quarta-feira, 15 de junho de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (07)

 
Nas palavras da diretora geral da Uber, Giovanna D’Esposito, em Portugal existe um verdadeiro “modelo de ouro” para a empresa.

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Há um rápido crescimento da procura; uma mão de obra qualificada e extremamente barata.

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[A ausência de decisões judiciais a determinarem] a atribuição de responsabilidades patronais às plataformas digitais.

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E um ambiente institucional totalmente favorável a estas empresas.

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Portugal, onde se estima existirem já cerca de 100 mil trabalhadores de plataformas é, a este nível, um caso originalíssimo.

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Desde 2016, por todo o mundo, tem havido um intenso “movimento jurisprudencial” de reconhecimento pelos tribunais do direito de motoristas e estafetas que trabalham com as plataformas digitais () a um contrato de trabalho. 

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No nosso país, pelo contrário, foi feita uma lei (a 45/2018, conhecida como “Lei Uber”) para impedir essa possibilidade.

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As multinacionais escapam assim completamente ao direito do trabalho.

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Em dezembro de 2021, foi a própria Comissão Europeia a propor uma diretiva, ainda em discussão, para “melhorar as condições de trabalho nas plataformas digitais”.

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Só que afinal não. Ao arrepio do que acontece noutros países, (…) o Governo, à última da hora e sem aviso público, cedeu em toda a linha ao poderosíssimo lóbi das multinacionais e dos patrões das plataformas digitais. 

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Com um acrescento cirúrgico mas explosivo, ficam repostas as condições para o “modelo de ouro” das plataformas, feito à custa da exploração e da inexistência de direitos laborais. 

José Soeiro, “Expresso” online

 

De entre todas as indicações que a primeira volta das eleições francesas acaba de nos dar, a mais ridícula talvez seja o jogo sinuoso das décimas.

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O ministério do interior de França (e a imprensa que preferiu segui-lo) inverte os resultados para proclamar a vitória de campo presidencial.

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[Os críticos] protestam contra a falsificação das contas e perguntam como, para obter um resultado manipulado, são excluídos das contas da esquerda alguns dos seus candidatos. 

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[Havendo segunda volta], aceitar que Macron foi humilhado pela ligeira vantagem de Mélenchon seria um sinal, mas não mais do que um sinal. 

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No entanto, o ministério francês não hesita em expor-se a esta espantosa querela, para sugerir uma vantagem que os votos não deram ao seu governo.

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[Ursula von der Leyen] improvisou uma viagem de surpresa a Kiev para garantir o que já tinha repetido e se sabe ser um truque, que o processo de adesão da Ucrânia será tratado com a máxima presteza.

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Fê-lo por uma única razão, para responder à tempestade criada pelo abandono das condições propostas à Polónia em troco do financiamento do seu PRR.

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Suponho que [Ursula von der Leyen] não se lembrou de que cria novos problemas, outros estados estão na fila e os vetos cruzados não permitem concretizar esta manobra.

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Biombos são igualmente os arranjos em quatro outras coligações governantes [na Estónia, na Bulgária, na Suécia e em Itália].

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Em Itália, Draghi tem em mãos o problema dos ministros de Salvini: a embaixada da Rússia, em claro despeito pelas promessas traídas, revelou que pagou a viagem do líder da extrema-direita e da sua comitiva a Moscovo, que acabou por não se realizar.

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Na quinta-feira, Draghi, Scholz e Macron vão fazer-se fotografar em Kiev e vão prometer que a Ucrânia e a Moldova entram na lista de candidatos à União.

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Não há nada de mais tranquilo do que um biombo.

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

Perante uma plateia de jovens, António Costa fez um apelo: que o salário médio crescesse 20% nos próximos quatro anos. 

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Perante uma inflação prevista no Orçamento de 4%, que já está nos 8%, o Governo impôs um aumento salarial de 0,9% aos funcionários públicos. 

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Isto corresponde a uma brutal queda do salário real. 

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Fernando Medina e António Costa têm defendido esta brutal perda de rendimentos com o argumento da cautela.

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A diferença é que os apelos saem de graça.

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Usar a redução dos salários reais em Portugal para conter esta inflação é como tentar abater um míssil com uma fisga

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Os trabalhadores não têm sido proporcionalmente beneficiados pelo aumento da produtividade e continuarão a não o ser. 

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O primeiro problema é a perda de poder negocial dos trabalhadores e as leis que subordinam o trabalho, impostas pela troika e ainda em vigor. 

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Como os aumentos salariais dependem da economia e da negociação para partilhar os seus ganhos, Costa não está a fazer nada nesse campo.

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As vulnerabilidades da nossa economia têm razões estruturais, históricas e até externas.

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Uma economia que se baseia em baixos salários é uma economia que não acrescenta valor.

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O baixo salário é um mau hábito concorrencial que alimenta maus gestores e más empresas.

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O aumento do salário médio não é só um imperativo de justiça social. É um imperativo económico.

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Com palavras não se fazem milagres.

Daniel Oliveira, “Expresso” online


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