sexta-feira, 18 de julho de 2025

CITAÇÕES

 
Houve um tempo em que os autarcas se orgulhavam de distribuir chaves em vésperas de eleições. E só demoliam barracas como epílogo do realojamento.

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Porque antes se valorizava a competência de quem resolvia problemas da comunidade, hoje valoriza-se a suposta coragem de punir os infratores.

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Nunca algum autarca imaginou que pôr mais de 60 crianças ao relento podia ser popular.

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[Portugal herdou barracas] da ditadura e erradicou-as com um programa de realojamento.

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[As barracas, os sem-abrigo] estão a regressar porque centenas de milhares de casas foram desviadas para funções não habitacionais e o Estado é incapaz de construir outras, como fez há 20 anos, apesar de ter o dinheiro do PRR.

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Comprar e arrendar casas implica uma taxa de esforço superior a 50% em 75 municípios e que há quase 250 mil casas vazias, fora do mercado de arrendamento ou venda.

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No primeiro trimestre deste ano, os preços da habitação subiram 18,7%, três vezes mais do que a média europeia.

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A barraca é construída porque chove na cabeça e faz frio.

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Da “reimigração” externa passamos para a interna, onde cada concelho fortifica as suas fronteiras contra a invasão da pobreza.

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Neste tempo, o político não tem de ter competência para resolver os problemas, tem de ter coragem para punir.

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Assistimos à gentrificação das periferias, que recebem a classe média expulsa da capital.

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[Os pobres] vão sendo expulsos para cada vez mais longe dos lugares onde trabalham.

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O que o mercado não fizer, (…), fazem os caterpillars.

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O Estado social era o cimento de uma aliança entre classe média e pobres que nascia de uma ideia de comunidade

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[A classe média agora] quer, para se precaver, o seguro de saúde, o colégio privado, bairros que sejam condomínios, onde os problemas não chegam.

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Na lógica meritocrática, o pobre não falha por culpa da comunidade, como estava implícito ao modelo social em que acreditávamos, mas por culpa própria.

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Seja nacional ou imigrante, o pobre é um criminoso em potência.

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Não é por acaso que a extrema-direita só fala de polícia e a IL apresentou a lei contra os “ocupas”, tão distante dos problemas atuais.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

A história está pouco estudada, mas o novo documentário da brasileira Petra Costa, estreado este mês na Netflix, aflora a questão, mas a realizadora diz em entrevistas que a questão merecia mais investigação: a erupção das igrejas evangélicas no Brasil remonta aos anos 1960, ao tempo da ditadura militar, e a uma noção em Washington de que a teologia da libertação estava a ganhar demasiado peso no país, correndo-se o perigo de inclinar para a esquerda o gigante da América do Sul, maioritariamente católico, mas excessivamente desigual.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

Não nos enganemos, a religião e o discurso religioso sempre foram ferramentas de poder e de instrumentalização política.

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Oferecer a recompensa de um paraíso celeste aos que sofriam o inferno em vida ajudava a conter os andrajosos, evitava que se cansassem da fome e dos maus-tratos e se revoltassem contra esses poucos que os oprimiam.

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Só assim aconteceu o milagre da desigualdade.

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A segunda metade do século XX viu avançar algumas das civilizações do obscurantismo das ideias dogmáticas para avenidas mais progressistas.

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[Ainda se pensou que] o tempo dos becos e das vielas da ortodoxia religiosa, maniqueísta e exploradora havia ficado para trás em certas partes do mundo.

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Para o professor da Academia de Estudos Teológicos de Volos [Nikos Kouremenos], ao transformar a fé num veículo de propaganda perde-se não só “a ousadia profética em relação ao poder”, como a universalidade da mensagem do Evangelho e a inclusão do outro, do diferente.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

O patamar de indignidade e indiferença perante o sofrimento acompanhou a absoluta ilegalidade em nome de algo que só pode conformar-se ao mais puro eleitoralismo de quem vê uma contagem de votos, pela agenda da extrema-direita, sobrepor-se a uma contagem das vidas. 

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A violência física e emocional contra famílias inteiras, sem cuidar de alternativas.

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Despejos sem pré-aviso consistente e atempado, todo um manual de práticas apelidadas de ilegais praticadas pelos responsáveis das câmaras municipais de Loures, Amadora e Odivelas.

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Sem qualquer encaminhamento social ou habitacional, sem apoio, redobrando a miséria. Sem qualquer tipo de humanidade. 

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Há um caminho agora conveniente que o PSD pode palmilhar, pensando em eleições autárquicas e na gestão de crises insufladas pela demagogia.

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[Talvez se exija um princípio de acordo no Parlamento] que impeça o presidente da Assembleia da República de permitir que nomes de crianças sejam citados no hemiciclo, com consequências potencialmente desastrosas para a presença dessas crianças nas escolas e para as suas famílias.

Miguel Guedes, JN

 

Uma das principais missões da Igreja é a protecção dos mais fracos. É este espírito que a torna quente, humana, universal – tão bem representada na figura do Papa Francisco.

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A Igreja, os cristãos, procuram o bem; fazem o bem; são empáticos e têm deveres humanos maiores do que os ateus.

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É por isso dever de qualquer cristão proteger os pequenos, dar-lhes a mão, ajudá-los – e combater quem os atira à lama.

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Hoje, o partido que mais atenta contra os valores cristãos – dignidade humana, protecção dos mais fracos, família, empatia, personalismo, liberdade, misericórdia, perdão, atenção – é o de André Ventura.

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Perseguiram os que menos responsabilidade têm no motivo pelo qual foram atacados: são filhos de imigrantes, não escolheram imigrar.

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Isto é o Chega: rastejante no espírito; malvado na intenção; cego por convicção.

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O mundo de André Ventura e da sua comandita não é o cristão: o cristão tem amor no centro – este gira sobre o ódio.

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Nos seminários e paróquias que Ventura frequentou não lhe ensinaram o ódio.

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[Ventura e Rita Matias] podem um dia ter sido cristãos, mas hoje em nada o são. 

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Perdoai-lhes, Senhor, embora eles saibam o que fazem.

Henrique Pinto de Mesquita, “Público” (sem link)

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