(…)
E isto não fica por aqui.
(…)
O programa parece ousado, mas a deliberação da última semana
demonstra que não há limites para este poder de redefinição social que o
tribunal reclama.
(…)
É certo que vários estados não alterarão a sua legislação
sobre o direito de escolha e até promoverão o acesso de mulheres dos estados
proibicionistas.
(…)
Mas esta divisão tem sido um instrumento útil na deslocação
da direita republicana para o extremismo religioso.
(…)
Não se vê como a maioria na Califórnia ou em Nova Iorque
possa ser destroçada pelo fundamentalismo religioso e os democratas descobriram
mesmo nesta campanha uma luz no fundo do túnel das eleições.
(…)
Não há uma resposta fácil à questão de saber se uma eventual
nova vaga de trumpização pode levar a uma ordem política baseada num dogma
religioso integrista.
(…)
Os juízes conservadores do Supremo estão a dar forma à
fundamentação da política numa teocracia, o que constitui a forma do poder
absoluto mais inexpugnável.
(…)
Estão assim a ser anunciadas três mutações definidoras do
nosso tempo: no discurso referencial da identidade da direita (…), na perceção
que impulsiona sobre o território da coisa pública (…) e, ainda, no modo de
constituição da autoridade, que busca uma relação de obediência com base da
devoção.
(…)
Na direita portuguesa, alguns apercebem-se do perigo que este
acantonamento representa e contestam-no (aqui), enquanto outros se refugiam no silêncio pesado [Observador].
Francisco Louçã, “Expresso” online
As marchas de orgulho [LGBTQ+] que acontecem este ano em mais
de 20 cidades portuguesas já trouxeram à rua dezenas de milhares de pessoas.
(…)
É impossível não considerá-las um dos grandes acontecimentos
do presente.
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É um arco-íris que atravessa o país, com manifestações que
são, em algumas localidades, as maiores desde o tempo do “Que se Lixe a Troika”,
que em 2013 chegou a 40 cidades.
(…)
A data [28 junho, em que se assinala o aniversário da
rebelião de Stonewall] passou a ser, desde 1970, o dia do orgulho.
(…)
Este acontecimento fundacional do movimento, esta resposta
coletiva à repressão, trouxe a experiência da dissidência sexual e das
vivências LGBTQ+ para o espaço público e para o campo político.
(…)
Foi nessa sequência histórica dos “longos anos sessenta” que
explodiram também as lutas anticoloniais, o movimento pelos direitos civis nos
Estados Unidos, a segunda vaga do feminismo, a contracultura hippie e a
revolução sexual.
(…)
Em Portugal, a revolta de Stonewall foi assinalada pela
primeira vez apenas em 1995, por iniciativa do Grupo de Trabalho Homossexual do
PSR, um coletivo nascido 4 anos antes.
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[Durante a ditadura] a repressão era múltipla, insidiosa e em
muitos casos implacável.
(…)
A Revolução do 25 de abril abriu as portas, logo em maio
desse ano, ao primeiro manifesto LGBT publicado nos jornais da época.
(…)
Só a partir desse ano [1996], o movimento começa a ter as
primeiras conquistas legais suscitadas diretamente pela sua ação.
(…)
Foi o ativismo e a mobilização que arrancaram ao poder
político um vasto leque de mudanças legislativas e de políticas públicas nos
últimos vinte anos.
(…)
O que se avançou entretanto é impressionante, embora esteja
muito longe do que é preciso.
(…)
A LGBTQfobia e as suas múltiplas formas de violência
continuam a marcar o quotidiano de milhares de pessoas, há uma nova onda de
ódio conservador.
(…)
As marchas são contudo, provavelmente, o mais impressionante
fenómeno de mobilização coletiva que hoje existe no país.
(…)
As marchas são, na sua diversidade interna, intrinsecamente
interseccionais, articulando agendas em lugar de as isolar, conjugando a luta
pela liberdade com a luta contra todas as formas de opressão e de exploração.
(…)
E são, sem dúvida, um exemplo de consistência: há 20 anos que
não páram de crescer.
José Soeiro, “Expresso” online
Nas invasões do Iraque pelos
EUA e da Ucrânia pela Rússia há essa semelhança,
ambos os países foram invadidos.
(…)
Qualquer uma das invasões violou do modo mais grosseiro e
violento o direito internacional.
(…)
Tomando as duas invasões não serão achadas semelhanças quanto
às reações do e no mundo ocidental.
(…)
A
invasão iraquiana causou mais de cem mil mortos, a da Ucrânia ainda não acabou,
mas os media falam
do número assustador de mortos russos pelos soldados ucranianos (verdade ou
propaganda?).
(…)
Quem
esteve atento àquele ano de 2003 lembrar-se-á das “boas” intenções dos
bombardeamentos dos EUA para descobrir as armas de destruição massiva, não
havia crianças nem idosos mortos nos canais televisivos, eram danos colaterais.
(…)
Na Ucrânia, os idosos, as crianças mortas e os hospitais
destruídos entram-nos pelos olhos dentro.
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George W. Bush, Tony Blair, Aznar, Barroso, Portas e
companhia nunca foram apelidados de criminosos de guerra.
(…)
Os
refugiados iraquianos não foram aceites a não ser na Jordânia em condições
infra-humanas, aliás o mesmo sucedeu com os refugiados sírios e afegãos.
(…)
Não foi aplicado aos países invasores qualquer sanção.
(…)
Os
massacres cometidos em Falujja e noutras localidades não foram levados à
Comissão dos Direitos Humanos da ONU e para os governantes ocidentais não
chegaram a passar de uma maçada.
(…)
Nem mesmo as torturas de Abu Grahib, nem as simulações de
afogamento aplicadas aos presos políticos em Guantánamo.
(…)
O mundo explodiu da Austrália ao Canadá contra a guerra e
veio para as ruas para tentar impedir a invasão.
(…)
Agora, essa explosão tem sobretudo lugar nos canais
televisivos.
(…)
Coloca-se
a questão de saber se a humanidade vai, pelo exato e mesmo crime cometido, num
caso pelo Presidente do país “guia” do Ocidente, George W. Bush, e noutro caso,
pelo novo czar russo, Putin.
(…)
Parece que [os governantes europeus] entregaram a Europa aos
EUA, assumindo essa subalternidade.
(…)
Não há
imperialismos bons. As guerras são a crueldade no seu lado mais brutal, como se
vê diariamente na Ucrânia e se viu no Iraque.
Domingos Lopes, “Público” (sem link)
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