(…)
De
facto, no nosso mundo o que determina as eleições é a economia.
(…)
A
questão da imigração tem potência porque é enunciada como condicionamento da
vida económica.
(…)
Mesmo
quando outras questões se precipitam, como o direito das mulheres, é sempre
pelo viés do poder económico tradicional que se apresentam as alternativas.
(…)
O
identitarismo religioso, (…), se enroupa como uma doutrina económica, sob a
forma da teologia da prosperidade.
(…)
Ou o
medo reabre o caminho ao trumpismo ou este não reconhece as eleições, pois só a
obra demoníaca poderia retirar aos fiéis a sua supremacia.
(…)
Há
pelo menos três obras consagradas [nos EUA] que discutiram estes perigos do
autoritarismo e todas o fizeram usando o material reconhecível, a história de
uma crise económica.
(…)
Os
três livros sobre o abismo autoritário giram à volta da crise de 1929 e de
Roosevelt, que então representou a resposta tanto à depressão quanto à guerra
que se lhe seguiu.
(…)
Partilham
um aviso: foi a economia do liberalismo, cuja vertigem especulativa levou ao
dominó da falência de empresas e bancos e ao desemprego de um quarto dos
trabalhadores, que abriu a porta ao desespero que criou o autoritarismo.
(…)
Quando
a depressão fez explodir este sonho [“americano”], os espíritos animais foram
soltos.
(…)
É,
portanto, sempre a economia que resume os poderes das forças sociais que domina
a sociedade moderna.
(…)
Tem
sido a economia estúpida, a que gera crises e propõe soluções que as agravam,
que nos tem governado.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
A presença de demagogos e proto-ditadores
em boletins de voto, cada vez mais comum, tem feito as delícias dos caçadores
de fantasmas nas campanhas eleitorais em Itália, Israel, Brasil e EUA.
(…)
A América inflectiu à Esquerda, mesmo no
contexto de uma crise aguda e de taxas de rejeição muito assinaláveis dos seus
líderes.
(…)
[As eleições no Brasil e nos EUA] são a
prova de que a Direita até pode disputar eleições à última casa decimal, mas
fica bem mais próxima da derrota quando pretende ir para a batalha com
candidatos radicais.
(…)
[No Brasil a direita] permitiu que os
direitos reprodutivos e as alterações climáticas fossem factores decisivos para
segurar a diferença, ainda assim curta, que derrotou Bolsonaro.
(…)
O voto feminino em Lula, sempre superior
e consistente em todas as sondagens, sustenta boa parte dos dois milhões de
votos que lhe entregaram as chaves do Planalto.
(…)
As causas identitárias podem não ganhar
eleições mas, seguramente, afastam muitos mais do que aqueles que convertem.
(…)
Quão longe foram os responsáveis
políticos [brasileiros] que julgaram poder ganhar eleições pela hipnose
colectiva de meio povo.
(…)
Tal como no Brasil, [nos EUA] as
mulheres, os direitos reprodutivos e as alterações climáticas fizeram boa parte
da diferença que colocou os elefantes vermelhos literalmente no meio da sala.
As
desigualdades são crescentes, com a perda de poder de compra das famílias a
acontecer a par do abuso dos superlucros milionários dos principais grupos
económicos, mas o PS acha mais premente entrar nesse processo de revisão constitucional.
(…)
As
prioridades estão todas erradas, ninguém percebe a urgência da abertura de um
processo de revisão constitucional neste momento de crise.
(…)
O
contexto político destas movimentações não é inocente. O PSD está a ter óbvias
dificuldades a apresentar alternativas às políticas do Governo PS.
(…)
[Há semanas
que Montenegro não fala do OE] sempre em busca
de um tema do dia que lhe permita fugir a essa agonia.
(…)
Já o PS, a braços com vários
escândalos, vê cair do céu a possibilidade de desviar as
atenções dessas maleitas.
(…)
O
Chega garante ao centrão o ruído suficiente para mudar o assunto da crise
social que se agiganta sem resposta por parte do Governo.
(…)
Agora,
são PS e PSD que deixarão ao Chega o lugar na história de terem sido os
proponentes da 8.ª Revisão Constitucional.
(…)
É nos
momentos fundamentais que se percebe como a política do PS é tantas vezes um
jogo viciado pelos oportunismos e conjunturas momentâneas.
(…)
Estas
faces da realidade que o país enfrenta [e que se configuram no empobrecimento acelerado
de parte significativa da opulação]
mostram como a crise social não está a ter a resposta devida, comprovam a
insuficiência das políticas do Governo.
(…)
[O objetivo do processo de revisão constitucional é] ofuscar
a difícil realidade e as responsabilidades do PS na falta de respostas.
(…)
É urgente rever a Constituição da República Portuguesa? Não.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
Rui
Madeira [diretor da Escola António Arroio] foi entrevistado por vários
jornalistas a propósito do protesto climático dos alunos da António Arroio,
descrito na comunicação social como fecho da escola.
(…)
[Rui Madeira] esclareceu, com elegância, que a escola estava
aberta, apenas não tinha atividades letivas.
(…)
Contextualizou ainda que o protesto é vida e que deveremos
tentar viver o mais tranquilamente possível.
(…)
Culminou as suas declarações afirmando que a escola nunca
estará contra os alunos que querem um mundo melhor.
(…)
Os
alunos estão conscientes de que só fazendo ações que incluam “luta, barulho e
confusão” é que conseguem a atenção da comunicação social.
(…)
É
possível que as qualidades deste homem tenham reflexos na atitude dos alunos e
que a atitude dos alunos tenha reflexos no conforto que os mais novos encontram
na escola.
(…)
Chegar
à António Arroio é encontrar um admirável mundo novo, onde a expressão
artística e criativa é verdadeiramente apreciada e onde o direito à diferença
não precisa de ser reivindicado ou sequer precisa de ser tema.
(…)
Numa
sociedade tristemente marcada pelo crescimento do individualismo, encontra-se
um oásis – mas prefiro chamar-lhe viveiro – de pessoas que existem enquanto
grupo.
(…)
É uma
escola com boas condições físicas e tecnológicas. Não é perfeita, mas, caramba,
é uma escola pública, ou seja, gratuita.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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