(…)
[Em Grândola] há duas praias de acesso vedado e oito
condicionado, excluindo ou dificultando o acesso. Numa, até se exige o cartão
do cidadão.
(…)
Ao contrário do que acontece em muitos países, a nossa lei
não permite praias privadas.
(…)
Quem andou pelo mundo sabe que a privatização acaba na
degradação do areal público.
(…)
Privados, nós temos os toldos, as espreguiçadeiras e os bares
de apoio.
(…)
Uma solução de compromisso entre a exploração empresarial e o
interesse geral.
(…)
A praia é central na identidade coletiva de um povo que tem o
sol e o mar como bens democráticos e conquistou há pouco tempo o direito ao
lazer.
(…)
E é isso que explica a reação popular à notícia de que não há
acesso público ao longo de 45 quilómetros de areal em Grândola.
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Agora, a vontade de vender paraísos escondidos, o beneplácito
da autarquia e o zelo da APA oferecem-nos a pior forma de privatização.
(…)
Fechando caminhos antes abertos e garantindo praias sem
estacionamento numa área de quilómetros, afastam-se as pessoas do que sempre
foi seu.
(…)
Como reação, o Governo diz que vai impor preços máximos ao
que seja vendido nas praias.
(…)
É aí, na contratualização transparente com privados da gestão
de um espaço público, que se definem preços e condições.
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Há mais de um mandato que a de Grândola se “esquece” de
lançar um regulamento para a concessão.
(…)
[É a APA] que vai autorizando empreendimentos privados sem
estacionamento público.
(…)
Quem não tem carteira só lá pode chegar por trilhos
improvisados nas dunas, uma pressão adicional sobre o ecossistema.
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Seja qual for a cor do poder, não há melhor do que a pressão
popular.
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A praia é o que nos sobra de mais interclassista.
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Um espaço comunitário que resiste à gentrificação de toda a
sociedade.
(…)
[Nas cidades] sem diversidade social, vida coletiva e lugar
de encontro que as faz lugar de vida, a praia resiste.
(…)
Porque o povo não está disposto e entregar a ninguém o que é
de todos.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Pois é. Já está bem claro que o tão propalado “reformismo” do
Governo se consubstancia numa agenda regressiva, que testará as linhas de
demarcação da democracia.
(…)
As propostas relativas à Lei da Nacionalidade, construídas na
base de manipulações e mentiras (…), ou os conteúdos e justificações
trapalhonas que o Governo já avançou sobre como quer tratar a educação sexual
na escola, não deixam dúvidas.
(…)
A democracia nascida com o 25 de Abril está num sobressalto
sem paralelo nos 50 anos da sua existência.
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O liberalismo económico é tão destruidor de solidariedades e
de cidadania social quanto as agendas políticas da extrema-direita.
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O conteúdo do “anteprojeto de lei da reforma da legislação
laboral – Trabalho XXI” é um tratado neoliberal.
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O Governo joga com o período de férias e com o enfoque
político nas eleições autárquicas como cortinas de fumo para não ter de dar a
cara nas matérias fundamentais.
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Terão de ser combatidos com dureza os que alcunham de
reformas, conteúdos que são contrarreforma à luz de princípios constitucionais
e de valores humanistas.
(…)
O movimento sindical, todo, precisa de se unir em torno do
que é fundamental e jamais cometer a infantilidade de entrar no jogo do
pretenso reformismo.
[O projeto da Rádio Observador] é um projecto político
representando fortes interesses económicos no palco mediático e da ala mais à
direita do espectro político.
(…)
Tem
recursos que nenhuma outra rádio tem ao seu dispor, e está no centro político e
ideológico da influência crescente da direita mais à direita.
(…)
O
Chega é muitas vezes atacado, não pelos seus temas, mas quando dificulta a
actuação do PSD, que eles sabem muito bem ser quem pode aceder à governação.
(…)
O modo
como o Chega trata a imigração é um exemplo perfeito, que, com todas as suas
mentiras e sugestões de falsidade, está na origem da colocação da imigração e a
sua suposta correlação com a criminalidade.
(…)
O
mesmo acontece, aí com mais proximidade política, com a Iniciativa Liberal, com
a mesma lógica de proteger o Governo e o PSD dos excessos inconvenientes.
(…)
E
também o mesmo acontece com a sistemática promoção de tudo que surja na e da
ala direita do PS.
(…)
[A acção política do Observador] beneficia, aliás, de
muita complacência nos outros órgãos de comunicação.
(…)
Acresce
que o Observador tem fontes privilegiadas, em particular no Ministério Público,
nos partidos do Governo e no Governo, bem como nas confederações patronais, e
conta com publicidade de grandes empresas.
(…)
Fontes e apoios estão directamente ligados com o programa
político do Observador.
(…)
[Um
exemplo] é o tratamento da decisão do Presidente da República de enviar a lei
da nacionalidade para o Tribunal Constitucional,
imediatamente atacada como sendo um frete à “esquerda.
(…)
Tudo isto estaria bem se houvesse transparência política e o
Observado em vez de se apresentar como um órgão de
comunicação seguindo as regras deontológicas do jornalismo, fizesse uma
declaração de interesses política.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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