quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (142)

 
No século antissocial, como lhe chamou Derek Thompson (…) essas promessas encontram um eco crescente em milhões de pessoas desligadas fisicamente de qualquer rede de amizade.

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Um estudo anual do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA mostra que o tempo passado a socializar presencialmente caiu, entre 2003 e 2023, mais de 20%.

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Na Europa é igual: nos últimos vinte anosos jovens europeus que não socializam uma vez por semana passaram de um em cada dez para um em cada quatro.  

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O isolamento reflete-se até nos hábitos mais banais.

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Há sinais de que a sociedade se está a reorganizar para que cada um possa viver no seu casulo, sem precisar de interagir presencialmente com ninguém.

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Um jovem que cresce sem um espaço real para partilhar emoções, dúvidas e frustrações é presa fácil da ansiedade, da depressão e da baixa autoestima.

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Adolescentes e jovens estão presos numa armadilha digital que os condiciona a repetir um comportamento que os faz sentir pior.

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Os efeitos deste século antissocial não se ficam pelo seu impacto no bem-estar e saúde mental, especialmente dos mais jovens.

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Quando milhões passam pelo mesmo processo, os impactos tornam-se políticos. 

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A frustração acumulada, a ausência de conexões reais e a perceção de que o mundo os abandonou fazem crescer uma raiva latente que se transforma em ressentimento.

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Essa raiva, explorada pela extrema-direita, ajuda a explicar a atração da juventude pela desumanização do outro.

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Indivíduos isolados têm maior predisposição para culpar terceiros pela sua insatisfação.

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São os que tendem a sentir-se socialmente isolados que mais reforçavam uma necessidade de caos e destruição.

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O outro não é um adversário, mas um inimigo.

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Os solitários têm uma maior propensão para apoiar a extrema-direita.

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A solidão tanto pode aumentar a predisposição para apoiar a extrema-direita, como ser o apoio a grupos radicais aumentar o isolamento social, devido à estigmatizarão social dos apoiantes desses grupos.

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Tenho defendido de forma crescentemente empenhada a necessidade de limitar os telefones nas escolas. 

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A dopamina libertada pela economia da atenção das redes sociais limita a capacidade de atenção necessária para pensamentos complexos.

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Ou enfrentamos o problema de frente, ou entregamos o futuro a uma geração de jovens isolados, viciados em dopamina digital e prontos para se agarrar à primeira ideologia que lhes oferecer um sentido de pertença.

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De pouco vale tentar travar a extrema-direita e o ódio se não retomarmos os espaços de socialização que nos permitem viver em comunidades empáticas. 

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Já não se trata de construir um mundo novo, mas de salvar o que de humano existe na humanidade.

Daniel Oliveira, “Expresso”

 

Independentemente da vontade dos europeus, Donald Trump já está a afectar a política da UE.

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[O regresso de Trump ao poder] também mudou radicalmente a opinião pública em relação à política externa e a outras questões.

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O clima que prevalece entre os europeus, no que diz respeito ao regresso de Trump à Casa Branca, é de pessimismo.

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Este negativismo e o cepticismo subjacente à política “trumpista” não estão a proteger a Europa das consequências de uma Washington diferente.

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Os europeus ficaram mais atentos à perspectiva de paz na Ucrânia.

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Neste momento, a opinião predominante em grande parte da Europa é que Washington já não é um “aliado” da UE.

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Para muitos (…) o seu antigo aliado do outro lado do Atlântico é agora apenas um “parceiro necessário”.

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Talvez o mais óbvio, é o impulso reforçado que Trump injectou no movimento de extrema-direita na Europa.

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A opinião, agora generalizada, de que haverá uma solução negociada não significa necessariamente que os europeus apoiarão cegamente a abordagem do Presidente dos EUA à celebração de acordos.

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Os europeus também reconhecem agora que, no futuro, é necessária uma abordagem pragmática e transaccional nas relações da UE com os EUA.

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O pragmatismo no panorama internacional é aceitável, mas o cinismo e as cedências ruinosas não o são.

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Também não há garantias de que a extrema-direita europeia consiga ultrapassar os telhados de vidro em consequência do regresso de Trump e das intervenções do seu círculo íntimo.

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A “trumpização” da Europa já chegou, é verdade, mas os seus efeitos ainda estão por definir.

Powel Zerca, “Público” (sem link)


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