(…)
Para o
primeiro-ministro português, o reeleito Presidente francês seria o mais
esclarecido visionário e condutor da União.
(…)
[Esse
entusiasmo leva a aceitar] que a política europeia seja governada ao ritmo de
tuítes publicitários.
(…)
Pela
primeira vez desde que as eleições legislativas se seguem às presidenciais
francesas, o eleito não tem maioria parlamentar.
(…)
A
diferença de votos entre o partido de Macron e a aliança de Mélenchon, entre 22
milhões de votantes, ficou pelos 22 mil votos, bastaria ao segundo ter obtido
uma parte deles para ter mais deputados.
(…)
[Macron]
foi derrotado pela sua impopularidade e perdeu um terço dos seus lugares na
Assembleia.
(…)
Esta
nova direita abriu espaço para a consolidação da extrema-direita, que
ultrapassa o partido gaullista, normalizando-se como alternativa.
(…)
A
instabilidade em França perturba o sistema institucional europeu, agora mais
pulverizado.
(…)
A
resposta à dificuldade é refugiar-se em estratagemas, como na gestão da adesão
da Ucrânia.
(…)
Tudo
inviável e um barril de pólvora para França, que não quer o dinheiro da PAC
dividido com a Ucrânia.
(…)
[As
políticas de redução da segurança social e de desqualificação do emprego são] o
mais pesado efeito destas eleições, pois demonstra que a normalidade europeia
gera a crise.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
Quem
defende o SNS já não pode escapar ao dilema entre ignorar o colapso e recusar a
continuidade da ilusão sobre a estratégia presente.
(…)
Apresentar
o atual SNS como o modelo da virtude democrática custa a derrota.
(…)
Graças
a estes [vários] fracassos programados, os privatizadores têm a estrada aberta.
(…)
Nesse
caminho, a estratégia de desmantelamento do sector público tem-se imposto.
(…)
Na
incerteza, os seguros cresceram e são um florescente ativo financeiro, que
promete lucros confortáveis.
(…)
A
consequência é uma saúde mais cara para as pessoas.
(…)
Durante
a fase aguda da pandemia, os hospitais privados ofereceram a sua
disponibilidade por 13 mil euros e, se fosse caso grave, o doente era
recambiado para o público.
(…)
As
PPP, que transformaram em arte a regra do afastamento dos doentes mais caros,
são elogiadas como se essa manigância fosse boa gestão.
(…)
A
questão para quem tem terçado pelo SNS como a prova da democracia é que deixa
de ser viável apresentar este sacrificado serviço como um modelo.
(…)
Se a
liderança do SNS estiver na mão de quem tão metodicamente trabalha para o seu
afundamento, então estaremos a desistir dele.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
Na Colômbia, uma primeira vez é quase uma revolução.
(…)
Implica uma mudança sistémica, um contragolpe na instabilidade, uma
tentativa real de fazer algo novo, tentando abstrair do cansaço.
(…)
Pela primeira vez na História do país, a
Colômbia elege um presidente de Esquerda, Gustavo Petro.
(…)
A frase do discurso de vitória acerta em
cheio na mudança de paradigma da política centro e sul americana.
(…)
Da polarização da segunda volta das
eleições, sai derrotado o Trump que a Colômbia conseguiu oferecer ao Mundo.
(…)
À crise social, económica e de segurança,
à insatisfação popular patente nas ondas de protesto de 2019 e 2021, o
ex-guerrilheiro Gustavo Petro não responde com um programa qualquer.
(…)
À terceira tentativa, Petro ganha as
eleições apresentando medidas de ruptura que mexem nas suas feridas mais
internas e expostas.
(…)
Apresenta a visão de um país que se quer
na vanguarda mundial do combate às alterações climáticas, investindo em energia
renovável e não em explorações de petróleo.
(…)
Cumprir este programa, radical para os
padrões do país, sem defraudar a maioria dos colombianos que o elegeram.
Foi
assim [na ideia da prossecução do bem comum]
que se criou o exemplar serviço nacional de saúde inglês, que veio mais tarde a
ser dizimado pela governação Thatcher.
(…)
O SNS é um dos temas centrais que divide a esquerda e a
direita.
(…)
A
esquerda pretendeu sempre um SNS de vocação universal e público. A direita
pretende um SNS em articulação com os privados, o que na prática significa que
deixa de ter aquela vocação, a de garantir a
todos acesso a cuidados de saúde em condições de equidade.
(…)
Muito mudou. (…) [A algumas pessoas] interessa-lhes
[apenas] ter um bom serviço de saúde.
(…)
Já os políticos e os partidos políticos
navegam por águas turvas. Ainda ontem o líder da bancada do PS, Eurico Brilhante Dias, anunciava com
orgulho que tinha sido o seu partido a lançar as PPP (parcerias público-privadas)
na área da saúde.
(…)
[Os privados] são grupos económicos fortes e procuram o
lucro. Esta não pode ser a lógica do SNS.
(…)
Quando
se abrem as portas aos privados — e se estes as querem abertas — o SNS perde a
sua vocação original: a de servir todos e de conseguir fazê-lo autonomamente.
(…)
Como ter um serviço público dependente de organizações que
visam o lucro numa área como a saúde?
(…)
Sucede
também que o Estado está a gastar mais com a saúde mas não aumenta a despesa
estrutural, na medida em que, por exemplo, não melhora as condições
remuneratórias dos médicos.
(…)
Se não
estamos a poupar nas despesas porque prefere o Governo contratar tarefeiros;
porque prefere aumentar as despesas extraordinárias em vez de as despesas
estruturais?
(…)
Esquecemo-nos
com muita facilidade de princípios fundamentais. Os países onde a saúde é um
negócio tratam vergonhosamente quem não tem seguro de saúde.
(…)
[Em Portugal] os seguros de saúde estão
massificados, mas quando os segurados têm doenças graves, e o cancro é sempre
delas bom exemplo, correm para o SNS.
(…)
Também a pandemia foi uma boa lição; reparem que estava na
lista das exclusões da maior parte deles [seguros de saúde].
(…)
Está à vista de todos que [o SNS] tem problemas graves, mas
ainda é possível salvá-lo.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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