(…)
A COP29 ficará na minha memória como uma
tragicomédia climática.
(…)
Vi uma
conferência
com mais lobistas fósseis (1773) do que o total de delegados dos 10 países
mais vulneráveis à crise climática.
(…)
Cruzei-me com membros do partido Chega que por
lá circulavam, apesar de serem negacionistas das alterações
climáticas.
(…)
Mas o
verdadeiro fracasso foi outro: o acordo
de financiamento alcançado, descrito como “uma ilusão de ótica”, uma “piada
cruel”, de 300 mil milhões de dólares anuais prometidos até 2035 – uma fração
do necessário para realmente enfrentar a crise climática.
(…)
Os subsídios
aos combustíveis fósseis
atingiram o valor recorde de 1,7 biliões (à portuguesa, o equivalente aos
triliões anglo-saxónicos) de dólares em 2022.
(…)
A despesa militar global atingiu um máximo
histórico de 2,4 biliões de dólares apenas em 2023.
(…)
Apesar
da pressão de mais de 85 países por um acordo juridicamente vinculativo para
eliminar os plásticos mais
nocivos, a oposição de Estados petroquímicos impediu qualquer avanço.
(…)
Um
relatório do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) revelou que, para
cada R$1,00 investido em energia renovável, o governo brasileiro gasta R$4,50
em fontes fósseis.
(…)
[O Brasil] continua a ser o maior produtor de
petróleo da América Latina.
(…)
Se o Brasil quer ser reconhecido como um líder
climático, é agora que o verdadeiro teste começa.
(…)
Sem financiamento climático real, como poderão
os países em desenvolvimento implementar medidas mais ambiciosas [no que diz
respeito a compromissos climáticos nacionais]?
(…)
Mas, para a cimeira em Belém [COP30], algumas
prioridades já estão definidas.
(…)
Será fundamental construir confiança através de
mecanismos financeiros transparentes e amplificar as vozes da juventude e das
lideranças indígenas.
(…)
Esta será a primeira COP em três anos em que
teremos a liberdade de nos mobilizarmos nas ruas.
(…)
Lembraremos o mundo da interconexão entre os
ecossistemas, a justiça social e a sobrevivência humana.
(…)
Afinal,
diante de tantos conflitos de interesses, o que permanece? Para mim, a força da
sociedade civil, que se recusa a desistir.
(…)
[Permanece] a determinação em garantir que
nenhuma decisão seja tomada sem a nossa presença.
Bianca Castro, “Público”
(sem link)
O
Alentejo é uma região que possuiu uma identidade fortíssima, uma cultura e uma
paisagem admirável que soube preservar modos de vida e de cultivo que prestam a
todos nós incomparáveis serviços culturais e ambientais.
(…)
Já não
passa despercebida a qualquer pessoa que viva no Alentejo ou por ele viaje a
transformação brutal que está a ocorrer neste território.
(…)
[A mudança a que se assiste agora é bastante
violenta], muitíssimo rápida e completamente desregulada, características
típicas do tempo presente.
(…)
Trata-se,
sim, de um verdadeiro assalto a este território, onde, numa primeira fase
(muito recentemente), surgiram as
plantações intensivas e
superintensivas em monocultura.
(…)
A
maioria da população e dos concelhos saiu a perder, excepto uma minúscula parte
da equação, que são os proprietários ou investidores deste agro-negócio nocivo.
(…)
Que
riqueza trazem à região, ou mesmo ao país, os milhares de hectares de estufas
de plástico, de olival, amendoal e outras pseudoculturas?
(…)
O
impacto deste agro-negócio vai sendo substituído, ou acompanhado, por um outro
negócio bem mais apetecível para investidores internacionais e alguns
proprietários: o desenvolvimento das pretensas energias
renováveis (…) sendo a última fronteira para o
abismo a inteligência artificial.
(…)
O que
se avizinha tem o potencial de um autêntico processo de “colonização
imperialista do Alentejo”,
com o mesmo programa de ocupação de terrenos e exploração dos recursos naturais
em larga escala.
(…)
Como para qualquer poder que se quer impor, é
necessário acenar também com algumas benesses.
(…)
A
maioria dos municípios alentejanos encontra-se empobrecida, envelhecida,
sobretudo no interior, o que os leva a agradecer alguns milhões em troca das
destruições irreversíveis que surgirão um pouco mais tarde.
(…)
Nada
nestes projectos, sobretudo os solares – que, em outra escala, seriam até muito
bem-vindos – é avaliado em termos globais.
(…)
Não há
distribuição de energia para benefício local, antes se transformam estas
feridas na paisagem em áreas cercadas, campos de concentração onde a biodiversidade
é praticamente inexistente e onde ninguém pode entrar.
(…)
[Outros projetos preocupantes] vão passando
pelo crivo de malha larga de diferentes entidades [como] os direitos de pesquisa ou
mesmo de exploração de depósitos minerais, onde também tudo é possível.
(…)
O Alentejo está, assim, a ser uma região a
saque pela extensão desmesurada da avidez humana.
Maria Ramalho, “Público”
(sem link)
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