(…)
As situações que se vivem num país têm imbricações com
realidades que se manifestam noutros países e regiões do Mundo.
(…)
Não se param processos migratórios com as mãos ou por
decreto. Não se contêm com medidas administrativas.
(…)
Para instalar a precarização do trabalho que hoje afeta,
direta ou indiretamente, quase todos os trabalhadores, foram implementadas
políticas laborais que, por exemplo, culpavam os direitos dos trabalhadores
mais velhos pelo desemprego dos jovens.
(…)
Adquiridas as formações académicas, teoriza-se,
criminosamente, sobre a inadequação das formações obtidas
(…)
Entretanto, às centenas de milhares de pequenos empresários
com carências de formação, recomenda-se que tomem os salários baixos como
instrumento de ajustamento da sua economia, e pouco mais.
(…)
O ataque às solidariedades geracional e intergeracional vem,
pois, de muito antes do boom migratório da última década.
(…)
O
ataque aos direitos de todos os trabalhadores vai intensificar-se.
(…)
[Os imigrantes] têm dado uma contribuição líquida notável
para a nossa economia, para a liquidez da Segurança Social, para o Orçamento do
Estado e para o enriquecimento cultural da nossa sociedade.
(…)
Os trabalhadores todos, nacionais e imigrantes, estão
desafiados a construir respostas comuns.
Qualquer
pessoa que conheça história sabe que aquilo a que chamamos “civilização” é
muito mais frágil do que a crueldade, a violência, a prepotência, a vingança, o
poder absoluto e brutal.
(…)
A
“civilização” é uma raridade, acontece por pequenos períodos, torna a vida dos
que vivem nesses tempos melhor e depois esgota-se e acaba.
(…)
Toda a
gente sabe a diferença entre um mundo, imperfeito que seja, desigual, muitas
vezes injusto, mas onde as pessoas são senhoras do seu destino pelo voto, vivem
no primado da lei, têm liberdade religiosa, acedem a condições mínimas de
existência.
(…)
O que
sobra é melhor do que um mundo com pena de morte, tortura, censura, ausência de
direitos, em que todos são indefesos face aos mais fortes.
(…)
A “civilização” como a conhecemos no mundo
democrático ocidental está a acabar, diante dos nossos olhos.
(…)
A
violência torna-se a regra nas relações como “outro” e o “outro” é fácil de
encontrar nas nossas ruas, os imigrantes.
(…)
O
mundo que filósofos como Comte entendiam ter entrado numa senda de “progresso”,
com a revolução técnico-científica do final do século XIX, entrou na barbárie
da I e da II Guerra.
(…)
Há
muitas explicações socioeconómicas para esta crise civilizacional, muito
sérias, mas a guerra cultural dos nossos dias tem um papel fundamental.
(…)
Basta ver o X para se perceber o impacto em
quem vive dependurado nas redes do que lá encontra.
(…)
No Instagram e no TikTok, um bom exemplo da
platitude intelectual dos nossos dias é a classificação de “influenciadores”.
(…)
Por regra, com uma absoluta indigência
intelectual, gigantesca ignorância, muito mau carácter, e truques de ganância.
(…)
Esses “influenciadores”, na sua maioria do sexo
feminino, actuam para um público adolescente, também na sua maioria feminino.
(…)
Alguns/algumas
já cometeram crimes, desde violência sobre crianças (a história do banho de
água fria para calar os berros da filha) ao atropelamento e fuga de um “criador
de conteúdos”, forcado e apoiante do Chega.
(…)
No plano político, nestes “influenciadores”,
predominam os homens e o Chega. Produzem uns comentários indigentes, mas
sublinhando os temas da propaganda do partido.
(…)
Este submundo é hoje o mundo. Sem
princípios, sem saber, sem mediação, com apologia da força, elogio da violência
e hostilidade aos mais fracos.
Pacheco Pereira, “Público”
(sem link)
Não podemos deixar de sentir uma perturbação profunda diante
dos discursos do ódio que testemunhamos.
(…)
Estes discursos podem rapidamente transformar-se, deixando de
ser discursos para ser explosão de violência.
(…)
E a liberdade continua a ser sonho. Sonho para milhões de
irmãos.
(…)
O ódio contra o diferente grita a distância que separa o
sonho da realidade.
(…)
O discurso e as legislações de ódio contra outras culturas
negam a profissão de fé em qualquer experiência religiosa.
(…)
O Papa Leão XIV segue com tenacidade esse mesmo desejo [de
construção de pontes] e a expressão fazer pontes é uma presença recorrente nos
seus discursos.
(…)
Dramaticamente, experimentamos a nossa capacidade da montanha
inultrapassável do poder e da manipulação.
(…)
Como dizia um ativista pela paz, quando o fogo alastra,
sentimo-nos impotentes pois nem balde temos.
(…)
Mas, cada um de nós tem a sua colher e milhões de colheres
poderiam suster o fogo.
(…)
A palavra é a colher que nos resta.
(…)
Que as nossas vozes se unam num protesto permanente contra o
ódio e a discriminação.
Idalino Simões, “Diário de Coimbra”
(sem link)
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