(…)
É
impossível ignorar os grupos de estudantes universitários a submeterem-se a
actividades humilhantes que chegam a causar constrangimento a quem passa por
perto.
(…)
É difícil explicar como é que a praxe sobrevive.
(…)
É intrigante perceber como é perpetuada por uma
geração de jovens que se orgulha de romper com as tradições retrógradas.
(…)
Estes
estudantes escolhem acreditar que a reforma da praxe faz dela aceitável, quando
a única mudança relevante foi tornar-se voluntária.
(…)
Não
vêem que o preferível talvez fosse voltar à origem da praxe, onde os estudantes
se organizavam para explicar o funcionamento da faculdade aos novos alunos, sem
nunca os submeter a qualquer humilhação.
(…)
Este sistema deixa qualquer um [estrangeiro]
perplexo.
(…)
A verdade é que, por vezes, parece que as
universidades não se apercebem do espaço que a praxe ocupa.
(…)
Esta
prática extremamente antiuniversitária está na raiz do insucesso relativo de
todos os outros eventos e clubes que a faculdade organiza.
(…)
A
energia dos estudantes que se deixam entrar na rotina da humilhação podia ser
canalizada para outros grupos, como clubes de debate, desporto ou artes.
(…)
É difícil compreender a passividade de muitas
universidades relativamente ao fenómeno.
(…)
A praxe prejudica a formação académica dos aluno.
(…)
Tenho
muitos colegas e amigos que aceitaram juntar-se à praxe. Não creio que nenhum
deles o tenha feito por genuíno gosto, nunca apreciaram receber ordens
aleatórias, fazer flexões ou cantar músicas brejeiras.
(…)
Todos
os meus amigos, quando olham para trás, percebem que a praxe é algo a que não
se deviam ter submetido, que vai contra os seus valores e o verdadeiro espírito
académico.
(…)
Penso
que, no primeiro ano da faculdade, sentiram culpa e renitência no momento de
aderir, mas cederam ao instinto de seguir a maioria e à vontade de fazer parte
de um grupo.
(…)
Pergunto-me
por quanto mais tempo a sociedade vai escolher banalizar a violência a que os
estudantes são sujeitos nas faculdades portuguesas.
Helena Halpern, “Público” (sem link)
Esta semana, em Nova Iorque, na sede da Organização das Nações
Unidas (ONU), cerca de uma centena de líderes políticos, de outros tantos
países, fizeram discursos sobre o futuro para o Mundo com conteúdos que nos
apresentam esse mesmo Mundo a desmoronar-se debaixo dos nossos pés.
(…)
O futuro, em grande medida, é feito de respostas ao presente
contínuo.
(…)
Neste conclave, a maioria dos participantes mais
determinantes não apresenta propostas para tratar os problemas de hoje.
(…)
Apesar do esforço do secretário-geral da ONU e de muitos
negociadores que com ele se empenham, o amplo conjunto de áreas inerentes aos
“Objetivos do desenvolvimento sustentável” não vão obter compromissos geradores
de novas dinâmicas.
(…)
Há governantes, poderes, corporações, indivíduos, plataformas
digitais e outras que se colocam acima da lei.
(…)
Para vencer [o sofrimento profundo] é necessário
solidariedade, cooperação e criação de esperança.
(…)
Biden e todos os que não agem, na medida dos seus poderes,
nesse sentido, tolhem o futuro.
(…)
Várias vezes [Guterres] tem dito, com tristeza e vergonha,
que a ONU está sem meios suficientes e é desrespeitada.
(…)
O Mundo que conhecemos não sobrevirá ao agravamento do confronto
entre as forças até aqui dominantes e as emergentes.
(…)
À tristeza e vergonha que sentimos temos de opor a esperança.
A União Europeia (UE) não cessa de mostrar sintomas da sua
doença incurável.
(…)
Os titulares das [instituições existentes] não revelam nem a
formação, nem o talento ou a vontade de aprender indispensáveis para o razoável
desempenho dos cargos.
(…)
Parlamento Europeu (PE) escolheu [um enfrentamento
direto NATO-Rússia, capaz de incendiar grande parte do mundo].
(…)
A Moção, grosseiramente russófoba, cheia de exigências aos
Estados da UE, é mais brutal do que muitas declarações de guerra registadas
pela historiografia.
(…)
O clímax guerreiro dos eurodeputados foi atingido, contudo,
quando insistem em “que todos os EM da UE devem comprometer-se a apoiar
anualmente a Ucrânia militarmente com não-menos de 0,25% do seu PIB.”
(…)
Os eurodeputados portugueses que querem mísseis a destruir
Moscovo, nem que para isso seja preciso empobrecer ainda mais os portugueses,
são todos os da AD, PS (exceção da abstenção de Bruno Gonçalves) e IL.
(…)
Os dois sensatos e residuais votos contra, respetivamente, do
PCP e do BE, comprovam que Descartes errou (ou seria ironia fina?) quando
escreveu que: “O bom senso é a coisa mais bem distribuída no mundo.”
Mas,
umas vezes por pequenos períodos de tempo, de forma irregular e imperfeita, a
força da liberdade permite aos homens governarem-se com base na igualdade e
fraternidade, e a isso tem-se chamado democracia.
(…)
Uma
das forças da democracia, e não são muitas, é absorver as imperfeições, os
conflitos de interesses e ideológicos, as diferenças, as contradições por meio
de procedimentos que, mantendo a vontade popular expressa pelo voto,
(…)
O
maior risco numa democracia já com certo grau de consolidação não vem do voto
(há excepções, Trump), mas da contaminação dos seus procedimentos pela sua irmã
gémea, a demagogia.
(…)
Na
actual situação portuguesa há um impasse governativo, resultado das
fragilidades do PSD e do PS, perante a emergência do Chega.
(…)
Pelos
vistos, os portugueses (que são, aliás, nestas coisas uma entidade abstracta)
não querem eleições e estariam dispostos a punir quem as provocasse.
(…)
Os
dois partidos têm uma política que oscila entre o receio e a hesitação, um
medir forças retórico e uma interiorização da ingovernabilidade.
(…)
[O objetivo
do ciclo de bebesses a que agora assistimos é] preparar eventuais eleições
antecipadas, e pressionar o PS para tornar penalizadora a reprovação do
Orçamento, que bloquearia muitas dessas benesses.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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