(…)
Tudo sem fazer parte do governo.
(…)
Os rapazes do Departamento de Eficiência
Governamental (DOGE) assumiram o controlo dos sistemas informáticos do Gabinete
de Gestão de Pessoal, da Administração de Serviços Gerais e de vários
departamentos e agências.
(…)
Nas palavras do líder democrata do Senado, Chuck Schumer, trata-se de uma “aquisição hostil do governo
federal”.
(…)
Os cortes propostos fariam regressar a função
pública moderna ao final do século XIX.
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Como revolucionário, [o investidor
iraniano-americano Shervin
Pishevar] acredita que as duas tempestades, uma política outra
tecnológica, “estão a destruir a mesma estrutura apodrecida”.
(…)
A estrutura democrática que esta oligarquia
quer demolir.
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A recusa, declarada por J. D. Vance, em aceitar
decisões judiciais, por considerar que não abrangem o poder executivo, deixa
clara a natureza subversiva e antidemocrática do novo poder.
(…)
Hoje, [os golpes de estado] acontecem quando
nerds imberbes ao serviço de um milionário se introduzem no sistema informático
do Estado para o tomarem por dentro.
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Hierarquizada, indiferente aos ciclos
políticos, impessoal e especializada, [a burocracia] é indispensável ao Estado
de Direito.
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Ao retirar aos burocratas o livre-arbítrio que
a sua especialização e autonomia permitem, substituindo-o pela resposta direta,
automática e opaca de uma máquina ao poder executivo, o Presidente conquista o
lugar de Imperador.
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Com Musk e Trump no negócio das criptomoedas,
nem isso [direito de cunhar moeda] lhes está vedado.
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Dois poderes que se querem absolutos tendem a
aniquilar-se. Mas esse tempo ainda está distante, porque os dois sabem que
precisam um do outro.
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Musk dá a Trump o controlo tecnológico sobre a
democracia, enquanto Trump oferece a Musk a destruição de todas as formas de
supervisão sobre as suas empresas.
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A República está a cair. No lugar dela,
ergue-se, para voltar a socorrer-me das palavras de Allison Stanger, “uma nação
virtual”.
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Nas mãos de meia dúzia de milionários, o Estado
será mesmo mais pequeno. E nós, os que não somos milionários, também.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Há algo de deliciosamente orwelliano na forma como as polémicas se acumulam em torno do Chega.
(…)
[Trata-se] da maneira como estas histórias
[leia-se sucessão de escândalos] parecem ecoar a distopia de George Orwell em A Quinta dos
Animais.
(…)
A moral da história é clara: o poder corrompe,
e a hipocrisia é o veneno que mina qualquer ideal.
(…)
Os
casos que têm vindo a público (e a gravidade destes), que não têm precedente
noutros partidos, da esquerda à direita, parecem expor uma realidade interna
que nos permite ver o partido, finalmente, a implodir.
(…)
Apesar de se apresentar como diferente, [o
Chega] apenas o é na gravidade dos actos que pratica.
(…)
Enquanto
o Chega critica a corrupção alheia, um dos seus é apanhado a agir movido pelo
impulso mais básico: o de levar o que não é seu.
(…)
A
acusação de pedofilia contra Nuno Pardal, ainda mais grave, coloca em causa a
moralidade e os valores familiares que o partido tanto apregoa.
(…)
A
ironia é cruel: o mesmo partido (e deputado!) que defende a castração química para pedófilos vê-se envolvido
num escândalo que mancha a sua imagem e expõe a incoerência entre o que diz e o
que faz.
(…)
Quando o escândalo toca às suas fileiras, o
rigor que exigem [no Chega] aos outros desaparece.
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Já o
caso de condução sob o efeito de álcool de José Paulo Sousa, que vai além de
ser um perigo público, revela uma certa impunidade interna, como se as regras
que valem para os outros não se aplicassem aos seus.
(…)
Quando confrontado com falhas internas, [o
Chega] reage como qualquer outro — negando, minimizando ou desviando atenções.
(…)
As polémicas recentes não são meros casos
isolados, mas um padrão que expõe a verdadeira natureza do partido
[Chega].
(…)
O
discurso contra a corrupção e a falta de valores desmorona-se à medida que os
seus próprios membros protagonizam escândalos que não encontram paralelo
noutros partidos.
(…)
O Chega não é uma alternativa, é apenas mais um
reflexo distorcido do que critica.
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Talvez a grande lição seja esta: o poder não
muda as pessoas; apenas revela quem elas realmente são.
Bruna Santos, “Público”
(sem link)
Como é
do conhecimento geral, a governação no mundo ocidental (e não só) atravessa uma
séria crise pelo facto de os cidadãos terem deixado de confiar nos governantes.
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Líderes
da extrema-direita “arrasam” o sistema que os alimenta e hoje participam direta
ou indiretamente em muitos governos europeus, talvez a maioria.
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São contra o sistema até se guindarem ao poder.
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Nos
EUA a crise é visível – nas brutais desigualdades, na pobreza, nos massacres de
rua, na criminalidade, na queda da esperança média de vida, no número de presos.
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Dada a
confrangedora ignorância político-cultural, [Trump] olha para os diferentes
países como para as suas Torres na 5.ª Avenida de NYC, isto é, como
oportunidades de negócio.
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Agora,
chegou a vez de fazer de Gaza uma "Riviera no Médio Oriente" escorraçando
um povo inteiro da sua terra milenar,
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Tal como fizeram os foragidos europeus idos
para a América do Norte, dizimando os nativos e criando os EUA.
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Perdido
no seu labirinto de mitómano e saído do mundo dos reallity shows, Trump rodeou-se de um naipe de
aventureiros plutocratas parecidos consigo em matéria de desígnio, ou seja,
abocanhar o melhor.
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Trump prometeu o fim das guerras e até acabar a
guerra na Ucrânia num dia. É o que se vê.
(…)
Mas,
se repararmos bem, o programa de Trump está virado para o passado e daí o
"Great Again", uma visão que está
conforme o seu quadro mental. É a decadência a bater à porta da potência
hegemónica que sabe que vai deixar de ser.
(…)
A
Europa do belicismo, ávida de apaziguar o Minotauro de Mar-a-Largo com a compra
de armas ao Pentágono segue o triste destino da irrelevância.
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A UE assobia, incapaz de aplicar uma
sançãozinha ao carniceiro de Telavive. O Ocidente está assim.
Domingos Lopes, “Público”
(sem link)
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