(…)
Faz-se a
exaltação da guerra em múltiplas expressões, refinando-se a desinformação sobre
as suas causas e impactos.
(…)
E
substitui-se a observação dos factos pelas chamadas perceções.
(…)
O trumpismo
bloqueia instituições mundiais, quando era necessário reformá-las e
revitalizá-las para as tornar menos ocidentais, mais democráticas e globais.
(…)
Nos Estados
Unidos da América são desarmadas instituições em catadupa, numa lógica fascista
de cilindrar antes que haja espaço à reflexão e à ação.
(…)
A ausência
de atenção aos cidadãos também é patente nas práticas de governação europeias e
nacionais.
(…)
No
quinquénio 2020/2024 registaram-se no país 695 acidentes de trabalho mortais e
2995 acidentes de trabalho graves (números que pecam por defeito).
(…)
[Somos] um
país onde a vida vale menos no trabalho que fora dele. As instituições e os
governos sabem disto, mas não agem.
(…)
Esta semana
o Tribunal da Relação de Lisboa considerou prescrito o processo relativo a um
“cartel da banca” que manipulou spreads entre 2002 e 2013.
(…)
O Tribunal
da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS) havia condenado os infratores a
pagarem 225 milhões de euros.
(…)
As provas
são muito evidentes, mas a Autoridade da Concorrência gastou sete anos a
investigar, a que se somou o tempo de retenção no TCRS.
(…)
É necessário
responsabilizá-las [as instituições] pelas funções que lhes estão atribuídas.
Trump tirou a limpeza étnica do armário mal chegou à Casa
Branca, e Israel está com ele (…) mas também dois terços ou mais dos israelitas.
(…)
Não há
notícia de políticos israelitas se oporem. Até entre opositores do governo, o
“plano” de Trump foi descrito como “interessante” ou “fora da caixa”.
(…)
Claro
que entre a Gronelândia e Elon Musk o céu não é o limite, vi até um cartoon com o foguetão a
postos.
(…)
Uma pesquisa do Jewish People Policy Institute (…) mostrou
que 7 em cada 10 judeus israelitas querem “os árabes de Gaza realojados noutro
país”. Aqui na Terra. Ainda.
(…)
Nos 80
anos da libertação de Auschwitz, o Estado fundado pelos sobreviventes do
Holocausto apoia assim, largamente, a remoção de 2,3 milhões de palestinianos.
(…)
Entretanto,
nos EUA, 350 rabinos, intelectuais, artistas judeus compraram um anúncio de
alto a baixo no New York Times
de 13 de Fevereiro: “Trump apelou à remoção de todos os palestinianos de Gaza”,
dizem em cima.
(…)
Onde
está o anúncio equivalente em Israel? Onde estão os rabinos, os intelectuais,
os artistas? E os médicos, os professores, os estudantes, os jovens, na sua
grande maioria?
(…)
Seis
polícias de Jerusalém que não falavam inglês nem árabe fizeram um raide em duas
lojas da Educational Bookshop, a mais amada livraria
de Jerusalém Oriental Ocupada.
(…)
E não
só os polícias confiscaram mais de 100 livros em árabe ou inglês apenas porque
tinham algum sinal da Palestina, como prenderam os irmãos livreiros Ahmed e Mahmoud Muna.
(…)
Onde está o povo que durante séculos confiou nos livros o
futuro, lendo-os, escrevendo-os? Que confiou neles para não morrer.
(…)
Eu tinha visto, não muito antes, o vídeo de uma biblioteca
pública em Gaza destruída pelas bombas.
(…)
Duas
caras para a História, uma o oposto da outra: a de Netanyahu , a 4 de
Fevereiro, e a do rei da Jordânia, a 11 de Fevereiro, ambas ao lado de Trump,
ouvindo-o tirar tudo do armário perante o mundo.
(…)
E dias
depois, o rei da Jordânia — primeiro líder árabe depois da posse de Trump —,
pequenino, acabrunhado, com a cara torcida, ouviu Trump explicar aos jornalistas que os
EUA não iam comprar Gaza, porque não havia nada a comprar, era uma zona de
guerra.
(…)
Os EUA iam tomar Gaza. Conservar Gaza. Acarinhar Gaza.
(…)
E
realojar os palestinianos de Gaza em outros países como a Jordânia. [O Rei da Jordânia]
ouviu e engoliu, sem a coragem de repetir o não que já tinha dito e continuou a
dizer fora dali.
(…)
Primeiro
o demiurgo [criador] do inferno, com mandado de captura internacional e
processos em casa, a quem Trump dava a grande recompensa. Depois, o rei da
desgraça árabe.
(…)
O que
o mundo está a ver resulta do que Biden, Blinken & Cia fizeram e não
fizeram desde o 7 de Outubro (para não recuarmos mais).
(…)
Não há nada para comprar em Gaza? Há terra.
(…)
Os palestinianos de Gaza estão a viver nos escombros do que Israel bombardeou.
(…)
Os
Médicos Sem Fronteiras contam que as crianças caminharam descalças para voltar
ao Norte, têm feridas, infecções nos pés. Água e electricidade (cortadas por
Israel a 7 de Outubro) não voltaram com o cessar-fogo.
(…)
Falta tudo aos palestinianos ao fim de 500 dias de guerra,
era disso que o mundo devia estar a falar.
(…)
Israel já não discute se vai limpar etnicamente os
palestinianos, mas para onde.
(…)
A [Alemanha]
acaba de proibir conferências com Francesca Albanese, a relatora especial da
ONU para a Palestina, e Eyal Weizman, do colectivo Forensic Architecture.
(…)
Até onde irá a renazificação da Alemanha no século 21?
(…)
[Este seria
o momento de a Europa] juntar-se a partes do Sul do mundo, impor sanções a
Israel, honrar a dívida que tem para com os palestinianos desde 1948.
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
Esta questão do muro político à extrema-direita está a
inflamar a Alemanha e a mobilizar para as eleições muita cidadania que parecia
estar fora do voto.
(…)
A rejeição de qualquer abertura à extrema-direita pôs na rua,
em manifestações, 200 mil pessoas há uma semana em Berlim e 250 mil neste
sábado em Berlim.
(…)
Merz, líder da CDU, já percebeu o erro de se ter aproximado
da AfD através das políticas migratórias.
(…)
Esta questão da política migratória, pelas implicações com a
extrema-direita, sobrepôs-se à económica que parecia central.
(…)
A economia vai ser prioridade para o novo governo. A energia
nuclear que Merkel tinha decidido fechar vai certamente fechar à Alemanha.
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