sábado, 23 de julho de 2022

MAIS CITAÇÕES (191)

 
Não me parece que [Pacheco Pereira] ache que as palavras lhe chegaram virgens e naturais, depois de séculos em que, como sempre acontece, cumpriram a função censória e intimidatória de hierarquizar e dominar o mundo.

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Percebe-se que tudo se resume à dificuldade em aceitar estes novos atores políticos, com uma agenda que julga “folclórica” e “ultraminoritária”.

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A linguagem, como as relações de poder em que ela se sustenta, tem camadas de história que não se atenuam no tempo da política, mas no tempo em que as mudanças sociais vão acontecendo. 

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Um uso diferente das palavras pode acelerar a mudança

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Se for levada até às últimas consequências, a linguagem inclusiva torna-se um código exclusivo dos grupos que a usam, e por isso inútil.

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Sim, cada palavra é uma trincheira. Mas se transformamos tudo numa trincheira, desistimos de construir alguma coisa para além da bolha onde nos sentimos seguros.

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A afirmação das identidades dos que sofreram milénios de opressão, sejam mulheres, minorias étnicas, homossexuais ou transexuais, faz parte da sua luta pela igualdade. 

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Uma parte (não todos) destes movimentos identitários é parente envergonhada do individualismo neoliberal. 

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[Este progressismo neoliberal] não aspira a qualquer fraternidade humana e, mesmo que o negue sempre, secundariza a desigualdade da distribuição da riqueza.

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[Há uma ratoeira] onde uma suposta “interseccionalidade” aceita, na prática, que a única discriminação que se pode manter invisível é a de classe, que oprime a maioria da população do mundo.

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Uma ratoeira aproveitada por quem até aceitará mais mulheres, negros ou gays no conselho de administração da sua empresa desde que se mantenha intacto o seu privilégio económico e social.

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Apesar das reações agressivas de quem se sente em perigo, as mulheres e as minorias têm conquistado direitos. 

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Mas, em simultâneo, a desigualdade socioeconómica não pára de se agravar.

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Ninguém se choca com o uso do “colaborador” no lugar do “trabalhador”, apagando a identidade de classe.

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No tempo da afirmação de identidades, a de classe foi esmagada e não entra nas preocupações da “linguagem inclusiva”.

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O privilégio económico passou a ser o mais aceitável de todos.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

O velho passa-culpas da invocação de crises para impor sacrifícios aos povos encontra o cenário perfeito para a sua utilização: a conjugação dos impactos da pandemia com os do clima belicista acelerado pela invasão e guerra na Ucrânia e os resultantes da brutal degradação climática.

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Todos reconhecem que a inflação este ano comerá 1/14 avos dos salários e pensões.

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Para o Governo, a resposta ao agravamento das condições de vida e da pobreza pode ser "garantida" por subsídios e apoios pontuais às famílias e pessoas necessitadas.

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Uns e outros [Governo e PSD] secundarizam os salários e a necessidade da sua atualização face à inflação.

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[A UE] será crescentemente secundarizada e acantonada, aniquilando expectativas dos povos europeus nesse projeto comum, que dava enfoque à justiça social e aos direitos humanos.

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A União Europeia (UE) terá cada vez mais "passageiros clandestinos" no seu comboio e tornar-se-á ingerível ou antidemocrática.

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O nosso modelo de sociedade estará em causa, mesmo que o "projeto europeu" não descarrile totalmente.

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O fosso remuneratório entre trabalhadores da Administração Pública e do setor privado - para funções semelhantes - não pára de se aprofundar.

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[Também] a insistência na conceção de que os problemas do emprego se resolvem pelo lado da oferta da formação.

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Vermos uma maioria absoluta do PS e o seu Governo arrastados na enxurrada, muito agarrados a exercícios panfletários e incapazes de definir objetivos e planificar ação, é confrangedor.

Carvalho da Silva, JN

 

Chegadas a casa, no defeso do futebol, as pessoas têm televisões monotemáticas, com as imagens “fortes” que dão audiências, seja da guerra da Ucrânia, seja dos incêndios.

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Dias inteiros de “breaking news” não “consciencializam” ninguém, muito menos informam, mas deixam o rastro de um mundo cruel onde não há esperança, adormecem a razão e alimentam a irritação.

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Muitas discussões revelam como o fim do mundo pacífico e relativamente fácil e prazenteiro em que a Europa viveu nas últimas décadas suscita egoísmo e fúria.

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Nestas condições, a violência da zanga cresce por todo o lado no quotidiano das pessoas comuns.

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O que verdadeiramente me interessa é o “estado” da democracia, cuja fragilidade vem de ser uma escolha e não uma inevitabilidade.

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Claro que eu, no meu bom, velho e ultrapassado marxismo, penso que em primeiro lugar a zanga cresce porque as pessoas vivem pior, e, segundo, porque não têm esperança de que possam vir a viver melhor.

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A falta de esperança, que é do domínio cultural, é que é mais perigosa para a democracia.

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Mas se o “mau viver” cresce, em termos materiais e “espirituais”, estamos mesmo muito tramados.

Pacheco Pereira, “Público” (sem link)

 

Já se sabe que “envelhecer no Brasil é muito perigoso”, porque com o abandono social e a ausência do Estado, a solidão torna-se mais pesada.

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Mas também entre os jovens está a crescer a solidão, a violência, o racismo e a homofobia, tendo os internamentos de crianças e adolescentes por lesões autoprovocadas crescido 34% de 2020 para 2021 e os suicídios subido 116% de 2010 a 2019.

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A pandemia obrigou ao teletrabalho, impôs a solidão a quem estava habituado ao contacto com outros e levou a que muitos acabassem por se sentir sozinhos e desligados do mundo.

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Os especialistas falam em dosear o teletrabalho, tudo o que seja mais de dois a dois dias e meio em casa, afirma a investigadora [Caroline Knight, do Instituto do Futuro do Trabaljo da Universidade Curtin], é prejudicial.

António Rodrigues, “Público” (sem link)


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