciais, por considerar que não abrangem o poder executivo, deixa clara a natureza subversiva e antidemocrática do novo poder.

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Hoje, [os golpes de estado] acontecem quando nerds imberbes ao serviço de um milionário se introduzem no sistema informático do Estado para o tomarem por dentro.  

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Hierarquizada, indiferente aos ciclos políticos, impessoal e especializada, [a burocracia] é indispensável ao Estado de Direito.

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Ao retirar aos burocratas o livre-arbítrio que a sua especialização e autonomia permitem, substituindo-o pela resposta direta, automática e opaca de uma máquina ao poder executivo, o Presidente conquista o lugar de Imperador.

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C­om Musk e Trump no negócio das criptomoedas, nem isso [direito de cunhar moeda] lhes está vedado.

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Dois poderes que se querem absolutos tendem a aniquilar-se. Mas esse tempo ainda está distante, porque os dois sabem que precisam um do outro.

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Musk dá a Trump o controlo tecnológico sobre a democracia, enquanto Trump oferece a Musk a destruição de todas as formas de supervisão sobre as suas empresas.

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A República está a cair. No lugar dela, ergue-se, para voltar a socorrer-me das palavras de Allison Stanger, “uma nação virtual”.

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Nas mãos de meia dúzia de milionários, o Estado será mesmo mais pequeno. E nós, os que não somos milionários, também.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

Há algo de deliciosamente orwelliano na forma como as polémicas se acumulam em torno do Chega.

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[Trata-se] da maneira como estas histórias [leia-se sucessão de escândalos] parecem ecoar a distopia de George Orwell em A Quinta dos Animais.

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A moral da história é clara: o poder corrompe, e a hipocrisia é o veneno que mina qualquer ideal.

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Os casos que têm vindo a público (e a gravidade destes), que não têm precedente noutros partidos, da esquerda à direita, parecem expor uma realidade interna que nos permite ver o partido, finalmente, a implodir.

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Apesar de se apresentar como diferente, [o Chega] apenas o é na gravidade dos actos que pratica.

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Enquanto o Chega critica a corrupção alheia, um dos seus é apanhado a agir movido pelo impulso mais básico: o de levar o que não é seu.

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A acusação de pedofilia contra Nuno Pardal, ainda mais grave, coloca em causa a moralidade e os valores familiares que o partido tanto apregoa.

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A ironia é cruel: o mesmo partido (e deputado!) que defende a castração química para pedófilos vê-se envolvido num escândalo que mancha a sua imagem e expõe a incoerência entre o que diz e o que faz.

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Quando o escândalo toca às suas fileiras, o rigor que exigem [no Chega] aos outros desaparece.

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Já o caso de condução sob o efeito de álcool de José Paulo Sousa, que vai além de ser um perigo público, revela uma certa impunidade interna, como se as regras que valem para os outros não se aplicassem aos seus.

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Quando confrontado com falhas internas, [o Chega] reage como qualquer outro — negando, minimizando ou desviando atenções.

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As polémicas recentes não são meros casos isolados, mas um padrão que expõe a verdadeira natureza do partido [Chega].

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O discurso contra a corrupção e a falta de valores desmorona-se à medida que os seus próprios membros protagonizam escândalos que não encontram paralelo noutros partidos.

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O Chega não é uma alternativa, é apenas mais um reflexo distorcido do que critica.

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Talvez a grande lição seja esta: o poder não muda as pessoas; apenas revela quem elas realmente são.

Bruna Santos, “Público” (sem link)

 

Como é do conhecimento geral, a governação no mundo ocidental (e não só) atravessa uma séria crise pelo facto de os cidadãos terem deixado de confiar nos governantes.

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Líderes da extrema-direita “arrasam” o sistema que os alimenta e hoje participam direta ou indiretamente em muitos governos europeus, talvez a maioria.

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São contra o sistema até se guindarem ao poder.

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Nos EUA a crise é visível – nas brutais desigualdades, na pobreza, nos massacres de rua, na criminalidade, na queda da esperança média de vida, no número de presos.

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Dada a confrangedora ignorância político-cultural, [Trump] olha para os diferentes países como para as suas Torres na 5.ª Avenida de NYC, isto é, como oportunidades de negócio.

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Agora, chegou a vez de fazer de Gaza uma "Riviera no Médio Oriente" escorraçando um povo inteiro da sua terra milenar,

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Tal como fizeram os foragidos europeus idos para a América do Norte, dizimando os nativos e criando os EUA.

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Perdido no seu labirinto de mitómano e saído do mundo dos reallity shows, Trump rodeou-se de um naipe de aventureiros plutocratas parecidos consigo em matéria de desígnio, ou seja, abocanhar o melhor.

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Trump prometeu o fim das guerras e até acabar a guerra na Ucrânia num dia. É o que se vê.

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Mas, se repararmos bem, o programa de Trump está virado para o passado e daí o "Great Again", uma visão que está conforme o seu quadro mental. É a decadência a bater à porta da potência hegemónica que sabe que vai deixar de ser.

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A Europa do belicismo, ávida de apaziguar o Minotauro de Mar-a-Largo com a compra de armas ao Pentágono segue o triste destino da irrelevância.

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A UE assobia, incapaz de aplicar uma sançãozinha ao carniceiro de Telavive. O Ocidente está assim.

Domingos Lopes, “Público” (sem link)


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