(…)
Pelo
seu valor legal, ela [sentença] contribui para algumas transformações
essenciais que precisamos de consolidar no modo como abordamos as questões do
trabalho.
(…)
É
frequente reduzir o trabalho ao emprego formal, quer nas representações numéricas
(…), quer nas representações simbólicas (…), quer nas representações políticas.
(…)
O
mesmo etnocentrismo laboral que desconsiderou a centralidade do trabalho
escravizado, tende hoje a invisibilizar o trabalho migrante e clandestino.
(…)
Este
trabalho [doméstico] é essencial à manutenção da vida e à reprodução da força
de trabalho e do próprio sistema económico.
(…)
É
impossível compreender este último [sistema económico] sem considerar a
imprescindibilidade deste colossal volume de trabalho não remunerado.
(…)
Não há
nada de “natural”, nem de “espontâneo”, na enorme desigualdade na realização do
“trabalho doméstico”.
(…)
Trata-se,
pelo contrário, de uma laboriosa construção do sistema patriarcal, que
encaminhou os homens para o chamado “trabalho produtivo”, fora de casa,
crescentemente enquadrado por relações de emprego, e as mulheres para o
“trabalho reprodutivo”, associado à esfera doméstica e sem qualquer remuneração.
(…)
A
estrutura patriarcal, que estabelece esta divisão sexual do trabalho, pode e
deve ser transformada.
(…)
Ao
calcular quanto vale o trabalho prestado por aquela mulher em sua casa, o
Supremo Tribunal está a enfatizar que este trabalho tem um valor, também
económico.
(…)
Como
tendemos a não dar valor ao que não é contabilizado, o precedente aberto pelo
acórdão é marcante.
(…)
Precisamos
de ter em conta o valor daquele trabalho para que seja clara a urgência de
distribuí-lo entre toda a gente.
José Soeiro, “Expresso” Diário
Tim
Cook, chefe da Apple, lançou num discurso, em janeiro, um ataque violento
contra o Facebook.
(…)
Colando
o Facebook à permissividade para com os apoiantes de Trump e do Qanon e
reduzindo a sua rival a um jogo de fanatização de públicos, mobilizados pelos
discursos de ódio, Cook coloca-se do lado simpático da opinião pública.
(…)
Apesar
deste estardalhaço, as razões circunstanciais para este confronto são
superadas pelas razões económicas de fundo.
(…)
O
pretexto imediato para a guerra é a decisão da Apple de perguntar aos
utilizadores do iPhone se aceitam que as aplicações descarregadas registem os
seus dados, o que atinge as que usavam essa técnica para vender publicidade
personalizada.
(…)
A
questão revela tanto como se banalizou a captação de dados pessoais quanto a
estratégia empresarial baseada na manipulação dos consumidores.
(…)
[A tensão entre estes gigantes será] menos
o cuidado pelos direitos dos utilizadores do que o controlo do mercado.
(…)
As
estratégias agressivas são justificadas com a fome de lucros, quando os
resultados diminuem mas a capitalização bolsista aumenta, e com a concorrência.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Ao
contrário de Portugal, Espanha não aceitou a norma europeia de redução das
licenciaturas para três anos e manteve o seu próprio critério, que agora tornou
imperativo.
(…)
Em vez
de três anos de licenciatura mais dois de mestrado, têm quatro mais um.
(…)
Em
primeiro lugar, garante que a formação de base é mais completa e é mais
igualitário, toda a gente que conclui um curso beneficia deste ensino de base.
(…)
Em
segundo lugar, é mais barato para quem estuda, dado que o truque foi reduzir o
tempo de licenciatura para aumentar o tempo de cobrança pelos mestrados.
(…)
Tendo
resistido à pressão mercantil da regra de Bolonha, [a Espanha] procura uma
formação mais completa e mais acessível para mais estudantes.
Francisco Loução, “Expresso” Economia (sem link)
A ocultação pelas palavras e a manutenção do poder pelo
controlo sobre as palavras estão na essência do 1984.
(…)
Um exemplo dos dias de hoje é a célebre “reconfiguração da
direita”, expressão que muita gente usa descuidadamente como se fosse unívoca.
(…)
Esta “esquerda” e esta “direita” já não são o que eram – são
outra coisa, são expressões que são hoje tribais, num período de radicalização
que varre tudo o que não seja pertença de uma tribo outra.
(…)
Na verdade, a tribalização hoje é mais evidente à direita do
que à esquerda, porque a agressividade identitária é muito maior.
(…)
Na nossa frase orwelliana da “reconfiguração da direita”, a
direita de que se fala tende a não ser a direita democrata-cristã, nem
conservadora, nem liberal, mas a direita tribal.
(…)
A “reconfiguração da direita”, [é] uma expressão que
não significa outra coisa senão capturar o PSD para a direita dos tempos da troika.
(…)
Sem o PSD, toda esta direita tribal é grupuscular, quem tem
os votos é o PSD, sem eles não se acede ao governo e esse acesso,
principalmente em tempos de “bazuca”, é estratégico.
(…)
O seu inimigo principal não é Costa, é Rio, que cometeu o
crime de querer recentrar o PSD e tirá-lo da forte deslocação à direita que se
deu no Governo Passos-Portas-troika.
(…)
Se é para regressar a estas políticas [de Passos-Portas-troika] que se deseja voltar com a
“reconfiguração da direita”, digam-no. Mas não dizem.
(…)
Não dizem que o que os incomoda no “socialismo” é a
distribuição de pessoal político do PS por sinecuras e prebendas. O verdadeiro
objectivo é apenas substituí-lo.
(…)
Nos dois grandes partidos, PS e PSD, a apetência pelo poder é
a apetência clientelar dos aparelhos.
(…)
[“Reconfigurar a direita] significa afastar Rio, trazer
Passos ou um qualquer clone de Passos, capturar o PSD para a tribo, colocar o
PSD à cabeça de uma “frente de direita”.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Tudo indica que estas formas de trabalhar
[remoto] tendem a aumentar, mas não sabemos exatamente em que dimensão e em que
moldes.
(…)
Sabemos muito bem que grande parte dos
trabalhadores envolvidos nas prestações do trabalho à distância estão
desprotegidos e que essa desproteção impulsiona o aumento geral das
precariedades e da exploração no trabalho.
(…)
Exige-se estudo e reflexão rigorosos - de
caráter sociológico, político e jurídico - sobre a extensão e os contornos
deste fenómeno nos países, na União Europeia (UE) e no plano global.
(…)
Em qualquer prestação de trabalho (remoto
ou não) é obrigatório observar se o trabalho prestado é ou não dependente.
(…)
Em geral, as plataformas digitais, e
outras formas de organização do trabalho à distância, são os centros
organizativos das atividades prestadas pelos trabalhadores, logo, havendo novos
instrumentos políticos e jurídicos, não haverá dúvidas na definição das
relações laborais a estabelecer.
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