(…)
Hoje, o acesso à saúde tornou-se, em muitos casos, uma
questão de sorte geográfica.
(…)
Mas esta não é uma tragédia acidental. É consequência direta
de um desmantelamento gradual — e estrutural — do SNS.
(…)
O Governo de Luís Montenegro tem promovido medidas que
favorecem, de forma crescente, a transferência de recursos públicos para o
setor privado.
(…)
Este modelo, (…) continua a drenar recursos do SNS para
operadores privados.
(…)
O investimento na saúde tem sido canalizado para o sector
privado, financiado com dinheiros públicos.
(…)
Os operadores privados poderão, de forma mais ágil, receber
doentes do SNS e serem pagos por isso.
(…)
Termos como “eficiência” ou “liberdade de escolha” continuam
a ser usados como justificações para uma desresponsabilização progressiva do
sector público.
(…)
Reformar a saúde é urgente, mas isso exige reforçar os
quadros do SNS com médicos e demais profissionais de saúde.
(…)
A estratégia atual parece apontar noutra direção: transformar
a saúde pública num negócio privado.
(…)
Sem médicos no SNS, não há reestruturação que funcione nem um
verdadeiro SNS para a população.
Joana Bordalo e Sá, “Expresso” online
Quando era miúda, tive a sorte de ter uma mãe
que falava de sexualidade sem qualquer problema.
(…)
No jardim de infância ou na escola primária,
onde as professoras eram freiras, a sexualidade simplesmente não existia.
(…)
Na verdade, a conversa sobre sexualidade
existia, sim, existia no recreio, nas conversas intermináveis sobre namoros nos
insultos dirigidos aos rapazes que “não eram suficientemente viris” ou às
raparigas que eram “demasiado fáceis”.
(…)
A sexualidade cobre um espectro enorme de
práticas, de vivências, de formas de se relacionar.
(…)
Um
beijo entre crianças não tem nada a ver com a sexualidade de adolescentes ou
adultos, e muito menos com a violência sexual contra crianças.
(…)
A pedocriminalidade é precisamente isto: uma forma criminosa
e violenta de introduzir as crianças numa experiência sexual para a qual não
têm nem capacidade de consentimento nem maturidade emocional.
(…)
Quando
se impede uma criança de aprender o que é o consentimento, o seu próprio corpo,
os limites, está-se a prepará-la para o silêncio. E o silêncio protege sempre os mesmos, os agressores.
(…)
É
curioso perceber que quem mais grita contra a “sexualização das crianças” são
precisamente os que querem que elas cresçam na ignorância.
(…)
Os que se dizem “defensores da família” são,
afinal, os verdadeiros fanáticos do sexo.
(…)
O que mais os incomoda não é a violência, é a
liberdade.
Luísa Semedo,
“Público” (sem
link)
As
recentes demolições no Talude, um bairro autoconstruído, cuja génese remonta à década de 1970
mas que teve um crescimento recente, são prova disso mesmo [ expulsar do seu território as
franjas populacionais que prejudicam a imagem do concelho].
(…)
Realizadas em profundo atropelo da lei de bases
da habitação (…) acabaram suspensas pelo tribunal.
(…)
O resultado da ação de Ricardo Leão, (…) foi o
de deixar 36 famílias com crianças, ao relento, no meio dos escombros.
(…)
Falamos
maioritariamente de famílias de trabalhadores de génese Cabo-Verdiana e
São-Tomense, que descontam para a segurança social e que asseguram funções que
mais ninguém quer assumir.
(…)
Em
defesa do autarca, irrompeu um coro de comentadores e de camaradas políticos
que privilegiaram a gincana eleitoralista ao invés da defesa dos deveres de
humanidade, dignidade e decência moral.
(…)
[Ficou evidente] a tentativa perversa de gerar
uma cortina de fumo relativamente às causas que explicam a atual proliferação
dos bairros autoconstruídos.
(…)
Os fenómenos de urbanização da pobreza emergem
(…) quando a provisão pública de habitação é amplamente insuficiente e a
provisão privada se torna inacessível.
(…)
A magnitude da crise da habitação [decorre] de
instrumentos de política estratégica adotadas por sucessivos governos com o
objetivo de tornar as cidades e as casas permeáveis ao turismo de massas e ao
investimento internacional.
(…)
Este caminho eclipsou o mercado de habitação
para quem vive e trabalha no país.
(…)
Políticas desenhadas em função de tudo o que é
exterior (…) que desprezam as condições de vida de quem vive no país
tem como consequência o agravamento das desigualdades socio-espaciais a nível
interno.
(…)
Entre os trinta países da OCDE, Portugal (…)
é aquele onde é mais difícil arrendar ou comprar casa.
(…)
No
contexto Europeu, é também um dos países do bloco em que há mais desigualdades
e onde o salário mínimo é um dos mais insuficientes para cobrir as despesas básicas.
(…)
Quase dois milhões de pessoas vivem em
condições de pobreza e privação.
(…)
São mais de 80.000 o número de agregados a
viver em condições de precariedade habitacional.
Sebastião Ferreira
de Almeida, “Público” (sem link)
Eis que o programa da disciplina de Cidadania e
Desenvolvimento vê o seu conteúdo programático alterado (…) sem que haja uma
qualquer evidência que nos mostre que devia ser alterado.
(…)
Sem que haja um caso (…) que sustente a alucinação que tomou
conta de uma horda de falsos puritanos, vítimas carpideiras do espírito “woke”
que não se encontra no programa da disciplina.
(…)
O “wokismo” é agora um património dos herdeiros dos chalupas
do chicote, dos demagogos da desinformação e da mentira, dos recalcados ou
tacticistas que abrem portas à extrema-direita.
(…)
Para muitos, é preferível uma gravidez indesejada do que um
mau investimento em bitcoins.
(…)
A ideologia de género é assim um manto de pasto delicioso
para a desinformação e para os criadores de mitos urbanos.
(…)
É preferível que as crianças aprendam sobre sexualidade na
escola do que no TikTok.
(…)
Acrescento eu, que tenham na escola o contraponto para aquilo
que desaprendem nessa e noutras redes sociais.
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