(…)
Um estudo anual do Departamento de Estatísticas
do Trabalho dos EUA mostra que o tempo passado a socializar presencialmente caiu, entre 2003 e 2023,
mais de 20%.
(…)
Na Europa é
igual: nos últimos vinte anos, os jovens europeus que não socializam uma vez por semana
passaram de um em cada dez para um em cada quatro.
(…)
O isolamento reflete-se até nos hábitos mais
banais.
(…)
Há sinais de que a sociedade se está a
reorganizar para que cada um possa viver no seu casulo, sem precisar de
interagir presencialmente com ninguém.
(…)
Um
jovem que cresce sem um espaço real para partilhar emoções, dúvidas e
frustrações é presa fácil da ansiedade, da depressão e da baixa autoestima.
(…)
Adolescentes e jovens estão presos numa armadilha
digital que os condiciona a repetir um comportamento que os faz sentir pior.
(…)
Os efeitos deste século antissocial não se ficam pelo seu
impacto no bem-estar e saúde mental, especialmente dos mais jovens.
(…)
Quando milhões passam pelo mesmo processo, os impactos
tornam-se políticos.
(…)
A frustração acumulada, a ausência de conexões
reais e a perceção de que o mundo os abandonou fazem crescer uma raiva latente que se transforma em ressentimento.
(…)
Essa raiva, explorada pela extrema-direita, ajuda
a explicar a atração da juventude pela desumanização do outro.
(…)
Indivíduos isolados têm maior predisposição para
culpar terceiros pela sua insatisfação.
(…)
São
os que tendem a sentir-se socialmente isolados que mais reforçavam uma
necessidade de caos e destruição.
(…)
O outro não é um adversário, mas um inimigo.
(…)
Os
solitários têm uma maior propensão para apoiar a extrema-direita.
(…)
A solidão tanto pode aumentar a predisposição
para apoiar a extrema-direita, como ser o apoio a grupos radicais aumentar o
isolamento social, devido à estigmatizarão social dos apoiantes desses grupos.
(…)
Tenho defendido de forma crescentemente
empenhada a necessidade de limitar os telefones nas escolas.
(…)
A dopamina libertada pela economia da atenção
das redes sociais limita a capacidade de atenção necessária para pensamentos
complexos.
(…)
Ou
enfrentamos o problema de frente, ou entregamos o futuro a uma geração de
jovens isolados, viciados em dopamina digital e prontos para se agarrar à
primeira ideologia
que lhes oferecer um sentido de pertença.
(…)
De pouco vale tentar travar a extrema-direita e o
ódio se não retomarmos os espaços de socialização que nos permitem viver em
comunidades empáticas.
(…)
Já
não se trata de construir um mundo novo, mas de salvar o que de humano existe
na humanidade.
Daniel Oliveira, “Expresso”
Independentemente da vontade dos europeus,
Donald Trump já está a afectar a política da UE.
(…)
[O regresso de Trump ao poder] também mudou
radicalmente a opinião pública em relação à política externa e a outras
questões.
(…)
O
clima que prevalece entre os europeus, no que diz respeito ao regresso de Trump
à Casa Branca, é de pessimismo.
(…)
Este
negativismo e o cepticismo subjacente à política “trumpista” não estão a
proteger a Europa das consequências de uma Washington diferente.
(…)
Os europeus ficaram mais atentos à perspectiva
de paz na Ucrânia.
(…)
Neste momento, a opinião predominante em grande
parte da Europa é que Washington já não é um “aliado” da UE.
(…)
Para muitos (…) o seu antigo aliado do
outro lado do Atlântico é agora apenas um “parceiro necessário”.
(…)
Talvez o mais óbvio, é o impulso reforçado que
Trump injectou no movimento de extrema-direita na Europa.
(…)
A
opinião, agora generalizada, de que haverá uma solução negociada não significa
necessariamente que os europeus apoiarão cegamente a abordagem do Presidente dos
EUA à celebração de acordos.
(…)
Os
europeus também reconhecem agora que, no futuro, é necessária uma abordagem
pragmática e transaccional nas relações da UE com os EUA.
(…)
O pragmatismo no panorama internacional é
aceitável, mas o cinismo e as cedências ruinosas não o são.
(…)
Também
não há garantias de que a extrema-direita europeia consiga ultrapassar os telhados
de vidro em consequência do regresso de Trump e das intervenções do seu círculo
íntimo.
(…)
A “trumpização” da Europa já chegou, é verdade,
mas os seus efeitos ainda estão por definir.
Powel Zerca, “Público”
(sem link)
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