(…)
A incapacidade de encontrar um modelo ou uma política comum
de alianças no país autárquico conduziu a Esquerda a mais uma derrota.
(…)
Ao invés de procurar um caminho de afirmação solitário ou de
uma consistente frente unida, a fragmentação da Esquerda é um caso de estudo de
irracionalidade e de afronta aos seus interesses próprios.
(…)
O PS palmilha agora um caminho indeciso onde se exige clareza
nas opções.
(…)
Mais do que saber se Pedro Nuno Santos tem ou não razão ao
responsabilizar a falta de unidade da Esquerda pelos resultados eleitorais do
passado domingo, importa entender a importância da questão que coloca.
(…)
À esquerda, assistimos a uma negação em grupo.
(…)
Visão
comum, zero à esquerda. Tiros nos pés é pouco quando assistimos a uma amputação
à medida do destino ou tragédia por opção.
Vários
dias depois [das eleições autárquicas], continuo a ler artigos de opinião sobre
as eleições que parecem tratados de matemática. E o povo?, pergunta a poeta. E
nós?, pergunta o povo.
(…)
Meço vitórias a partir do impacto sobre a vida
das pessoas. Não é demagogia, é pragmatismo.
(…)
Um
partido pode subir a sua votação, mas se isso não lhe permite fazer aquilo para
o qual deveria existir, perdeu.
(…)
As
prioridades são as casas onde chove lá dentro; crianças com problemas asmáticos
e a humidade nas paredes; habitações sem luz, sem água ou casa de banho; casas
minúsculas; rendas indecentes que estrangulam as famílias (…) canalizações precárias, com um fiozinho
de água, cuja pressão, por vezes, nem dá para relançar a água quente (…)
transportes insuficientes (…) manutenção dos espaços públicos
intermitente e escassa (…).
(…)
Esquerda(s),
não será o momento de deixarem de se focalizar em migalhas e refletir em como
trazer estas pessoas às urnas?
(…)
Não será o momento de preparar já as próximas
autárquicas em vez de fazer tudo à pressa (…) ?
(…)
As pessoas sabem quem por lá anda e quem só
aparece em tempos de eleições.
Luísa Semedo, “Público”
(sem link)
A
resposta que [o ministro da Educação] deu aos estudantes depois de ter
descongelado as propinas foi que estas não representam, nem de perto, o maior
custo para um estudante.
(…)
O
partido de Miguel Pinto Luz parece estar mais preocupado em reduzir o IRS aos senhorios do que que reduzir o principal
gasto de um estudante no Ensino Superior um quarto partilhado com sete pessoas, sem sala de estar, e sem
contrato.
(…)
[O ministro da Educação] ainda acrescentou que
só aumentou a propina depois de
aumentar as prestações sociais.
(…)
Infelizmente, dar com uma mão para tirar com a
outra é pouco.
(…)
[O ministro] evita uma discussão que
aborde a gratuitidade parcial do Ensino Superior.
(…)
É,
aliás, a mesma narrativa do ministro, na verdade: recusar a uns sob a pena de
poder vir a beneficiar a outros que podem pagar.
(…)
Mas depois esquecemo-nos de reduzir os custos
de quem não pode pagar.
(…)
O que
não faz sentido é que depois destes argumentos todos, o ministro institua a
gratuidade dos manuais a todos os alunos, inclusive aos que frequentam a
rede privada.
(…)
Exactamente
aqueles que utilizou para fechar a porta à redução de propinas e aqueles com
mais meios para tirar os cursos com maior empregabilidade.
(…)
Portanto,
o ministro escusa-se de reduzir a propina a alguns porque é injusto reduzir
para todos, mas permite-se tornar gratuito os manuais a quem tem mais recursos
porque a medida abarca quem tem menos meios.
(…)
Os
pobres não podem ter isenção de propinas porque isso iria beneficiar os ricos,
mas os ricos podem ter gratuidade dos manuais porque tal beneficia os pobres.
(…)
A
propina não é o maior custo porque vivemos numa crise de habitação que faz com
que muitos nem ousem sequer candidatar-se ao Ensino Superior.
(…)
[O
ministro] que crie e desenvolva medidas para tornar [o sistema] mais
equitativo, como a quota para estudantes carenciados ou isenções de propinas
apenas aplicáveis a estes.
Henrique Tomás, “Público” (sem link)
Tirando o PCP, que se dedicará à preservação da sigla e à
gestão do seu declínio nas classes que representou, o espaço à esquerda do PS
terá mesmo de se reinventar.
(…)
Se quer contar entre os desencantados, tem de deixar de ser
visto como “da situação”.
(…)
A pergunta difícil: o que pode a
esquerda oferecer ao povo quando nada de construtivo o parece mobilizar?
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
As
vozes de pessoas que vivem em situações de fragilidade económica estão
silenciadas.
(…)
Os meios de comunicação social
entrevistam pessoas em situação de pobreza para ilustrar certas notícias, mas
não lhes dão espaço para falarem na primeira pessoa, ao invés do que vai
acontecendo noutras paragens.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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