(…)
Porque antes se valorizava a competência de quem resolvia
problemas da comunidade, hoje valoriza-se a suposta coragem de punir os
infratores.
(…)
Nunca algum autarca imaginou que pôr mais de 60 crianças ao
relento podia ser popular.
(…)
[Portugal herdou barracas] da ditadura e erradicou-as com um
programa de realojamento.
(…)
[As barracas, os sem-abrigo] estão a regressar porque
centenas de milhares de casas foram desviadas para funções não habitacionais e
o Estado é incapaz de construir outras, como fez há 20 anos, apesar de ter o
dinheiro do PRR.
(…)
Comprar e arrendar casas implica uma taxa de esforço superior
a 50% em 75 municípios e que há quase 250 mil casas vazias, fora do mercado de
arrendamento ou venda.
(…)
No primeiro trimestre deste ano, os preços da habitação
subiram 18,7%, três vezes mais do que a média europeia.
(…)
A barraca é construída porque chove na cabeça e faz frio.
(…)
Da “reimigração” externa passamos para a interna, onde cada
concelho fortifica as suas fronteiras contra a invasão da pobreza.
(…)
Neste tempo, o político não tem de ter competência para
resolver os problemas, tem de ter coragem para punir.
(…)
Assistimos à gentrificação das periferias, que recebem a
classe média expulsa da capital.
(…)
[Os pobres] vão sendo expulsos para cada vez mais longe dos
lugares onde trabalham.
(…)
O que o mercado não fizer, (…), fazem os caterpillars.
(…)
O Estado social era o cimento de uma aliança entre classe
média e pobres que nascia de uma ideia de comunidade
(…)
[A classe média agora] quer, para se precaver, o seguro de
saúde, o colégio privado, bairros que sejam condomínios, onde os problemas não
chegam.
(…)
Na lógica meritocrática, o pobre não falha por culpa da
comunidade, como estava implícito ao modelo social em que acreditávamos, mas
por culpa própria.
(…)
Seja nacional ou imigrante, o pobre é um criminoso em
potência.
(…)
Não é por acaso que a extrema-direita só fala de polícia e a
IL apresentou a lei contra os “ocupas”, tão distante dos problemas atuais.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A
história está pouco estudada, mas o novo documentário da brasileira Petra Costa,
estreado este mês na Netflix, aflora a questão, mas a realizadora diz em
entrevistas que a questão merecia mais investigação: a erupção das igrejas
evangélicas no Brasil remonta aos anos 1960, ao tempo da ditadura militar, e a
uma noção em Washington de que a teologia da libertação estava a ganhar
demasiado peso no país, correndo-se o perigo de inclinar para a esquerda o
gigante da América do Sul, maioritariamente católico, mas excessivamente
desigual.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Não nos enganemos, a religião e o discurso
religioso sempre foram ferramentas de poder e de instrumentalização política.
(…)
Oferecer
a recompensa de um paraíso celeste aos que sofriam o inferno em vida ajudava a
conter os andrajosos, evitava que se cansassem da fome e dos maus-tratos e se
revoltassem contra esses poucos que os oprimiam.
(…)
Só assim aconteceu o milagre da desigualdade.
(…)
A segunda metade do século XX viu avançar
algumas das civilizações do obscurantismo das ideias dogmáticas para avenidas
mais progressistas.
(…)
[Ainda
se pensou que] o tempo dos becos e das vielas da ortodoxia religiosa,
maniqueísta e exploradora havia ficado para trás em certas partes do mundo.
(…)
Para o
professor da Academia de Estudos Teológicos de Volos [Nikos Kouremenos], ao transformar
a fé num veículo de propaganda perde-se não só “a ousadia profética em relação
ao poder”, como a universalidade da mensagem do Evangelho e a inclusão do outro,
do diferente.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
O patamar de indignidade e indiferença perante o sofrimento
acompanhou a absoluta ilegalidade em nome de algo que só pode conformar-se ao
mais puro eleitoralismo de quem vê uma contagem de votos, pela agenda da
extrema-direita, sobrepor-se a uma contagem das vidas.
(…)
A violência física e emocional contra famílias inteiras, sem
cuidar de alternativas.
(…)
Despejos sem pré-aviso consistente e atempado, todo um manual
de práticas apelidadas de ilegais praticadas pelos responsáveis das câmaras
municipais de Loures, Amadora e Odivelas.
(…)
Sem qualquer encaminhamento social ou habitacional, sem
apoio, redobrando a miséria. Sem qualquer tipo de humanidade.
(…)
Há um caminho agora conveniente que o PSD pode palmilhar,
pensando em eleições autárquicas e na gestão de crises insufladas pela
demagogia.
(…)
[Talvez se exija um princípio de acordo no Parlamento] que
impeça o presidente da Assembleia da República de permitir que nomes de
crianças sejam citados no hemiciclo, com consequências potencialmente
desastrosas para a presença dessas crianças nas escolas e para as suas
famílias.
Uma
das principais missões da Igreja é a protecção dos mais fracos. É este espírito
que a torna quente, humana, universal – tão bem representada na figura do Papa
Francisco.
(…)
A
Igreja, os cristãos, procuram o bem; fazem o bem; são empáticos e têm deveres
humanos maiores do que os ateus.
(…)
É por
isso dever de qualquer cristão proteger os pequenos, dar-lhes a mão, ajudá-los
– e combater quem os atira à lama.
(…)
Hoje,
o partido que mais atenta contra os valores cristãos – dignidade humana,
protecção dos mais fracos, família, empatia, personalismo, liberdade,
misericórdia, perdão, atenção – é o de André Ventura.
(…)
Perseguiram os que menos responsabilidade têm
no motivo pelo qual foram atacados: são filhos de imigrantes, não escolheram
imigrar.
(…)
Isto é o Chega: rastejante no espírito; malvado
na intenção; cego por convicção.
(…)
O
mundo de André Ventura e da sua comandita não é o cristão: o cristão tem amor
no centro – este gira sobre o ódio.
(…)
Nos seminários e paróquias que Ventura
frequentou não lhe ensinaram o ódio.
(…)
[Ventura e Rita Matias] podem um dia ter sido
cristãos, mas hoje em nada o são.
(…)
Perdoai-lhes, Senhor, embora eles saibam o que
fazem.
Henrique Pinto de
Mesquita, “Público” (sem link)
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