quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (144)

Trump quer resolver a guerra na Ucrânia à maneira de Ialta. E numa Ialta a dois  imperialismos sentam-se à mesa para repartir entre eles os despojos da guerra. 

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A proposta de Trump é chocantemente límpida: a Rússia fica com os territórios que quer e os Estados Unidos ficam com os recursos que ambicionam. 

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Na mesa do negócio, imola-se a Ucrânia, transformada em nada pelos dois imperialismos. 

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Agora é, por tudo isto, o tempo de a Europa clarificar que paz tem para contrapor à cultura de guerra partilhada pelos dois senhores imperiais.

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A “longa paz” vivida na Europa depois da II Guerra Mundial (…) [foi] a paz do quotidiano, da segurança das pessoas, assente em direitos sociais alargados e serviços públicos universais. 

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E essa derrota [da construção de uma Comunidade Europeia de Defesa] deu espaço – financeiro, desde logo, - ao fortalecimento do Estado Social.

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Não espanta que governos europeus, com presença crescente da extrema-direita, repliquem na Europa a receita militarista de Trump e de Putin, alimentando a ilusão de lhes disputar a vitória nas bombas.

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Pouco surpreende que Bruxelas exiba a escolha entre defesa e direitos sociais, abrindo às armas uma exceção à regra da austeridade.

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Já a esquerda, essa, só será alternativa se não desistir de contrapor a prioridade da paz do contrato social à prioridade da guerra travestida de defesa.

José Manuel Pureza, “Expresso” online

 

A AfD teve 20,8% e ficou em segundo lugar, exatamente como se temia. E, no entanto, vejo alguns democratas fazerem uma festa. 

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Aquilo a que assistimos [nas eleições alemãs] é à queda de todos os que estiveram no último governo, como tem acontecido um pouco por toda a Europa.

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A razão para estes resultados parece ser a mais clássica possível: os preços, o custo de vida, a economia.

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Foram as mulheres mais jovens das cidades que impediram que a vitória da direita fosse mais retumbanteVotaram 9% na AfD, 9% na CDU, 12% no SPD, 22% nos Verdes e 34% no Die Linke.

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A Esquerda teve um resultado surpreendente (quase duplica a votação) porque conseguiu liderar e mobilizar o voto antifascista depois da cedência da CDU na imigração, e porque fez uma campanha centrada na crise da habitação.

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Estrutural é a crise do centro-esquerda e da social-democracia.

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É a incapacidade da social-democracia e do socialismo democrático representarem os trabalhadores.

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Deixou de se perceber a sua utilidade, para além da alternância (e, na Alemanha, recorrente convergência) com a direita liberal e conservadora.

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É bom recordar que, em 2013, o SPD, que ficou em segundo, perdeu a oportunidade de fazer uma “geringonça” com os Verdes e a Esquerda, preferindo aliar-se a Merkel.

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No domingo, o SPD teve menos do que em 1933 (18,25%), quando os nazis chegaram ao poder.

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a AfD teve três vezes mais apoio entre os trabalhadores do que o SPD.

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Com o que aconteceu nos EUA, boa parte da direita democrática começa a perceber que, ao seu lado, está a quinta coluna. 

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[Na Europa] quem paga o investimento em defesa?

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A proposta que estará em cima da mesa será a de desmantelar o Estado Social, que a direita liberal e conservadora quer acabar de privatizar. 

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Não é difícil imaginar o que acontecerá se esta opção vencer: os aliados de Trump e de Putin vencerão por dentro enquanto nos tentamos defender por fora.

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A escolha entre a Defesa e o Estado Social é a de quem quer poupar os do costume de contribuírem para pagar a fatura.

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Friedrich Merz representa uma guinada da CDU à direita. 

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Se a opção do SPD for, como tudo indica que será, voltar a ser o sidecar desta CDU, para defender a Alemanha da extrema-direita, é possível que só esteja a preparar a Alemanha para a vitória da AfD 

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Talvez a festa que alguns fazem com a tragédia de domingo seja porque sentem que, para travar a extrema-direita, o centro-esquerda se suicida, dando votos à extrema-direita.

Daniel Oliveira, “Expresso” online


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