(…)
A
máquina funcionaria ao sabor da decisão dos banqueiros centrais, uma ideia que
sem dúvida os encantou.
(…)
[Após
décadas de funcionamento, a Curva de Phillips] foi assassinada por
Milton Friedman e outros economistas, que impuseram um novo dogma.
(…)
A
crítica de Friedman à economia de Phillips dava por certo que não existe no
longo prazo qualquer relação entre os efeitos da política monetária e a criação
de emprego.
(…)
Esta
doutrina propôs um modelo alternativo, determinando que o nível de emprego é
indiferente à variação dos preços.
(…)
Com Ronald
Reagan estabilizou-se o predomínio das ideias conservadoras de Friedman.
(…)
[Neste
longo período de inflação reduzida] o crescimento foi medíocre (e muito
desigual), o que levou os suspeitos do costume a perguntarem se não estaríamos
numa “estagnação secular”.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
David
Ratner e Jae Sim, dois investigadores da Reserva Federal norte-americana
(…) vieram agora dizer que tanto a explicação monetarista como a sua proposta
estão erradas.
(…)
Ao
longo dos anos, esta instituição tem sido um dos pilares da nova ortodoxia, mas
isso não impediu Ratner e Sim de se lançarem no perigoso caminho da heresia,
como refere com espanto o “Financial Times”.
(…)
Os
dois autores propõem um novo modelo de análise da variação entre a inflação e o
poder negocial dos trabalhadores, inspirados em Phillips e num seu predecessor,
Kalecki.
(…)
Segundo esse modelo, 87% da volatilidade da inflação é explicável pelo efeito
da perda de capacidade de negociação dos trabalhadores e não pela política
monetária.
(…)
Os
autores sublinham que a sindicalização caiu para metade nos EUA e no Reino Unido
nas últimas quatro décadas, ou que a atividade grevista se tornou residual.
(…)
O
rácio entre o salário mediano real e a produtividade se reduziu nos EUA em 37%
desde 1976.
(…)
Portanto,
são as maiores empresas que determinam a inflação, através do seu poder de
fixação de um mark up sobre os seus preços.
(…)
Não
será por pressão negocial dos salários, que é escassa, que temos inflação.
(…)
É a
“guerra de classes”, diz o “Financial Times”, que leva agora o capital a
agravar a inflação permanente pelas escolhas sobre preços.
(…)
O
trabalho tem vindo a perder e a inflação é a prova do poder do capital,
explicam os economistas da Reserva Federal.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
A extraordinária resposta do SNS à pandemia criou, graças ao esforço e
resiliência de todos os profissionais de saúde, uma ilusão de robustez,
suficiência de meios e bom funcionamento global das instituições.
(…)
Sem incentivos de espécie alguma, assistimos a 2500 médicos e enfermeiros
a abandonarem o SNS em 2020 e 2021.
(…)
Boa parte das razões que, antes das
eleições legislativas, levaram o BE a votar contra os dois últimos orçamentos
do Estado e que afastaram o PCP do último, apresentado em 2021, se confirmam.
(…)
A ameaça de ruptura do SNS, (…), estava
identificada como uma das catástrofes no limite de acontecer e inscrita como a
principal linha divisória traçada entre o Governo e os partidos à sua Esquerda.
(…)
Desde a reivindicação de exclusividade
proposta na nova Lei de Bases da Saúde, apresentada em 2017, até ao reforço dos
meios e condições que permitam estancar a fuga de médicos e enfermeiros para o
estrangeiro ou para o privado, quase tudo são promessas por cumprir.
(…)
Este é o momento de salvar o SNS.
(…)
Agora e de uma vez por todas, garantir o
futuro da saúde pública e cuidar de fazer justiça aos seus profissionais.
O modelo de negócio silvo-industrial associado ao eucalipto
colapsou.
(…)
É
bizarro pensar, não fosse trágico, que um negócio assente na manutenção, há
décadas, do preço de aquisição industrial da rolaria de eucalipto, apesar do
enorme aumento dos custos na produção, não acabaria por colapsar.
(…)
O
facto é que 2/3 da área de plantações de eucalipto em Portugal estão ao
abandono ou sob inadequada gestão. A produtividade média unitária nacional é
miserável.
(…)
O que esperar da replantação [em Pedrógão grande] de uma
“migalha” num “bolo” em colapso?
(…)
Vai a nano-acção “ReNascer Pedrógão” marcar a diferença na
redução do risco de grandes e mega-incêndios na região?
(…)
Um negócio meramente extractivista, assente num mercado a
funcionar em concorrência imperfeita, jamais conseguirá atingir um bom
objectivo neste domínio [da valorização deste território].
(…)
Rentabilidade calculada para todo o ciclo produtivo, não
apenas em parte como decorre dos simuladores antes referidos.
(…)
Aliás,
fica a perspectiva de que a governação continua a primar pela omissão. Omissão que
tem sido induzida. Uma indução arquitectada pelas
celuloses e pelas portas-giratórias que alimenta.
Paulo Pimenta de Castro, “Público” (sem link)
[O
deputado Carlos Guimarães Pinto (CGP)] falou de xenofobia, um problema que
sabemos ser grave, mas na versão hostilidade relativamente aos estrangeiros, de
classes socioeconómicas altas, que conseguem comprar casas nos centros urbanos,
sobretudo no centro de Lisboa.
(…)
Num país
marcado pelo crescimento da extrema-direita e da consequente discriminação
racial e xenófoba das minorias, lembrou-se este político de fazer soar o alarme
da xenofobia apontando como vítimas estrangeiros ricos.
(…)
[Quanto ao direito à habitação] as coisas
são como são. C.G.P. lembrou que o interior está a desertificar e que faria
melhor, em ir para lá, quem anda a pensar comprar casa nestes centros urbanos,
que não lhe estão destinados.
(…)
[Muitos
portugueses acreditaram] que contribuir para o Estado social significa um
prejuízo nos seus rendimentos líquidos, que não compensa os benefícios que dele
poderiam recolher.
(…)
A estes eleitores pouco interessou já terem beneficiado desse
Estado social, designadamente na educação e na saúde.
(…)
A tendência política dos jovens já foi o combate às desigualdades.
(…)
Mas o que tem a IL para oferecer a esses jovens?
(…)
Querem
casa? Vão para o interior que bem precisa de vocês. Preferiam morar no centro
de Lisboa? Lamento, mas não vamos bater-nos por isso.
(…)
A
verdade é que o imobiliário é um bom exemplo do que pode acontecer quando
deixamos o mercado a funcionar.
(…)
No mundo ideal da IL, não existe Estado capitalizado. O
mercado resolve tudo.
(…)
Acontece que a IL só tem soluções para quem já é rico.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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