(…)
Toda a
gente receberá do Estado o suficiente para viver.
(…)
Para as pessoas necessitadas, esta promessa é
fabulosa: ficaria assegurada a sua vida com o mínimo de conforto e segurança.
(…)
Há mesmo uma filosofia new age na base desta
conversa: deve ser incondicional porque é mais simples e não tem burocracia,
paga-se e pronto.
(…)
[No entanto, quem apresenta uma proposta deste
tipo em eleições fica] incomodado com a pergunta lógica: e faz a fineza de me
explicar como é que isso se paga?
(…)
Assistir à resposta de Inês Sousa Real e de Rui
Tavares a esta questão tão banal tem sido penoso.
(…)
As suas estratégias são simplesmente tocar e
fugir.
(…)
Sousa Real diz que esse rendimento é para
vítimas de violência doméstica.
(…)
Tavares diz que é uma “experiência” para pouca
gente, tão pequena que qualquer autarquia a possa financiar, embora o seu
programa eleitoral assegure que se trata de um avanço faseado para uma
cobertura total.
(…)
[Trata-se] de “distribuir a riqueza nacional
produzida” e a toda a gente, somos 10,5 milhões de pessoas em Portugal.
(…)
Quem participa, como participa, quanto tempo
dura, quais são os protocolos, os incentivos e os critérios de avaliação da “experiencia”,
isso fica no segredo do “cientista”.
(…)
Não deixa de ser um grandioso objetivo, mas não
pergunte nem como nem quando.
(…)
Os proponentes não apresentam a conta, nem
nunca o farão.
(…)
reconhecendo que os promotores da ideia já
apresentam isto há seis anos e tiveram tempo para pensar no assunto, é óbvio
que fizeram esta conta e estão numa encruzilhada.
(…)
Resta ainda o melhor dos argumentos: é que isto
já existe.
(…)
O RBI existe no Alasca, onde são distribuídos
lucros do petróleo (e cada pessoa recebe o equivalente a 70 euros por mês) ou
em Macau onde são distribuídos lucros do jogo (e cada pessoa recebe cerca de 90
euros por mês).
(…)
[Em Portugal, onde não há petróleo nem casinos
suficientes] nunca serão ditos os valores em causa, perde-se a magia da
proposta.
(…)
Afinal, a cura para os males da sociedade não
vem de um milagre.
Francisco Louçã, “Expresso”
(sem link)
A icónica violência teatral
do debate entre Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura, colírio
delirante de frases pré-feitas por assessores dedicados e debitadas com o
orgulho de quem sabe que vai produzir um sound-byte.
(…)
[Chicão] entrou no
território de lama que Ventura tão bem habita como animal (político) que é e
desceu ao nível que lhe permitiu sovar o adversário, sem qualquer espécie de
vergonha, em sucessivos "rounds".
(…)
Francisco pode ter
acrescentado mais uns pós percentuais à votação de dia 30, invertendo o
previsível desaparecimento do seu partido.
(…)
Talvez tenha retirado
alguns pontos percentuais ao retrocesso civilizacional que o Chega representa,
recebendo alguns dos seus ex-militantes de volta.
(…)
Talvez tenho exposto, como
ninguém, as fragilidades, mentiras, contradições e a falta de noção de Ventura.
(…)
Porque há vida para além
dos debates, António Ramalho continua a ser o presidente executivo do Novo
Banco, mesmo quando o BCE investiga a relação entre ambos.
(…)
Eis a idoneidade de quem é
acusado pelo Inspector Tributário (na operação "Cartão Vermelho") de
ter concertado posições com um dos maiores devedores do Novo Banco [Luís
Filipe Vieira].
(…)
António Ramalho, jogando na
lama, sem pudor e, estranhamente, sem que ninguém o leve ao tapete apesar da
indignação de alguma oposição à Esquerda.
O desempenho do secretário-geral começa a ser
posto em causa.
(…)
Conseguirá neste segundo mandato inflectir o
que hoje se pensa do seu desempenho?
(…)
[Guterres] exagerou
no seu low profile e contribuiu para que a ONU deixasse de ser reconhecida
como uma autoridade internacional relevante.
(…)
[Guterres] assumiu um padrão de conduta
pautado pela preocupação em não criar atritos com nenhum dos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança, em especial com os EUA.
(…)
António
Guterres é o oposto de um líder inspirador que mostre a diferença da ONU num
mundo cada vez mais multipolar e a caminhar para confrontações mais e mais
ameaçadoras.
(…)
[Por exemplo Kofi Annan] foi um promotor
activo da agenda dos direitos humanos e introduziu um conjunto de inovações com
grande alcance.
(…)
Perante questões internacionais particularmente
relevantes, Kofi Annan costumava antecipar-se aos líderes internacionais para
vincar a posição da ONU.
(…)
António
Guterres raramente toma a dianteira, e quando o faz é depois de se certificar
que a questão já não é polémica (por exemplo, a crise climática).
(…)
A
nomeação de Michelle Bachelet para o cargo [de alto-comissário para os Direitos Humanos] viria
a confirmar as suspeitas de que António Guterres quer acima de tudo altos
funcionários que não criem problemas, sobretudo aos EUA.
(…)
Todos
reconhecem o excelente desempenho de António Guterres enquanto alto-comissário
para os Refugiados e, em retrospecto, esse facto talvez explique o contraste
com o desempenho do secretário-geral até agora.
(…)
Saliento,
entre muitas outras, uma área em que pode fazer a diferença e devolver à ONU o
estatuto de farol de esperança para o mundo, como já foi o seu: a área dos
direitos humanos.
(…)
É hoje evidente que, enquanto o mundo não for
quase todo vacinado, não haverá segurança sanitária global.
(…)
As suas [das empresas farmacêuticas] projecções
de lucro, com o que já se designa por “ouro líquido”, são fabulosas.
(…)
Tais lucros são injustificáveis, uma vez que o
financiamento da investigação foi predominantemente público.
(…)
O
debate sobre a suspensão das patentes está em curso na Organização Mundial do
Comércio onde, como sabemos, a solução default
é decidir a favor das empresas.
(…)
Enquanto
os países ricos já vacinaram mais de 60% da população com várias doses, os
países africanos apenas vacinaram 6% e só com uma dose.
(…)
Há um
clamor mundial para pôr termo a esta grosseira injustiça que, para mais, deixa
o mundo inseguro no seu todo.
(…)
Esta é a grande oportunidade para António
Guterres se afirmar como um líder mundial.
(…)
Não poderá continuar escondido atrás da OMS e
ficar-se por afirmações abstractas e supercautelosas como tem feito até agora.
Boaventura Sousa Santos,
“Público” (sem
link)
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