(…)
Somando-se a certeza de que este tipo de
catástrofe recorrente tende a piorar com o avançar dos anos e das alterações
climáticas, apertava mais o peito a cada inspiração. A distopia é agora.
(…)
Penso todos os dias na impossibilidade de não
sucumbir à ansiedade climática.
(…)
Como é que uma civilização suicida, que põe o
lucro acima da vida humana (…) pode esperar que as suas crianças e
jovens, tão expostos à informação como estão (aliás como nenhuma outra geração
esteve tão cedo na vida), vivam otimistas e tranquilos?
(…)
Como é que uma geração consciente de que viverá
num mundo em colapso, com escassez dos mais básicos recursos e com muito poucas
condições de segurança, pode aspirar, projetar, ambicionar?
(…)
O niilismo vai ocupando o lugar da esperança.
Tudo passa a receber um Para quê?
(…)
Outra dimensão do problema é a forma como
lidamos com o que é inevitável.
(…)
Pouco se fala do que podemos fazer para
estarmos mais preparados, para minimizar os impactos, para sabermos o que fazer.
Ao
longo dos tempos, temos visto sucessivas tentativas hostis de aumentos do custo
de vida e, consequentemente, do custo de um diploma do ensino superior.
(…)
Enquanto
estudante e enquanto sujeito com espírito crítico, não posso ser complacente e
submisso com quem, cêntimo a cêntimo, quer distanciar ainda mais todos os
estudantes do Ensino Superior.
(…)
Porque
a verdade é que começa com uns cêntimos na refeição, e depois é o possível descongelamento da propina, e depois são as residências que
aumentam os seus preços.
(…)
Ao
permitir os pequenos retrocessos sociais no acesso e na frequência no Ensino
Superior estamos a abrir uma porta que, enquanto estudantes, não conseguimos
controlar.
(…)
Não podemos olhar para o que é, temos de olhar
para o que pode vir a ser.
(…)
Bem
sabemos também que este tipo de retrocessos encontra a sua origem toda no mesmo
lugar: o subfinanciamento crónico do Ensino Superior.
(…)
Acabe-se a ambiguidade nas posições e a mão
mole nas negociações, acabem-se os retrocessos no acesso ao Ensino Superior.
Francisco de Jesus, “Público”
(sem link)
A
principal premissa do sistema universal de saúde em Portugal mantém-se desde
então [15 de setembro de 1979]: garantir a todos os cidadãos portugueses e
residentes cuidados de saúde de qualidade independentemente da sua condição
económica e social.
(…)
O SNS
é a grande conquista do 25 de Abril, que garantiu que a saúde passava a ser um
direito de todos e não um privilégio de quem tem dinheiro.
(…)
O
direito à proteção da saúde constitui uma da responsabilidade conjunta das
pessoas, diz a lei, o que tem tanto de poético como de pragmático.
(…)
É um
imperativo de consciência, pessoal e coletiva, defendermos este tesouro.
(…)
O SNS
tem enfrentado vários desafios ao longo destas quatro décadas e meia, mas os
ganhos em saúde – que lhe devemos – são inegáveis.
(…)
Vivemos
mais e melhor.
(…)
Nos
primeiros 40 anos de SNS a esperança de vida dos portugueses aumentou uma
década.
(…)
Reduzimos
abruptamente a mortalidade infantil: em 1974, Portugal era o país da União
Europeia onde morriam mais crianças com menos de um ano; em 2022, éramos um dos
dez dos países com menos taxa de mortalidade infantil.
(…)
[O
SNS] é o garante do direito constitucional à saúde.
(…)
É um
símbolo da sociedade democrática do país com que sonhámos em 1974, um Portugal livre,
fraterno, solidário e feliz.
(…)
Não há
liberdade sem saúde.
(…)
A
nossa dívida para com aqueles que o ajudaram a construir é incomensurável –
somos um país mais feliz, mais justo e com mais espaço para a esperança, porque
há Serviço Nacional de Saúde.
(…)
O SNS
faz 45 anos e estamos todos de parabéns.
(…)
Poucas
reformas foram tão importantes parta a dignidade das pessoas e para o
equilíbrio social, em Portugal.
Martha Mendes, “diário as beiras” (sem link)
Há quem receie que [nos EUA] a democracia
esteja em risco e, em muitos aspectos, é difícil discordar.
(…)
Em
Orbán, e na trajectória da Hungria, temos uma história exemplar de como a
democracia pode ser destruída a partir de dentro, de uma forma rápida e
definitiva.
(…)
Na
altura [noite em que Orbán foi reeleito], muitos observadores consideraram
improvável que Orbán pudesse mudar muita coisa, dada a integração do país na UE
e nos mercados globais.
(…)
Aquela noite marcou o início de uma tentativa
deliberada de esvaziar a democracia na Hungria.
(…)
À semelhança do Partido Republicano, o Fidesz
de Orbán está irreconhecível desde há várias décadas.
(…)
As antigas elites conservadoras deram-lhe o apoio
para a adopção de uma forma de política altamente divisionista.
(…)
O que
se seguiu [à vitória eleitoral
esmagadora de Orbán pós 2008] foi uma experiência histórica para
construir um regime
iliberal dentro da União Europeia e, simultaneamente, questionar abertamente
uma ordem baseada em regras.
(…)
Com
uma maioria dificilmente imaginável em qualquer país ocidental, o Fidesz de
Orbán alterou a lei eleitoral através de uma extensa prática de gerrymandering (redefinição
de círculos eleitorais para benefício político).
(…)
Alterou a Constituição húngara 13 vezes para
enfraquecer e desorientar a sua oposição.
(…)
Estas medidas permitiram a Viktor Orbán encher
as principais instituições do Estado com lealistas nomeados a longo prazo.
(…)
Orbán impôs um maior controlo sobre a comunicação social do país.
(…)
Tudo isto tem ajudado a controlar a informação
difundida pelo Governo.
(…)
Durante
as eleições, o Fidesz colabora constantemente com os conglomerados de
comunicação social do país para alimentar os receios do público.
(…)
Este domínio de pilares fundamentais do Estado
torna quase impossível a saída de Orbán do poder.
(…)
Orbán construiu um círculo de cúmplices, que
beneficiam dos fundos de desenvolvimento da UE atribuídos ao Estado.
(…)
Ao
longo de 14 anos, Orbán aperfeiçoou um sistema que vai contra todos os
princípios fundamentais de uma democracia liberal.
(…)
A Hungria continua a ser o laboratório preferido
da política nativista de extrema-direita na Europa e nos EUA.
(…)
Ainda que Orbán seja afastado do poder, não
será fácil restaurar a independência institucional na Hungria.
(…)
Quando a democracia se eclipsar, será
extremamente difícil recuperará.
Zsuzsanna Szelényi, “Público” (sem link)
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