quarta-feira, 2 de novembro de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (26)

 
Que a disputa no Brasil se travava entre democracia e autoritarismo era evidente.

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O que aconteceu a seguir às eleições provou o desapego às regras democráticas por parte do candidato derrotado.

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Bolsonaro falou. Sem admitir a derrota, sem saudar o Presidente eleito, culpando o processo eleitoral pelo “sentimento de injustiça”.

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Repetindo o mote integralista, que Salazar fez também seu: “Deus, Pátria e Família”. 

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Por várias razões, não haverá, no sentido clássico, golpe de estado no Brasil. 

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Biden foi dos primeiros a reconhecer Lula, logo no domingo, aliás como dezenas de outros Chefes de Estado.

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Os bolsonaristas com mandatos também não querem ouvir falar de fraude. 

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Os protestos que bloqueiam estradas são assim, ao mesmo tempo, um sinal de isolamento imediato do “bolsonarismo de rua” e uma antecipação do que poderá vir a acontecer nos próximos anos.

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A atitude de parcialidade e de alinhamento [da polícia rodoviária federal] com a extrema-direita já ficara patente no dia das eleições.

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[A polícia rodoviária federal procurou] provocar a desistência e suprimir milhares de votos do campo democrático.

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A atitude "compreensiva” da polícia perante as ilegalidades de bolsonaristas é um indicador de como esta pode ser um desestabilizador da ordem democrática.

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Por outro lado, os relatos sobre a suspensão, no dia das eleições, de transportes gratuitos em determinados Estados, para dificultar o voto dos mais pobres.

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Certas fábulas da extrema-direita brasileira penetraram profundamente no senso comum mediático [em Portugal].

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Esta tese [de que Lula seria um “mal menor”] não se baseia em nenhum facto objetivo sobre Lula, mas numa narrativa da extrema-direita.

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Só que o Supremo Tribunal Federal anulou o processo contra Lula, numa decisão esmagadora.

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Por cá, o rótulo colado a Lula pela extrema-direita, mesmo que desmentido pela Justiça, continua a ser reproduzido descontraidamente, muito para além do bolsonarista Ventura.

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Só no quadro mental da extrema-direita é que Lula pode ser apresentado como alguém da “esquerda radical”.

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[As] políticas dos governos Lula nunca foram, do ponto de vista económico, nada que qualquer centrista europeu não subscrevesse.

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Não serve isto para desvalorizar os notáveis efeitos das medidas de inclusão social, de promoção da educação, de combate à fome e à pobreza dos mandatos de Lula (que retiraram mais de 20 milhões de pessoas da pobreza).

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Lula da Silva era a única opção democrática nesta segunda volta das eleições brasileiras.

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Essa vitória, sublinhe-se, deve-se à figura de Lula e à circunstância de ser um democrata, mas também ao facto de não ser um liberal.

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Haverá, a partir de janeiro, sabotagens à governação, técnicas de desestabilização a partir das instituições onde a extrema-direita mantém influência.

José Soeiro, “Expresso” online

 

Proclamar um apoio a Bolsonaro ficava mal para aquela gente que se acabrunharia com a pergunta sobre se o convidava para jantar. 

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O homem é um barril de pólvora, grita inconveniências, tem aquela coisa mal explicada de comprar apartamentos com malas de dinheiro.

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Reclama a propriedade do divino mas diz que gostaria de trincar cadáver de índio, é um tormento.

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Apoiá-lo, assim a modos que apoio mesmo, ficaria mal às pessoas tão elegantes.

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Agora, apoiar ou sequer aceitar que a alternativa presente era um metalúrgico, moderado que seja, que quer acabar com a fome no seu país, isso nem pensar. 

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Os imparciais raramente usam o argumento de que “aquilo é outro país”. 

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O que dizem é que têm uma objeção moral, coisa séria, é que o metalúrgico seria “corrupto”. E os nossos imparciais, isso de “corrupção” nem querem ver.

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E mal ficaria aquela alegação se nos lembrássemos dos submarinos ou de ministro com processos julgados.

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E o Supremo Tribunal Federal anulou o julgamento de Lula (foi esmagador, por oito votos a três).

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O processo [organizado pelo juiz Sérgio Moro] foi uma trafulhice.

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A Justiça brasileira anulou o processo, o que significa que Lula é inocente.

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Ora, o juiz tinha conseguido uma façanha, dominar a política brasileira e anular o adversário de Bolsonaro, foi por isso imediatamente recompensado com um ministério.

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Depois da mentira de Moro, os nossos imparciais mentem sobre a mentira, para evitarem o incómodo de uma escolha.

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

Contra a maioria das previsões, Bolsonaro acreditava na vitória. 

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Bolsonaro não teve coragem para reconhecer a derrota, não reconheceu a vitória de Lula da Silva e nem sequer expressou agradecimento aos milhões de eleitores que votaram nele.

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Tudo neste homem denigre a democracia e o sistema democrático, mas há milhões de pessoas, dentro e fora do Brasil, a apoiá-lo.

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A nossa situação, enquanto humanidade, é preocupante e não há como fugir a esta constatação.

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É certo que a partir de janeiro — finda a sua imunidade — estará a braços com a justiça brasileira.

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[Por cá há quem esqueça ou queira fazer esquecer] que Lula foi condenado por um juiz chamado Sergio Moro e que o Supremo Tribunal Federal veio a considerar que Lula não foi tratado com imparcialidade por este juiz e ainda que anulou a decisão.

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Esquecem também que Moro foi ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e que aceitou esse cargo logo após ter condenado Lula da Silva.

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Lula, apesar de ter melhor imprensa que Bolsonaro, poucas vezes é tratado com a consideração política que merece.

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Essa diferença mínima [em que ficou baseada a vitória de Lula] é a exata medida da descontração e confiança com que podemos encarar o futuro.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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