quarta-feira, 29 de junho de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (09)

 
A decisão do Supremo Tribunal norte-americano retirando a protecção constitucional ao direito ao aborto não foi uma surpresa.

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E isto não fica por aqui.

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O programa parece ousado, mas a deliberação da última semana demonstra que não há limites para este poder de redefinição social que o tribunal reclama.

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É certo que vários estados não alterarão a sua legislação sobre o direito de escolha e até promoverão o acesso de mulheres dos estados proibicionistas.

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Mas esta divisão tem sido um instrumento útil na deslocação da direita republicana para o extremismo religioso.

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Não se vê como a maioria na Califórnia ou em Nova Iorque possa ser destroçada pelo fundamentalismo religioso e os democratas descobriram mesmo nesta campanha uma luz no fundo do túnel das eleições.

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Não há uma resposta fácil à questão de saber se uma eventual nova vaga de trumpização pode levar a uma ordem política baseada num dogma religioso integrista.

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Os juízes conservadores do Supremo estão a dar forma à fundamentação da política numa teocracia, o que constitui a forma do poder absoluto mais inexpugnável.

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Estão assim a ser anunciadas três mutações definidoras do nosso tempo: no discurso referencial da identidade da direita (…), na perceção que impulsiona sobre o território da coisa pública (…) e, ainda, no modo de constituição da autoridade, que busca uma relação de obediência com base da devoção.

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Na direita portuguesa, alguns apercebem-se do perigo que este acantonamento representa e contestam-no (aqui), enquanto outros se refugiam no silêncio pesado [Observador].

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

As marchas de orgulho [LGBTQ+] que acontecem este ano em mais de 20 cidades portuguesas já trouxeram à rua dezenas de milhares de pessoas.

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É impossível não considerá-las um dos grandes acontecimentos do presente. 

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É um arco-íris que atravessa o país, com manifestações que são, em algumas localidades, as maiores desde o tempo do “Que se Lixe a Troika”, que em 2013 chegou a 40 cidades. 

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A data [28 junho, em que se assinala o aniversário da rebelião de Stonewall] passou a ser, desde 1970, o dia do orgulho.

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Este acontecimento fundacional do movimento, esta resposta coletiva à repressão, trouxe a experiência da dissidência sexual e das vivências LGBTQ+ para o espaço público e para o campo político.

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Foi nessa sequência histórica dos “longos anos sessenta” que explodiram também as lutas anticoloniais, o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, a segunda vaga do feminismo, a contracultura hippie e a revolução sexual.

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Em Portugal, a revolta de Stonewall foi assinalada pela primeira vez apenas em 1995, por iniciativa do Grupo de Trabalho Homossexual do PSR, um coletivo nascido 4 anos antes. 

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[Durante a ditadura] a repressão era múltipla, insidiosa e em muitos casos implacável.

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A Revolução do 25 de abril abriu as portas, logo em maio desse ano, ao primeiro manifesto LGBT publicado nos jornais da época.

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Só a partir desse ano [1996], o movimento começa a ter as primeiras conquistas legais suscitadas diretamente pela sua ação.

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Foi o ativismo e a mobilização que arrancaram ao poder político um vasto leque de mudanças legislativas e de políticas públicas nos últimos vinte anos.

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O que se avançou entretanto é impressionante, embora esteja muito longe do que é preciso.

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A LGBTQfobia e as suas múltiplas formas de violência continuam a marcar o quotidiano de milhares de pessoas, há uma nova onda de ódio conservador.

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As marchas são contudo, provavelmente, o mais impressionante fenómeno de mobilização coletiva que hoje existe no país.

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As marchas são, na sua diversidade interna, intrinsecamente interseccionais, articulando agendas em lugar de as isolar, conjugando a luta pela liberdade com a luta contra todas as formas de opressão e de exploração. 

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E são, sem dúvida, um exemplo de consistência: há 20 anos que não páram de crescer. 

José Soeiro, “Expresso” online

 

Nas invasões do Iraque pelos EUA e da Ucrânia pela Rússia há essa semelhança, ambos os países foram invadidos.

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Qualquer uma das invasões violou do modo mais grosseiro e violento o direito internacional.

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Tomando as duas invasões não serão achadas semelhanças quanto às reações do e no mundo ocidental.

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A invasão iraquiana causou mais de cem mil mortos, a da Ucrânia ainda não acabou, mas os media falam do número assustador de mortos russos pelos soldados ucranianos (verdade ou propaganda?).

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Quem esteve atento àquele ano de 2003 lembrar-se-á das “boas” intenções dos bombardeamentos dos EUA para descobrir as armas de destruição massiva, não havia crianças nem idosos mortos nos canais televisivos, eram danos colaterais.

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Na Ucrânia, os idosos, as crianças mortas e os hospitais destruídos entram-nos pelos olhos dentro.

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George W. Bush, Tony Blair, Aznar, Barroso, Portas e companhia nunca foram apelidados de criminosos de guerra.

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Os refugiados iraquianos não foram aceites a não ser na Jordânia em condições infra-humanas, aliás o mesmo sucedeu com os refugiados sírios e afegãos.

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Não foi aplicado aos países invasores qualquer sanção.

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Os massacres cometidos em Falujja e noutras localidades não foram levados à Comissão dos Direitos Humanos da ONU e para os governantes ocidentais não chegaram a passar de uma maçada.

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Nem mesmo as torturas de Abu Grahib, nem as simulações de afogamento aplicadas aos presos políticos em Guantánamo.

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O mundo explodiu da Austrália ao Canadá contra a guerra e veio para as ruas para tentar impedir a invasão.

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Agora, essa explosão tem sobretudo lugar nos canais televisivos.

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Coloca-se a questão de saber se a humanidade vai, pelo exato e mesmo crime cometido, num caso pelo Presidente do país “guia” do Ocidente, George W. Bush, e noutro caso, pelo novo czar russo, Putin.

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Parece que [os governantes europeus] entregaram a Europa aos EUA, assumindo essa subalternidade.

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Não há imperialismos bons. As guerras são a crueldade no seu lado mais brutal, como se vê diariamente na Ucrânia e se viu no Iraque.

Domingos Lopes, “Público” (sem link)


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