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O motor da Europa gripou e vive o seu momento Nokia.
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Ao adiar o fim do motor a combustão, a história vai
repetir-se perante o triunfo dos carros elétricos baratos, vindos da China.
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O preço da desindustrialização imposta por uma adesão
acrítica à globalização chegou quando, no meio de uma pandemia, descobrimos que
não conseguíamos produzir máscaras e ventiladores.
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Em 1990, a Europa produzia 44% dos semicondutores; hoje não
passa dos 9%.
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Entretanto, sem darmos conta, a fábrica do mundo chinesa
deixou de copiar e passou a liderar.
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Mesmo onde dominava, como a farmacêutica ou a química, a
Europa enfrenta competição feroz.
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Hoje, não há uma empresa europeia entre as líderes globais na
tecnologia.
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Nos EUA, há 5,2 startups a explorar as
possibilidades da inteligência artificial por cada 100 mil habitantes. Na
Alemanha, são 1,9.
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Na China, o Estado é o motor da
inovação.
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Apesar da retórica
ideológica, o Estado tem, mesmo nos EUA, um papel central no financiamento de
pesquisa e desenvolvimento, em áreas como a defesa, a tecnologia e a
farmacêutica.
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A Europa está
paralisada por dogmas ultraliberais que já nem os EUA levam a sério.
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[Na Europa] perdemos o
último salto tecnológico e somos o museu do mundo, onde a classe operária
chinesa passará as suas férias e a elite económica global fará algumas compras
de luxo.
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É preciso investimento,
e o mercado, por si só, não chega.
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Mesmo que a UE se
libertasse da ortodoxia do euro, não garantiria a distribuição do investimento,
indispensável numa união de Estados.
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Portugal não se pode
resignar a ser fornecedor de lítio e de praias.
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O esforço contra um
atraso tecnológico que resultou da defesa cega dos interesses imediatos das
maiores potências europeias não pode voltar a ser feito à custa das periferias.
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Se também somos Europa,
não podemos aceitar um modelo que nos põe a trabalhar para a concentração da
riqueza e da inovação no centro da Europa.
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Se somos Europa, temos
de deixar de ser o mordomo que serve à mesa, num jantar de velhos aristocratas
falidos.
Daniel
Oliveira, “Expresso” (sem
link)
A expressão “golpe de
teatro” vulgarizou-se e aplica-se a muitas situações previsíveis onde nada
indica que é a surpresa a liderar a acção.
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Se há algo que não
existe [no debate do OE 2025], é qualquer golpe à vista perante um final já tão
escrito, anunciado e previsível.
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O tempo nada vale para
um encontro onde está escrito que a não decisão e a falta de acordo [entre Luís
Montenegro e Pedro Nuno Santos] são a antecâmara para mais uma semana de
negociações em “loop”.
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O PSD está mais do que
confortável com as reivindicações socialistas, cabendo ao PS passar a imagem de
que tudo o que conseguir vai causar mossa no PSD.
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Como garante da
estabilidade, [Marcelo]pode estar a tentar cumprir o seu papel.
O pacote com medidas para a habitação foi o primeiro grande
pacote de medidas apresentadas por este Governo: não foi por acaso.
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Foi a confirmação de que este Governo
não está preocupado com os reais problemas de todos aqueles que, vivendo e
trabalhando em Portugal, precisam de Casa para Viver.
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Foi acima de tudo o uso do problema
real, para, jogando com os sentimentos e necessidades das pessoas, justificar
as medidas que servem quem lucra com a habitação.
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É isso que acontece quando se permite a
continuidade do aumento do valor das rendas sem as regular e não se impõe uma
duração dos contratos de arrendamento superior à que existe hoje.
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Importa
dizer que 70% de todos aqueles que trabalham no nosso país recebem salários
líquidos mensais inferiores a mil euros.
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Entre Janeiro de 2022 e Agosto de 2024 o
valor do arrendamento subiu cerca de 50% na média nacional e a esmagadora
maioria dos contratos celebrados não tem uma duração superior a um ano.
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Há poucos dias, uma auditoria da
Inspecção Geral de Finanças dava conta de que 60% dos inquilinos não tinham
contrato de arrendamento declarado pelos senhorios.
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A grande
propriedade imobiliária já teve redução de impostos em IRS e IRC.
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A
ganância não tem limites!
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No
crédito à habitação os juros representam uma fatia cada vez maior das prestações.
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Enquanto
isto, os bancos em Portugal somam 14,5 milhões de euros de lucros por dia!
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Este
Governo revogou também a obrigatoriedade da revisão das licenças de alojamento
turístico.
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Não é por
demais evidente a quem serve este Governo e esta política?
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É! Que os digam todos aqueles que vêem
os seus contratos não renovados e não conseguem encontrar casa alternativa a
preços comportáveis, ou aqueles que ao fim do mês entregam todo o salário ao
banco ou ao senhorio.
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Que o
digam os alunos que desistem de ingressar no ensino superior porque não há como
arrendar um quarto.
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No próximo sábado, 28 de Setembro, por
todo o país, as populações vão fazer ouvir a sua voz. Será a 4.ª vez em pouco
mais de um ano que o país se mobiliza e ocupa as ruas por Casa para Viver!
André Escoval, “Público” (sem link)
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