(…)
Agora,
num ápice, a conversa passou a ser o receio da inflação. Em tradução livre,
voltamos a ouvir receitas de austeridade.
(…)
São
estes que estão com medo, não tanto da inflação, que sabem que será reduzida,
mas mais da sua expectativa.
(…)
Foi na
presunção de juros zero ou negativos a longo prazo, ou seja, nenhuma inflação,
que as bolsas têm vivido tempos de euforia.
(…)
Assim
que se ouviu falar de inflação, o que implicaria subida dos juros, a finança
assustou-se.
(…)
Vários
pesos pesados da economia juntaram-se a coro, cuidado com a inflação. Seria o
fim do júbilo bolsista.
(…)
Se os
mercados financeiros protestam, os governos querem e os bancos centrais não
parecem temer para já alguma inflação.
(…)
[A
inflação] será reduzida e o problema não está onde os mercados o descortinam,
na queda do valor das bolsas. O problema é que a recessão continua e os
salários estão aprisionados.
(…)
Toda a
política económica [da UE] se vai definir pela consistência das escolhas
orçamentais. E são as regras restritivas que podem matar a recuperação.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
A
exaustão de muitas crianças e o sobrepeso das famílias deve-se não apenas à
suspensão das aulas presenciais, mas à ideia estapafúrdia de que era possível
acumular saudavelmente teletrabalho com o acompanhamento de crianças menores.
(…)
O
tempo diurno de cuidado dos filhos teve como contrapartida, frequentemente, a
“invasão” do tempo noturno pelo trabalho, para aproveitar o sono das crianças.
(…)
O
lastro das consequências de tudo isto para crianças e adultos é provavelmente
mais pesado do que o que, a quente, conseguimos perceber.
(…)
A
transição para o teletrabalho por imposição da legislação de emergência
sanitária operou-se de forma abrupta e improvisada, sem mecanismos de
preparação e de negociação coletiva.
(…)
O
teletrabalho, que no segundo semestre de 2020 abrangia cerca de um milhão de
portugueses (os dados são do INE), tem inúmeros custos para quem trabalha.
(…)
Em
meados de fevereiro, a Direção-Geral de Energia revelou, por exemplo, que entre
março e dezembro de 2020 o consumo de eletricidade aumentou 14,9% no setor
doméstico.
(…)
Muitas
empresas aproveitaram o recurso ao teletrabalho para pouparem custos fixos, imputando-os
aos trabalhadores.
(…)
No
estado espanhol, desde setembro, a nova lei do teletrabalho determina que os
teletrabalhadores têm de ser compensados pelo acréscimo deste conjunto de
despesas.
(…)
Neste
momento, com o pretexto da “proteção de dados”, as empresas estão a negar a
sindicatos e a comissões de trabalhadores a possibilidade de contacto com os
trabalhadores que estão em casa, o que põe em causa uma condição elementar de
democracia laboral.
(…)
Mesmo
quando a lei parece ser clara, têm surgido problemas.
(…)
O
teletrabalho acentuou inquestionavelmente a diluição das fronteiras
tradicionais entre vida profissional e pessoal, entre o espaço da empresa e o
da casa.
(…)
[Deve-se]
estabelecer um “dever de desconexão profissional” por parte dos empregadores,
durante o tempo de descanso do trabalhador, para contrariar uma prática
generalizada de abuso.
(…)
[O
teletrabalho] não vai desparecer.
José Soeiro, “Expresso” Diário
A vacinação em massa é, portanto, o objetivo urgente para
combater a pandemia.
(…)
As vacinas já estão a salvar vidas no nosso país e no mundo,
mas a sua escassez ainda deixa indefesas milhões de pessoas.
(…)
[Não há falta de encomendas] podíamos até acusar alguns
países de ter a vontade de açambarcar vacinas tais são as quantidades que
contratualizaram às farmacêuticas.
(…)
As farmacêuticas aceitaram chorudos pagamentos quando
assinaram o calendário para a entrega das centenas de milhões de doses que,
agora, estão a chegar com atraso.
(…)
O ritmo a que as vacinas são produzidas está muito longe do
que foi contratualizado e ainda mais do que era preciso à escala mundial.
(…)
[É] duvidoso que as farmacêuticas estejam a fazer o possível
para cumprir o que tinham prometido.
(…)
O que falta é a partilha da tecnologia para se poder
multiplicar os locais de produção.
(…)
Já percebemos que a partilha da tecnologia das farmacêuticas
não está nas suas intenções.
(…)
No entanto, o investimento para o desenvolvimento e a
testagem das vacinas foi feito sem risco para estas multinacionais.
(…)
Os cidadãos pagam, mas não mandam.
(…)
Haja vontade política, não estamos condenados a esta escassez
de vacinas.
(…)
O Governo português, estando na presidência do
conselho da União Europeia pode e deve tomar a dianteira do debate que
liberte as patentes das vacinas.
(…)
As vidas humanas valem mais do que o lucro das farmacêuticas.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
O investimento público na proteção às
empresas e às pessoas (neste caso proteções magras) tiveram efeito muito
positivo na defesa do emprego e no mitigar da pobreza.
(…)
É urgente: reforçar com meios humanos e
técnicos o SNS; investir na escola há muito depauperada (…); repor equilíbrio
financeiro no sistema de Segurança Social (…); capacitar e modernizar a
administração pública e a sua presença em todo o território.
(…)
É imprescindível investir na
industrialização.
(…)
A pandemia não produziu, com significado,
ruturas no modelo económico nem gerou novas formas de pobreza.
(…)
A vulnerabilidade estrutural da nossa
economia ressurgirá sempre perante qualquer crise ou minicrise e impede o
desenvolvimento.
(…)
Quanto à pobreza (…) ela vem de um
passado longo e tem como origem os baixos salários, as precariedades, a
insuficiente proteção social, as políticas orçamentais de
"poupadinho".
O Ministério de Educação ameaçou os professores deste país,
que são contratados há inúmeros anos, que procuram um lugar de quadro, alguns
há décadas, que se não estiverem dispostos a concorrer e aceitar um lugar de
quadro de Valença a Faro, não poderão
celebrar contrato no ano letivo seguinte, ficam liminarmente impedidos.
(…)
Numa altura em que houve um esforço brutal da maioria, com os
riscos associados para se conseguir levar o ano letivo a bom porto, este é uma
facada nas costas dos professores.
(…)
O Governo se quer ter uma escola pública de qualidade, comece
por tratar com respeito os profissionais de educação, pois o futuro de um país
é medido pela educação que se tem.
Sara Bordalo Gonçalves, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário