quarta-feira, 13 de julho de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (11)

 
Para impor o seu negócio, [a Uber] desenvolveu um intenso lóbi junto de políticos, pagou milhares de euros a académicos, acicatou conflitos para se vitimizar, mesmo colocando em perigo os seus motoristas.

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Estas empresas [tipo Uber] instalam-se falseando a concorrência através da subsidiação das viagens numa primeira fase (para conquistar clientes e a opinião pública) e de uma estratégia monopolista.

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Este comportamento implica violar regras económicas, externalizar uma parte do seu capital fixo (…) e esquivar-se aos custos das responsabilidades patronais.

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Além da opacidade, a Uber também enganou deliberadamente as autoridades para fugir à fiscalização.

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Quando era ainda ministro da Economia, este último [Macron] teve um papel chave em garantir a operação da empresa em França, o primeiro país europeu onde a multinacional apostou, em 2014. 

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Em 2016, por iniciativa de Macron, a lei mudaria a favor da empresa [Uber].

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Em vários países, o então presidente executivo da Uber, Travis Kalanik, incentivou conflitos com os taxistas e até contramanifestações, por entender que as agressões de que os motoristas fossem vítimas jogariam a favor da empresa. 

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A estratégia de manipulação da opinião pública é assumida em várias comunicações que fazem dos trabalhadores carne para canhão.

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Um outro campo de ação foi a identificação de académicos disponíveis para publicar estudos com uma narrativa positiva sobre o modelo de negócio da empresa. 

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Em França, a Uber pagou 100 mil euros a Augustin Landier, à época professor na Faculdade de Economia de Toulouse, ex-economista do FMI e figura em ascensão no debate público francês, por um estudo que ajudou à instalação da empresa no país. 

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O mesmo tipo de processos teve lugar na Alemanha e nos Estados Unidos.

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Por agora, as informações reveladas acerca de Portugal dizem respeito à utilização das manifestações de taxistas para alimentar a “narrativa da violência” que viraria a opinião pública a favor da empresa. 

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[A afeição da Uber] pelo “modelo português”, único no mundo, deve-se à figura legal do intermediário (o “operador TVDE”), que liberta as plataformas de quaisquer responsabilidades patronais.

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[Portugal] legislou contra o reconhecimento legal da relação laboral com a plataforma.

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Quando foi conhecida a primeira versão do Livro Verde [sobre o Futuro do Trabalho], as plataformas reagiram violentamente em intervenções públicas.

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A proposta [revista da lei da Agenda do Trabalho Digno] perpetua [em Portugal] o modelo defendido pela Uber.

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O que fez o Governo mudar?

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[Na semana passada, num debate com a Ministra do Trabalho] o secretário de Estado foi enfático na defesa da formulação legal do agrado da Uber. Terá sido ele a promover a alteração?

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É uma contradição absoluta [as plataformas conseguiram passar a estar representadas na Concertação Social], porque a principal batalha destas empresas é justamente não serem consideradas empregadoras. 

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[Entretanto] as plataformas investiram também, neste período, nos seus “estudos à medida”. 

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A referência em várias notícias a um estudo “do ISCTE” permite transferir o capital científico da instituição para os resultados promovidos pelas empresas com o seu questionário.

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Resta saber quanto custou às multinacionais esta ousada operação mediático-política que colocou os créditos académicos do professor e das instituições a que pertence ao serviço das plataformas.

José Soeiro, “Expresso” online

 

Não há regionalização, mas isso não é surpresa nenhuma, desde que o referendo foi imposto como condição que a promessa se foi tornando uma farsa.

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O assunto transformou-se num jogo floral, palavras para aqui ou para ali, quando eu posso tu não queres, quando eu quero tu não podes, e vamos sendo entretidos.

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O assunto é uma mazela, ou uma piolheira, como se dizia à antiga.

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Resta o país, que vai sobrevivendo às entoações destas políticas promissórias. 

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Esta Viagem a Portugal [através da TSF e das reportagens de Fernando Alves], agora numa rádio  que saboreia o tempo e não tem pressa, é a melhor prova de que as regiões existem com comunidades e com culturas que nos falam. 

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

Chegou ao fim o suspense mantido durante anos em torno das negociações do Tratado da Carta da Energia (TCE).

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Sabia-se que qualquer resultado deste processo teria de passar o crivo da tremida arquitectura das mais de 50 Partes Contratantes (PC) do TCE.

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A Comissão [Europeia] partiu para as negociações com propostas carentes de ambição, inaceitáveis do ponto de vista do clima, do ambiente e dos cidadãos.

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O TCE “modernizado” continuará a proteger os investimentos fósseis já existentes até, pelo menos, 2033. 

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Até 2033 o TCE continuará a ameaçar e até impedir a acção governativa pró-climática quando esta possa interferir com os lucros das empresas energéticas e a ser um risco para as contas públicas.

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Significa isto meter travão a fundo na transição energética.

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A UE e o Reino Unido podem agora ir eliminando ao ralenti a protecção do investimento dos fósseis, enquanto outras PC [Partes Contratantes] a podem manter indefinidamente.

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Uma das mais chocantes componentes do TCE é a justiça paralela VIP para investidores estrangeiros, consubstanciada no questionável mecanismo de resolução de litígios entre investidores e estados (ISDS).

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O TCE é magnânimo quando se trata de garantias aos investidores; a chamada cláusula de caducidade garante a protecção dos investimentos durante 20 anos após a retirada de um país do TCE.

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O TCE “modernizado” continua a ser uma arma da indústria da energia contra o clima e os cidadãos.

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É sintomático que a Comissão Europeia, que pretende liderar no rumo à neutralidade carbónica, tenha preferido vergar-se às vontades das multinacionais e ao primado da economia.

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[No TCE “modernizado”] as expectativas de lucro dos investidores são prioritárias face à protecção do clima e do bem comum.

Ana Moreno, “Público” (sem link)


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