(…)
A comunicação preventiva à população também foi
muito fraca, apesar dos avisos prévios, com dias, do IPMA e da Proteção Civil.
(…)
Estes fogos não chegaram a ser um tema
propriamente político.
(…)
Ao contrário do que vimos em 2017, a cobertura
do Presidente foi total, ao ponto de ter presidido a um Conselho de Ministros.
(…)
[Talvez a ausência de aproveitamento político] não se repete
porque o ambiente político é muito diferente do dos quatro anos da
“geringonça”, em que tivemos uma oposição de uma agressividade poucas vezes
vista na nossa democracia constitucional.
(…)
O que ficou por
fazer nestes anos é o essencial: a gestão florestal.
(…)
A floresta, como é hoje gerida, não garante
financiamento à sua preservação e à gestão de combustíveis finos.
(…)
Para alem do minifúndio e da ausência de gestão
florestal, sobra o eucalipto por todo o lado.
(…)
A
área plantada de eucalipto é superior à de todos os outros países europeus
juntos. 81% da área reflorestada depois de 2017.
(…)
[Os eucaliptos] também são dos piores para
incêndios.
(…)
No cursos mediáticos intensivos destes períodos
(…) aprendemos a regra dos três 30: temperatura superior a 30º, humidade inferior a
30% e vento superior a 30km/hora (…) é receita para o desastre.
(…)
E a verdade é que esta combinação atingiu, em várias regiões do país, o primeiro lugar desde 2001.
(…)
Não é preciso muito para verificar os efeitos
das alterações climáticas.
(…)
O
verão de 2023 foi o mais quente de que há registo na Europa.
(…)
O centro da Europa está a viver das cheias mais
brutais deste século.
(…)
Tivemos cheias dignas das monções no deserto do
Sahara.
(…)
As
temperaturas aumentaram, no continente [europeu], mais do dobro da média global
nos últimos 30 anos.
(…)
Como já escrevi várias vezes, nada disto é uma
herança que deixaremos aos nossos netos. Já está a acontecer.
(…)
Não há como preparar territórios e forças de
combate para este novo tempo.
(…)
Algumas das florestas mais bem cuidadas do mundo, nos parques nacionais da
Califórnia, já perderam, este ano, 4046 quilómetros quadrados em consequência dos fogos florestais.
(…)
De tantos temas, o que o primeiro-ministro preferiu tratar, por saber que é o mais popular e desvia do governo qualquer
responsabilidade, foi o do crime de fogo posto.
(…)
Confirma-se: Montenegro está sempre em campanha.
(…)
Claro que há fogo posto. Sempre houve. Mas Portugal reduziu em três quartos o número de ignições.
(…)
Como disse o arquiteto paisagista Henrique
Pereira dos Santos, na SIC Notícias, “o problema não é como o incêndio começa,
é porque é que ele não para”.
(…)
Se não falamos
delas [alterações climáticas] quando sentimos de forma mais dramática os seus
efeitos, falamos quando?
(…)
Os mesmos que recusam a causa a serem mais vocais na
responsabilização política pelas consequências.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Nestes últimos dias temos assistido à
concretização de uma previsão há muito anunciada.
(…)
Manchas
contínuas de monocultura lenhosa, forte gestão de abandono dessa ocupação do
território, comportamentos socialmente deploráveis e condições meteorológicas
favoráveis.
(…)
Apesar da previsão [concretizada em
várias regiões] ai de quem defenda a redução da área ocupada por plantações de
eucalipto no país!
(…)
Os
estudos e propostas de programas e planos que têm vindo a justificar essa
contração de área de eucaliptal, a maior área relativa a nível mundial, a maior
absoluta a nível europeu, mas com a mais miserável produtividade média anual
por hectare, são liminarmente engavetadas.
(…)
Em vez de contração, assistiu-se à expansão da
área de eucaliptal nessas regiões.
(…)
[Sabemos]
qual a ocupação arbórea dominante em concelhos dessa região [do interior
centro], como Mação. Também sabemos do seu histórico em matéria de incêndios
florestais.
(…)
Será que depois dos acontecimentos dos últimos
dias o atual governo pretende trazer tais PRGP [Programa de Reordenamento e
Gestão da Paisagem] à discussão pública?
(…)
Haverá
intenção de cumprir tal meta [para
a área de eucaliptal para 2030 igual à registada em 2010] pelo
atual governo ou assistiremos a mais uma suspensão da meta, ou pior, a mais
constatação de incumprimento em 2030?
(…)
Há
muito também sabemos do peso do lóbi da indústria de celulose na formulação das
decisões políticas, concretizada através de portas giratórias a envolver
responsáveis das empresas nomeados para cargos políticos ou de direção de
entidades públicas.
(…)
No
mercado da rolaria de eucalipto não estão em causa apenas os interesses de
centenas de milhares de produtores, maioritariamente perdedores, fruto do
anúncio de rentabilidades marteladas, e de dois aglomerados industriais, apenas
perdedores por ganância exacerbada.
(…)
O que causa impacto no território diz respeito
e afeta todos os cidadãos.
(…)
Há que
estar atento às decisões políticas que se avizinham para se poder constatar se
será o interesse público a vingar ou, novamente, os interesses das celuloses.
Paulo Pimenta de Castro, “Público” (sem link)
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