(…)
Por
isso, o que aqui está em causa é a democracia, que deve significar
responsabilidade, acesso livre e transparência de regras.
(…)
Ainda
me consigo surpreender com a virulência das redes sociais, em particular de quem
festeja os assaltantes, usando para isso argumentos que dizem muito da banalização
das culturas de ódio.
(…)
O que
no caso da Impresa está em risco já não são só dados, é também o acesso a um
canal de informação e sem informação não vivemos.
(…)
Não é
esta máfia que vai corrigir a monopolização da imprensa.
(…)
Porque
é que estamos tão vulneráveis?
(…)
Uma
resposta séria é que essas falhas globais na segurança da comunicação são estruturais,
o resultado da forma como se constituiu e é governado este sistema.
(…)
Talvez
os métodos sejam menos diferentes do que aparentam, mas o objetivo da rapina é
certamente outro.
(…)
É [a
apropriação de] tudo, isto é o empreendimento mais totalitário jamais concebido
e produzido.
(…)
O que
o mercado plataformizado absorve, produz e reproduz é essa respiração da nossa
vida – e é por isso mesmo que a disputa pela liberdade de comunicação é tão
decisiva.
(…)
O
poder de dirigir a infraestrutura civilizacional é uma das grandes batalhas do
nosso tempo, se não a maior.
(…)
Uma só
[empresa monumental] controla o modo de vida de mais de um terço da Humanidade.
(…)
[Como
acontece no caso deste ataque] aparece quem crie uma linha de negócio de
resgates para aterrorizar empresas e lucrar com isso.
(…)
A
tecnologia deste crime depende de criptomoedas e contas anónimas em bancos
offshore.
(…)
O uso
deste espaço público de comunicação tem sido concessionado a empresas,
sobretudo a gigantes.
(…)
Havendo
valor, há o incentivo opara o roubo e entram nesse mercado os ladrões.
(…)
Deve
ser o poder público, democraticamente controlável, a gerir diretamente a
infraestrutura.
(…)
Como a
liberdade de comunicação é um bem comum da Humanidade, é um espaço essencial
que deve ser defendido do crime da manipulação.
(…)
A
certeza da acessibilidade à comunicação, contra a poluição ou o roubo, deve ser
uma das garantias fundamentais da nossa segurança coletiva e individual.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
[Nos microdebates entre candidatos às
legislativas] temos, todos os dias, uma janela escancarada para um alfabeto
inteiro sobre o retrocesso civilizacional.
(…)
A cerca sanitária não está a ser erguida
pelo jornalismo e pela maioria dos candidatos, que parecem não perceber quão
fácil seria dizer "não" a uma discussão que desce todos os patamares
de dignidade.
(…)
Se há marca de água que ficará para
sempre destes debates, será a forma como Rui Rio se sensibilizou para abraçar
uma proposta da extrema-direita sobre prisão perpétua.
(…)
Fazer micro ou nanodebates de 25 minutos
é o maior serviço que a Comunicação Social faz, em liberdade e democracia, ao
crescimento da extrema- -direita.
(…)
A culpa vive nos braços daqueles
comentadores que, valha o que valer e independentemente das regras, entendem
que o KO se exige num debate e que só existe quando se leva o adversário,
rasgado, ao tapete.
André
Ventura é o candidato que dá audiências e até as suas falhas de caráter são
valiosas.
(…)
Todos,
incluindo os eleitores de Ventura veem a sua capacidade de debitar mentiras sem
ser apanhado como uma qualidade performativa.
(…)
Quando
um candidato debate com Ventura sabe que está perante um político, que
oferecendo boas audiências, está liberto de regras. Isso torna o debate
impossível.
(…)
O
objetivo de Catarina Martins nesta campanha é contrarias a estratégia de bipolarização
de Costa, não é medir-se com Ventura.
(…)
Seria
absurdo [Catarina Martins] atirar-se para a lama com Ventura, destruindo à
partida a postura mais moderada e serena que decidiu ter na campanha.
(…)
Restava-lhe
reafirmar valores fundamentais, evidentes em debates sobre o RSI ou os
refugiados, e que a corrupção não é um tema da extrema-direita.
(…)
Quem
disputa o eleitorado com Ventura é a direita. (…) Não permitindo que Ventura
determine a agenda, diferenciando-se nos princípios e deixando claro que o
Chega não conta para um novo Governo.
(…)
Rui
Rio falhou nos três objetivos.
(…)
Ficou
a fundada suspeita de que a negociação [do PSD] com o Chega é possível, desde
que fique fora do Governo.
(…)
O
problema de Costa é oposto ao de Rio: onde Costa fecha demasiado o jogo,
ficando com poucas alternativas de Governo para além da improvável maioria
absoluta, Rio abre-o em demasia, desdramatizando o voto em qualquer outro.
(…)
Sem
2015 Costa nunca teria sido primeiro-ministro e a sua carreira política teria
terminado ali .
(…)
Quem
tudo quer tudo perde. Costa está a enfiar-se num beco sem saída.
(…)
Se Rio
atravessa pontes que deviam estar fechadas, normalizando Ventura, Costa
dinamita todas, à esquerda e à direita.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Não há
nada de original na emergência do Chega como fenómeno político.
(…)
Era
mesmo uma questão de tempo que tivéssemos uma formação política que combinasse
populismo, xenofobia, e discurso anti-humanista.
(…)
O que surpreende
(…) é ter demorado tanto tempo a termos um partido assumidamente contra o
regime constitucional com representação parlamentar.
(…)
Com a
entrada no Parlamento, as formações populistas ganham visibilidade.
(…)
O que
é mesmo singular é a velocidade com que o Chega foi tolerado como interlocutor
pela direita clássica e liberal.
(…)
O que
se passou no frente-a-frente entre Rio e Ventura é incompreensível.
(…)
Não têm
faltado oportunidades a Rio para fechar com estrondo a porta a qualquer tipo de
diálogo com [o Chega].
[o PSD
devia pôr os olhos na lição de Merkel] quando, com determinação moral, negou
qualquer possibilidade de negociação com a sinistra AfD.
Pedro Adão e Silva, “Expresso”
(sem link)
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