domingo, 7 de fevereiro de 2016

A OUSADIA DA ESQUERDA


A ousadia de a esquerda portuguesa se unir para demonstrar que é possível reduzir o défice e a dívida sem o grau de austeridade que nos atingiu nos últimos quatro anos provocou um ódio de morte na direita nacional que não vai olhar a meios para atingir os fins a que julga ter direito, quase por reconhecimento divino. PSD e CDS nunca imaginaram que uma esquerda, sempre de costas voltadas desde 1974, conseguisse pôr de lado as suas conhecidas divergências para se concentrar em pontos essenciais do interesse comum da população portuguesa.
Toda a retórica dos comentadores, maioritariamente em consonância com a direita mais radical, vai no sentido de tornar exponenciais os pontos negativos do Orçamento do Estado para 2016, quase fazendo por esquecer os benefícios que traz, em especial para os mais desfavorecidos.
Também é claro que a ortodoxia europeia simbolizada por Merkel & C.ª também não gosta do que se está a passar em Portugal, receosa que Espanha venha a seguir o mesmo caminho. Para esta gente, a vontade dos povos expressa em eleições democráticas conta pouco se não for ao encontro dos interesses dos mais poderosos, englobando-se nesta designação tanto estados quanto o grande capital representado nas suas mais diversas formas.
Neste curto texto de Nicolau Santos que recolhemos do Expresso Economia de ontem, é realçado o incómodo que está a provocar em muitas froças a possibilidade de existir uma alternativa de combate à crise.
O Orçamento do Estado para 2016 é um animal estranho. Estranho para a ortodoxia que mora na Comissão Europeia, no Eurogrupo, no FMI e em Berlim. Estranho para PSD, CDS e todos os que leram pela mesma cartilha. Ao fim de quatro anos de austeridade, o OE-2016 tenta chegar aos mesmos objetivos (redução do défice e da dívida) por outros meios e não os do costume: cortes salariais e pensões, aumento da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho, drástico emagrecimento do Estado social. E isso baralha e incomoda muita gente, porque se resultar é a prova de que a crise poderia ter sido combatida por outras vias que não a irritante TINA (There Is No Alternative). Tem riscos? Claro que tem. Se o crescimento e a inflação não se verificarem, o défice será muito superior. Mas o que é que aconteceu com os quatro orçamentos dos governos PSD/CDS? Obrigaram todos não a um mas a dois (!) orçamentos retificativos. Por isso, este OE alternativo merece uma oportunidade. E se tiver de haver um retificativo, não será seguramente um drama.

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