(…)
Há um rápido crescimento da procura; uma mão de obra
qualificada e extremamente barata.
(…)
[A ausência de decisões judiciais a determinarem] a
atribuição de responsabilidades patronais às plataformas digitais.
(…)
E um ambiente institucional totalmente favorável a estas
empresas.
(…)
Portugal, onde se estima existirem já cerca de 100 mil
trabalhadores de plataformas é, a este nível, um caso originalíssimo.
(…)
Desde 2016, por todo o mundo, tem havido um intenso
“movimento jurisprudencial” de reconhecimento pelos tribunais do direito de
motoristas e estafetas que trabalham com as plataformas digitais (…) a um contrato de
trabalho.
(…)
No nosso país, pelo contrário, foi feita uma lei (a 45/2018,
conhecida como “Lei Uber”) para impedir essa possibilidade.
(…)
As multinacionais escapam assim completamente ao direito do
trabalho.
(…)
Em dezembro de 2021, foi a própria Comissão Europeia a propor
uma diretiva, ainda em discussão, para “melhorar as condições de trabalho nas
plataformas digitais”.
(…)
Só que afinal não. Ao arrepio do que acontece noutros países,
(…) o Governo, à última da hora e sem aviso público, cedeu em toda a linha ao
poderosíssimo lóbi das multinacionais e dos patrões das plataformas digitais.
(…)
Com um acrescento cirúrgico mas explosivo, ficam repostas as
condições para o “modelo de ouro” das plataformas, feito à custa da exploração
e da inexistência de direitos laborais.
José Soeiro, “Expresso” online
De entre todas as indicações que a primeira volta das
eleições francesas acaba de nos dar, a mais ridícula talvez seja o jogo sinuoso
das décimas.
(…)
O ministério do interior de França (e a imprensa que preferiu
segui-lo) inverte os resultados para proclamar a vitória de campo presidencial.
(…)
[Os críticos] protestam contra a falsificação das contas e
perguntam como, para obter um resultado manipulado, são excluídos das contas da
esquerda alguns dos seus candidatos.
(…)
[Havendo segunda volta], aceitar que Macron foi humilhado
pela ligeira vantagem de Mélenchon seria um sinal, mas não mais do que um
sinal.
(…)
No entanto, o ministério francês não hesita em expor-se a
esta espantosa querela, para sugerir uma vantagem que os votos não deram ao seu
governo.
(…)
[Ursula von der Leyen] improvisou uma viagem de
surpresa a Kiev para garantir o que já tinha repetido e se sabe ser um truque,
que o processo de adesão da Ucrânia será tratado com a máxima presteza.
(…)
Fê-lo por uma única razão, para responder à tempestade criada
pelo abandono das condições propostas à Polónia em troco do financiamento do
seu PRR.
(…)
Suponho que [Ursula von der Leyen] não se lembrou de
que cria novos problemas, outros estados estão na fila e os vetos cruzados não
permitem concretizar esta manobra.
(…)
Biombos são igualmente os arranjos em quatro outras
coligações governantes [na Estónia, na Bulgária, na Suécia e em Itália].
(…)
Em Itália, Draghi tem em mãos o problema dos ministros de
Salvini: a embaixada da Rússia, em claro despeito pelas promessas traídas,
revelou que pagou a viagem do líder da extrema-direita e da sua comitiva a
Moscovo, que acabou por não se realizar.
(…)
Na quinta-feira, Draghi, Scholz e Macron vão fazer-se
fotografar em Kiev e vão prometer que a Ucrânia e a Moldova entram na lista de
candidatos à União.
(…)
Não há nada de mais tranquilo do que um biombo.
Francisco Louçã, “Expresso” online
Perante uma plateia de jovens, António Costa fez um apelo:
que o salário médio crescesse 20% nos próximos quatro anos.
(…)
Perante uma inflação prevista no Orçamento de 4%, que já está
nos 8%, o Governo impôs um aumento salarial de 0,9% aos funcionários públicos.
(…)
Isto corresponde a uma brutal queda do salário real.
(…)
Fernando Medina e António Costa têm defendido esta brutal
perda de rendimentos com o argumento da cautela.
(…)
A diferença é que os apelos saem de graça.
(…)
Usar a redução dos salários reais em Portugal para conter
esta inflação é como tentar abater
um míssil com uma fisga.
(…)
Os trabalhadores não têm sido proporcionalmente beneficiados
pelo aumento da produtividade e continuarão a não o ser.
(…)
O primeiro problema é a perda de poder negocial dos
trabalhadores e as leis que subordinam o trabalho, impostas pela troika e ainda
em vigor.
(…)
Como os aumentos salariais dependem da economia e da
negociação para partilhar os seus ganhos, Costa não está a fazer nada nesse
campo.
(…)
As vulnerabilidades da nossa economia têm razões estruturais,
históricas e até externas.
(…)
Uma economia que se baseia em baixos salários é uma economia
que não acrescenta valor.
(…)
O baixo salário é um mau hábito concorrencial que alimenta
maus gestores e más empresas.
(…)
O aumento do salário médio não é só um imperativo de justiça
social. É um imperativo económico.
(…)
Com palavras não se fazem milagres.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
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