(…)
Nas últimas décadas as políticas da habitação
foram concebidas como se estivéssemos perante problemas individuais, quando se
trata de uma questão coletiva, a exigir compromissos e ação do Estado.
(…)
Só os filhos dos ricos e alguns de classes
altas terão acesso a habitação.
(…)
A efetividade do direito à habitação é
essencial para a coesão social e para a substituição equilibrada das gerações.
(…)
Eles sofrem imenso por não terem emprego.
(…)
O valor médio mensal do subsídio de desemprego
é 649 euros.
(…)
As disfuncionalidades deste país crescem
aceleradamente..
(…)
Mais jovens universitários estão a abandonar os
seus cursos por dificuldades associadas à pobreza em que vivem as suas
famílias. Isto é desastroso.
(…)
[Assiste-se a] um contínuo desacreditar da
democracia; a extrema-direita instalada a minar todas as instituições; a
promoção da bufice, instrumento do fascismo.
(…)
Entretanto, os dois principais atores políticos
da última década [Marcelo e Costa] contribuem para este país disfuncional.
(…)
Só falta mesmo a erosão do Partido Socialista,
que dá fortes sinais de vir a ser cumprida.
Depois do 25 de Abril de 1974 muita gente
escapou à justiça pelo seu comportamento durante a ditadura.
(…)
[Há], em especial, um grupo que escapou à
penalização do seu papel na ditadura: os juízes dos Tribunais Plenários.
(…)
Era
gente que devia ter sido punida com rigor, mas escaparam por uma mistura de
protecção corporativa e por serem “meritíssimos juízes”.
(…)
Digo
isto porque justiça não havia de todo então e estamos agora a caminhar para
institucionalizar não justiça, mas violação de direitos humanos, abusos de
poder, interferência não-democrática na vida política.
(…)
Quem
escolhe os tempos, seja o Ministério Público que pede as diligências, sejam os
juízes de instrução que as autorizam, sabe muito bem qual o impacto público na
vida política que têm medidas como as buscas.
(…)
É pura política e da pior.
(…)
É um
ataque à democracia que não precisa de qualquer lei sobre o discurso de ódio,
para ser isso mesmo, ódio.
(…)
Não
tendo as escutas qualquer relevância criminal, a sua realização e divulgação
são aquilo que deveria ser classificado como espionagem política.
(…)
Não havendo em Portugal uma polícia política, é
um crime que vai directamente ao âmago da saúde da nossa democracia.
(…)
E eles
sabem também quais os jornalistas a quem podem confiar as “revelações” dos
Assanges nacionais com doses de espionagem política.
(…)
Registo que, [há jornalistas que] recebendo
material intencionalmente envenenado, amplificam o veneno desse material.
(…)
Mas há mais um actor, nós que lemos e julgamos
o que lemos, formando opinião.
(…)
E,
como é óbvio, ninguém fecha os olhos nem deixa de ter opinião sobre o que vê,
ouve ou lê, independentemente do seu julgamento sobre o modo como está a
receber aquilo que é o fruto de um crime.
(…)
Se houver alguma cultura democrática e
mediática, distingue o que é veneno e o que é informação.
(…)
É também neste reino [em que a cultura
democrática e mediática não abunda] que o comentário sério deve fazê-lo, como
uma das raras armas em democracia.
(…)
A
melhor resposta a este ataque à democracia e aos nossos direitos é dizê-lo na
cara de todos, alto e bom som, sem um segundo de hesitação.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Algumas projeções indicam que as próximas
eleições francesas podem levar ao desaparecimento do macronismo como força
parlamentar.
(…)
Exibindo o vigor dos seus 39 anos no solitário
passeio da tomada de posse, Macron prometia tudo a todos.
(…)
Desiludiu em quase tudo, em particular na
tentativa de renovar o eixo franco-alemão.
(…)
O bloqueio germânico continua a ser a única
constituição económica da UE.
(…)
A espontânea insensibilidade social de Macron
criou-lhe a revolta dos “coletes amarelos”, mas o mais ameaçador gesto do
presidente – para a França e a segurança global – foi a sua tese da “ambiguidade
estratégica” perante a Rússia, desde fevereiro último.
(…)
De Gaulle sabia que fazer da Rússia um inimigo
seria um erro mortal para um estadista francês.
(…)
Aqueles que julgam ser só uma luta entre
esquerda e direita o que se joga nas próximas eleições francesas esquecem que a
clivagem existencial mais urgente para os europeus é entre a guerra e a paz.
Aquando
da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ocidente prontamente condenou as intenções
do “mais forte” de devorar “o mais fraco”.
(…)
[No Médio Oriente] não há um conjunto de
humanos a ser hediondamente perseguido por outro que é maior e mais artilhado?
(…)
Onde está a tal virtude europeia fundadora dos
direitos humanos?
(…)
Se os palestinos tivessem um tom de pele mais
claro, talvez houvesse mais empatia quando são queimados vivos.
(…)
[Talvez] por [os palestinianos] não serem
brancos, a sua dor não lhes doa tanto [aos ocidentais].
(…)
Em 2015, deu à costa turca, morto, como um saco
de batatas, o pequeno Aylan
Kurdi .
(…)
Pela
sua semelhança “connosco” — até sinto vómitos —, a fotografia de Aylan correu o
mundo e foi importante para a consciencialização europeia do desastre
humanitário que se vivia.
(…)
É este o nível do nosso egocentrismo: para
termos pena, precisamos de nos rever (…) é mesmo preciso que se pareçam
connosco.
(…)
Pois
não é assim: de cada vez que morre um palestino indefeso morre um pouco do
espírito europeu, um pouco da humanidade, um pouco de nós.
(…)
É
triste que os pequenos nunca tenham razão — mas mais triste ainda é que, quando
esta lhes é dada, estejam já mortos: a boiar.
Henrique Pinto de
Mesquita, “Público” (sem link)
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