(…)
Vi o
meu pai dedicar mais de trinta anos à política local, e aprendi com ele que
servir as pessoas é a forma mais nobre de fazer política.
(…)
A política é, antes de tudo, a arte de
contribuir para construir uma sociedade justa, democrática, participativa e
humana.
(…)
Fazer
política é servir o povo. É respeitar o outro e as suas opiniões. É tomar
decisões pelo bem comum, com ética e empatia. É, em suma, colocar o interesse
coletivo acima do individual.
(…)
A
democracia em que cresci, e que me formou como cidadão, está hoje sob ameaça.
Uma ameaça global, difusa, com muitos nomes e rostos, mas que em Portugal tem
um nome bem concreto: Chega.
(…)
[O
Chega] é o partido da mentira e da manipulação, que despreza os valores
democráticos e transforma as fragilidades humanas em combustível político.
(…)
Um partido que trata imigrantes como
criminosos, pobres como parasitas e a diversidade como uma doença.
(…)
Que normaliza o discurso de ódio e ataca tudo o que representa empatia,
solidariedade e justiça social.
(…)
[O mais preocupante] é a indiferença com que
muitos o encaram.
(…)
O populismo floresce precisamente quando a
democracia se torna rotina e o cansaço substitui a esperança.
(…)
[O combate a esta ameaça] começa em casa.
(…)
É no modo como educamos os nossos filhos
(…) que se constrói a base do pensamento crítico.
(…)
É fundamental ensinar a duvidar. Ensinar a
perguntar. Ensinar a pensar.
(…)
São os
meus filhos. São os meus estudantes. São as crianças das escolas primárias que
visito regularmente para falar sobre democracia [que me colocam as questões mais difíceis].
(…)
São
eles, as novas gerações, que terão de construir as estratégias para travar esta
epidemia populista que contamina o debate público.
(…)
Uma
epidemia que, em Portugal, é liderada por um “génio político” que transforma
frustração em votos, desinformação em aplausos e insultos em opiniões
corajosas.
(…)
[Um homem] cuja ilusão suprema é convencer-nos
de que é o único capaz de salvar o país enquanto o destrói.
(…)
[Defender a democracia] exige que se fale, que
se escute, que se participe. Exige que recusemos o silêncio e o cinismo.
(…)
[Defender a democracia], acima de tudo, exige
que eduquemos para a liberdade.
Nuno Marques, “Público”
(sem link)
[A
fome] é fruto de escolhas de governos e de sistemas econômicos que optaram por
fechar os olhos para as desigualdades. Ou mesmo promovê-las.
(…)
A mesma
ordem econômica que nega a 673 milhões de pessoas o acesso à alimentação
adequada permite a um seleto grupo de 3 mil bilionários deterem 14,6% do PIB
global.
(…)
Em
2024, as nações mais ricas ajudaram a impulsionar o maior aumento em gastos
militares desde o fim da Guerra Fria.
(…)
Mas
não tiraram do papel o compromisso que elas mesmas assumiram: investir 0,7% do
PIB em ações concretas para a promoção do desenvolvimento nos países mais
pobres.
(…)
[Diferente de há 80 anos] não temos apenas as
tragédias da guerra e da fome se retroalimentando, mas também a urgente crise
climática.
(…)
[Há
que] criar fluxos de investimentos que promovam o desenvolvimento sustentável e
garantir aos Estados a capacidade de implementar políticas públicas consistentes
de combate à fome e à pobreza.
(…)
É fundamental incluir os pobres no orçamento
público e os mais ricos no imposto de renda.
(…)
Isso passa pela justiça tributária e a
taxação dos super-ricos.
(…)
Defendemos tal prática no mundo – e a adotamos
no Brasil.
(…)
A existência
da fome é uma escolha política
Pela
primeira vez no país [Brasil], haverá uma taxação mínima sobre a renda das
pessoas mais ricas do país, isentando do imposto milhões de pessoas com
salários menores.
(…)
Também à frente do G20, o Brasil propôs a
criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
(…)
Com a
Aliança, queremos que os países tenham as capacidades necessárias para conduzir
as políticas que efetivamente reduzam a desigualdade e garantam o direito à
alimentação adequada.
(…)
Dados oficiais divulgados há poucos dias
mostram que libertamos da fome 26,5 milhões de brasileiros desde o início de 2023.
(…)
O
Brasil saiu, pela segunda vez, do Mapa da
Fome da FAO em seu relatório sobre a insegurança alimentar no mundo.
(…)
Qualificamos e ampliamos nosso principal
mecanismo de transferência de renda, que passou a atender a 20 milhões de
lares.
(…)
Ampliamos os recursos destinados à alimentação
gratuita nas escolas públicas, que beneficia 40 milhões de estudantes.
(…)
Garantimos renda a famílias de pequenos
agricultores e distribuímos comida gratuita e de qualidade a quem realmente
precisa.
(…)
Nenhuma
dessas políticas, porém, se sustenta sem um ambiente econômico que as
impulsione. Quando há empregos, quando há renda, a fome perde sua força.
(…)
A ação do Estado é capaz, sim, de vencer o
flagelo da fome.
(…)
[Há que] investir em desenvolvimento, e
não em guerras.
(…)
[É preciso] privilegiar o combate à
desigualdade.
(…)
E encarar o desafio da mudança do clima, tendo
as pessoas no centro de nossas preocupações.
(…)
Ao
sediar a COP30
na Amazônia, no mês que vem, o Brasil quer mostrar que o combate à mudança do
clima e o combate à fome e à pobreza precisam andar juntos.
(…)
Queremos
adotar, em Belém, uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima que reconheça os
impactos profundamente desiguais das mudanças climáticas e seu papel no
agravamento da fome em certas regiões do mundo.
(…)
Também
levarei estas mensagens ao Fórum Mundial da Alimentação e à reunião do Conselho
de Campeões da Aliança Global Contra a Fome.
(…)
A
humanidade, que criou o veneno da fome contra ela mesma, também é capaz de
produzir o seu antídoto.
Luís Inácio Lula da Silva, “Público” (sem link)
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