Os dados parecem sofrer muito pouca variação ao longo das
últimas duas décadas: cerca de um quinto da população portuguesa, 1,7 milhões
de pessoas, vive em situação de pobreza.
(…)
O acesso ao trabalho remunerado e a um salário não permite, para
centenas de milhares de pessoas, escapar da pobreza.
(…)
Mais de um em cada dez trabalhadores portugueses (10,8% dos
indivíduos empregados) ganha tão pouco que é pobre.
(…)
Quase metade dos desempregados (44,8%) são pobres, uma proporção
que tem aumentado e que resulta, em grande medida, da precariedade.
(…)
As mulheres estão, em geral, mais expostas à pobreza,
particularmente numa situação de velhice. O mesmo acontece com as minorias
étnicas.
(…)
O Rendimento Social de Inserção tem um valor médio (119 euros
mensais) que é cerca de um quarto do limiar de pobreza.
(…)
Ao flutuar consoante o rendimento mediano, [ao limiar da
pobreza] escapa-lhe a dimensão absoluta.
(…)
Ao estabelecer uma linha da pobreza, por um euro se está dentro
e por um euro se está fora.
(…)
Ela não dá conta, por si só, nem da intensidade nem da
persistência da pobreza.
(…)
Ao considerar o rendimento do agregado, subestima a pobreza das
mulheres e das crianças.
(…)
E como sempre, os dados disponíveis estão necessariamente “em
atraso”.
José Soeiro, “Expresso” Diário
[O] acréscimo extraordinário da poupança é particularmente
evidente no Canadá e nos EUA, onde chegará a 10% do PIB, menos acentuado em
França e na Alemanha, onde ainda assim supera os 2% do PIB.
(…)
Na Europa, os dados indicam que é sobretudo quem tem mais que
poupa mais, sendo que os pobres e remediados têm pouca margem para poupança,
como acontece normalmente.
(…)
Nos EUA, foram sobretudo os mais pobres que pouparam mais.
(…)
Entram aqui os alarmistas, avisando que as poupanças poderão ser
gastas freneticamente quando acabar a pandemia e que isso impulsionaria uma
alta inflação.
(…)
O efeito inflacionista pode ser reduzido e é importante começar a
transição climática.
(…)
No caso português, a experiência diz-nos que os consumidores são
cuidadosos e não vão gastar do dia para a noite os mais 13,1 mil milhões de
euros que depositaram nos bancos desde o início da pandemia.
(…)
O temor da inflação é exagerado, uma modesta recuperação não
criará espiral de preços e é prudente manter a política de apoio ao
investimento e emprego.
(…)
Voltar a medidas recessivas, como políticas monetárias restritivas,
seria criminoso.
Francisco Louçã, “Expresso”
Economia (sem
link)
A corrupção é o pântano - um lamaçal que mancha
instituições, democracias, países.
(…)
Como combater a corrupção? É uma pergunta que
vem de longe e cuja resposta nunca é satisfatória.
(…)
[Al Capone foi preso] por fraude fiscal.
(…)
O combate à corrupção exige meios, leis e
transparência.
(…)
[O reforço das competências de
investigação] é uma necessidade imperiosa, pois a vida mostra que os crimes de
corrupção são cada vez mais elaborados e fazem uso dos recursos que a
globalização lhes colocou ao dispor, como os offshore.
(…)
Não há justiça a sério se não investirmos o
necessário para esse objetivo.
(…)
Partindo da mais recente alteração à lei, que
reforçou as obrigações de declaração de rendimentos e património de titulares
de cargos políticos e altos cargos públicos, [a Associação Sindical dos Juízes
Portugueses] sugere acrescer uma obrigação de justificação de incrementos
patrimoniais.
(…)
Ainda é possível fazer mais no combate às
portas giratórias, regimes de incompatibilidades ou impedimentos: acabar de vez
com a promiscuidade entre público e privado.
(…)
O país exige uma resposta qualificada no
combate à corrupção, esse deve ser um desígnio nacional. Não podemos falhar.
Pedro Filipe Soares,
“Público” (sem
link)
A economia do nosso país e a vida
de grande parte dos portugueses estão hoje muito dependentes de apoios
temporários e precários, como é o caso das moratórias e do layoff.
(…)
A crise que nos aprisiona é uma
espécie de mãe de muitas outras crises, cheias de incertezas.
(…)
[Em 2020 a UE] aprovou financiamentos relativamente abundantes, a crédito e
a fundo perdido.
(…)
[O Governo português orçamentou pouco e
executou ainda menos]. Portugal alcandorou-se ao
pódio dos países que menos protegeram os cidadãos e as empresas.
(…)
O layoff passará de extraordinário
ao que normalmente é, a antecâmara de despedimentos, em particular coletivos.
(…)
As medidas de magro apoio a
quem ficou sem rendimento serão levantadas; o mesmo se perspetiva para as
moratórias e para o crédito, resultando daí exigências de reembolso e de
pagamento de juros, por parte da Banca.
(…)
O grande desafio ao Governo
e aos atores políticos e económicos parece simples, mas é exigente: ver o que é
claro.
(…)
Ao longo do tempo,
diferentes governos em diversas crises agiram no pressuposto de que os
trabalhadores que ficam desempregados e os pequenos empresários falidos se vão
desenrascando através de fuga para a economia informal, o que é sempre um grave
erro.
(…)
Todos sabemos que o
empobrecimento e o desespero são inimigos da democracia.
Parece haver uma
infantilidade inadmissível na forma como Ivo Rosa desvaloriza o "poder de
facto" dos arguidos.
(…)
Com todos os olhos em
Sócrates – (…) – seria interessante olhar também para Ricardo Salgado, Armando
Vara, Zeinal Bava e tantos outros.
O inglês Thomas Paine, um dos «pais fundadores»
dos Estados Unidos, que também influenciou com as suas ideias os anos decisivos
da Revolução Francesa, disseminou grande parte das convicções progressistas
justamente através do panfleto.
(…)
As revoluções que percorreram os séculos XIX e
XX, os movimentos sociais que se foram sucedendo, as lutas emancipatórias e de
libertação nacional que vieram de seguida, encontraram no panfleto – numerosas
vezes disseminado também sob a forma de artigo de jornal – um veículo essencial
de propagação.
Rui Bebiano, “Diário as beiras”
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