sábado, 12 de outubro de 2024

MAIS CITAÇÕES (303)

 
A palavra [globalização] tinha (continua a ter) uma utilização universalizada, mas não unanimidade no entendimento do seu significado.

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No presente há quem considere estarmos no oposto da globalização, mas outros afirmam que agora é que entramos no tempo de efetivo global.

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O culto de palavras que são falsas ideias claras ampliou-se e vem carregado de concentrados ideológicos de alto teor. Dois exemplos, “talento” e “mérito”. 

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O talento dá aturado trabalho e exige deitar mão do máximo conhecimento possível que pertence a toda a sociedade.

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A palavra talento, na boca de um fala-barato, é o oposto dessas exigências.

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Uma das grandes conquistas da nossa democracia nas últimas décadas foi a extraordinária melhoria da formação escolar, designadamente de nível superior, dos nossos jovens.

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Chamar aos jovens “talentos” para os iludir e arrastar a resolução dos seus problemas é criminoso.

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Cabe tudo o que em determinada circunstância der jeito a quem tem o poder de subjugar os outros. Não deixemos que estes vácuos perdurem.

Carvalho da Silva, JN

 

Moral e política são maus parceiros. A chamada realpolitik é exactamente a expressão que traduz esse divórcio.

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Ou seja, tudo se pode fazer em função de um objectivo, sem qualquer espécie de constrangimento.

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Nações democráticas e ditaduras actuam em função dessa realpolitik de uma forma muito semelhante, nenhuma está inocente da prática de actos que violam qualquer restrição moral e o direito internacional.

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[No entanto,] é uma parte constitutiva das democracias a ideia de que, para além da hipocrisia, haja coisas que não se podem fazer e que devem ser condenadas sem “mas” e punidas sem hesitação.

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[A guerra que Israel conduz no Médio Oriente] não é uma guerra de resposta ao massacre do Hamas que fez agora um ano, nunca foi uma guerra existencial pela defesa do Estado de Israel.

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Sem a menor hesitação, [uma guerra] que enuncia claros objectivos de alargamento territorial.

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Israel tem recursos e meios para chegar aos seus objectivos militares e tempo para o conseguir sem este massacre quotidiano.

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Pela simultaneidade do que está a acontecer com os colonatos e as violências incentivadas pelo actual Governo de extrema-direita, uma guerra por território e uma limpeza étnica.

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[Israel] tinha simpatia muito para além do sionismo, à esquerda por exemplo, pela sua origem em certas experiências socializantes, como os kibutz.

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Israel estava no pior sítio do mundo para ser uma democracia.

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Hoje, tudo isto mudou e são evidentes os estragos que Netanyahu e o seu Governo fizeram ao prestígio de Israel, actuando de forma criminosa, palavra que resume tudo.

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Essa parte da opinião pública protegia e apoiava Israel junto dos governos das democracias. Isso hoje acabou.

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Do mesmo modo, o tratamento criminoso, volto à mesma palavra, dos palestinianos deu uma nova visibilidade à sua causa.

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É inadmissível a complacência que a União Europeia e o Governo português têm mostrado face a esta guerra.

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Lestos, e bem, em condenar e sancionar a Rússia pela invasão da Ucrânia, nem de perto nem de longe responderam às violências israelitas, nem às sistemáticas violações do direito internacional.

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[Israel] ataca tudo à sua frente no terreno e na diplomacia, que não merece esse nome.

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Há que compreender que esta hesitação miserável da Europa (Portugal incluído) (…) significa uma abjecção moral e uma cumplicidade inaceitável.

Pacheco Pereira, “Público” (sem link)

 

A atual deriva de Washington, enredada na perigosa teia de guerras que julgava poder controlar – na Europa e Médio Oriente –, reconduz-nos ao tema, também vetusto, do declínio do Ocidente.

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[Após o fim da guerra-fria] vozes sensatas, como a de Samuel Huntington, denunciavam o perigo da hubris norte-americana e ocidental, dessa arrogância de tentar impor uma cultura unidimensional a um mundo com múltiplas vozes e civilizações.

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O narcisismo imperial, o apoucamento do Outro, a ilusão de omnipotência, com muitos milhões de mortos e refugiados à mistura, povoaram estes trinta últimos anos.

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O genocídio praticado por Israel em Gaza, assistido pelo Ocidente, sinaliza um ponto de não retorno.

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Para escolher o caminho da vida e reconhecer humildemente que o mundo pertence a toda a humanidade, e não só ao Ocidente, é necessária uma desintoxicação dos preconceitos e das opiniões arbitrárias.

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Nos últimos três anos, no Ocidente, as interpretações sem substância escorraçaram toda a matéria de facto.

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Já vivemos num mundo multipolar; o Ocidente já não constitui o principal motor portador de futuro.

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Sabemos que a reorganização do sistema internacional se está a efetuar através de uma cooperação de países conhecidos como BRICS, com muitas divergências entre si, mas unidos pela recusa da atual definição das regras do jogo do poder mundial, ditadas pelo Ocidente, reunido no G7.

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Em 2000, o G7 representava 43, 28% do PIB global contra 21, 37% dos BRICS. Em 2018 deu-se a inversão: 31, 84% contra 32, 33%. 

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Estima-se este ano um recuo do G7 para 29,64% contra 35, 43% dos BRICS (dados da empresa alemã, Statista).

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Também na C&T, [Ciência e Tecnologia] o Ocidente regride.

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Em 2003, os EUA lideravam em 60 das 64 tecnologias. Em 2023, lideram apenas em sete. A China, pelo contrário, passou do lugar da frente em três tecnologias (2003) para 57 das 64 tecnologias em 2023.

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[Perante esta situação, o Ocidente] rearma-se, decreta estratégias de contenção, promulga sanções, instaura políticas protecionistas, que no passado não consentia aos outros. 

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Será que o Ocidente desconhece estar a humanidade inteira perante desafios existenciais, que exigem cooperação obrigatória para termos alguma possibilidade de sucesso?

Viriato Soromenho Marques, DN


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