(…)
É por isso que a defesa da democracia vive da
tensão permanente entre poderes que se contêm mutuamente.
(…)
Já não estamos perante um instrumento de
investigação e prova, mas perante um sistema de vigilância política [como se
percebe pela divulgação da conversa de Costa com Galamba sobre o despedimento
da CEO da TAP].
(…)
[Uma] leitura extensiva da lei permite, na
prática, que o MP vá concentrando toda a informação política do Governo e da
oposição, escutando toda a gente.
(…)
[O populismo] infetou as intuições,
espalhando-se por tribunais e redações.
(…)
No Brasil, [por exemplo] trepou até ao topo da
hierarquia, rebentando com os diques democráticos que levámos séculos a
construir.
(…)
Só nos regimes totalitários se anula o núcleo
mínimo de privacidade dos cidadãos.
(…)
As escutas são uma forma extrema de intrusão do
Estado na vida dos cidadãos.
(…)
A máxima de que “quem não deve não teme” é a
derradeira cedência do direito à individualidade, de que a privacidade é um
instrumento central.
(…)
Com esta cultura dominante, está instituída,
nas redações, a ideia de que tudo o que tenha a ver com políticos é publicável.
(…)
A ausência de escrúpulos travestiu-se de
corajosa luta contra os “poderosos” e tornou-se num produto de grande sucesso
na indústria da indignação.
(…)
A divulgação das escutas enquadra-se numa
guerra comercial que nada tem a ver com o jornalismo.
(…)
Uma parte dos jornalistas especializados em
justiça passou a ser mera recetora de informação de fontes quase únicas. A
moeda de troca é a ausência de escrutínio.
(…)
[Todos estão a trabalhar para a colocação de] grilhetas
na democracia
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Quando se constroem sociedades em que tudo o
que escapa à lógica capitalista da valorização é descartável (…) seria
inevitável pensar que o envelhecimento teria de ser sempre um factor
perturbador.
(…)
O
cientista social austríaco [Andreas
Urban] mostra como o capitalismo descarta aqueles que considera
como partes não activas na economia de mercado por deixarem de ter valor.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
[Aos
80 anos] Chico Buarque continua a ter e a querer dizer-nos coisas e, sobretudo,
mantém a vontade de querer seguir lutando pelas coisas em que acredita.
(…)
No dia
15, lá estava ele, em Paris, com uma bandeira do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem-Terra, ao lado do antigo jogador de futebol Raí (…) a marchar na rua contra o avanço da extrema-direita.
António Rodrigues, “Público”
(sem link)
[Aos 89 anos, com um cancro no esófago,
Pepe Mujica] aguenta, luta e mantém uma lucidez política e humana tão forte que
cada nova intervenção pública ressoa como uma referência ética para os nossos
tempos.
(…)
Sabedor
de que a democracia é “uma bonita porcaria”, mas ciente de que permanece como o
melhor sistema político que os humanos conseguiram criar até agora, cabe-nos a
todos seguir batalhando indefinidamente para a ir melhorando.
(…)
“Pertenço a uma geração que se está a ir”, uma
geração que pensou que “mudando as relações de produção e distribuição” se
construiria “o homem novo”, afirmou Mujica no seu discurso.
(…)
“Deixem-me morrer sonhando no desafio
socrático de que os homens podem melhorar a sua alma”, disse ainda o antigo
preso político.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A inteligência de esquecer revoluções passadas
pode ser a nova revolução da Esquerda europeia, a única forma de impedir que o
populismo da extrema-direita seja poder, aqui e já.
(…)
Quatro forças políticas francesas perceberam a
inevitabilidade de apagar divergências numa Nova Frente Popular que pode e deve
servir de farol para a confirmação da polarização que nenhum “centrão” pode
agora desmanchar.
(…)
Talvez seja esse o “banho de realidade”: a
percepção do absurdo de partidos tão semelhantes fazerem das suas forças
fraquezas.
(…)
O contorcionismo político não é táctica e a
adopção de medidas populistas para combater os populismos só reforça o mal
verdadeiro.
(…)
A luta contra a fragmentação da Esquerda deverá
ser uma luta democrática.
(…)
Em Portugal, a Esquerda pode esperar ou cruzar
os dedos para torcer muito, mas é visível que continua de braços cruzados.
Tenho mais perguntas do que respostas em
relação ao caso das gémeas.
(…)
Em vez
de fazermos de conta que somos irrepreensíveis nas nossas condutas, é
obrigatório que nos coloquemos na sua [de Nuno Rebelo de Sousa] posição e que
perguntemos a nós mesmos se, no seu lugar e movidos pelas melhores intenções,
não seríamos capazes de fazer algo parecido.
(…)
A
ideia de que duas crianças, com pouco menos de um ano, estão condenadas à
severidade de uma doença grave é angustiante para qualquer pessoa com coração.
(…)
Pelo
que sabemos, [Nuno Rebel de Sousa] fez o que estava ao seu alcance para que
quem tinha poder de decisão tomasse decisões favoráveis à obtenção de
nacionalidade portuguesa e administração do remédio às duas irmãs.
(…)
Nuno Rebelo de Sousa recusou prestar
esclarecimentos aos deputados à Assembleia da República, os representantes de
todos os portugueses.
(…)
Agora
vemos Nuno Rebelo de Sousa disposto a desafiar essas regras [a que todos somos
obrigados] em nome da sua defesa pessoal e essa aura perde-se.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Para
compreender o óbvio [no conflito israel-palestiniano], não preciso de mais: ver
crianças com olhares de cão perdido, mães a vomitar a alma em choro ou
cadáveres amontoados em ruas, sabendo este quadro intencional, basta-me para
condenar os ataques de Israel e pôr-me do lado dos palestinos.
(…)
Não se
justifica que para matar cabecilhas do Hamas — que cobardemente faz dos
palestinos escudos de guerra — se matem 45 civis, mesmo alegando um “incidente
trágico”.
(…)
Somos
carne e osso. Não será a tinta de tratados internacionais que esguichará dos
nossos corpos quando abatidos, não serão estudos sobre legítima defesa que beberemos
para não morrer à sede.
(…)
Antes
das letras ou tratados, somos bichos — e por isso revolta-me que nos amparemos
nos primeiros para matar, “com contexto”, os segundos.
Henrique Pinto de Mesquita, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário