(…)
Respeitamos
muito pouco os recursos do planeta, a natureza, os animais, as árvores e outros
elementos indispensáveis para a nossa existência.
(…)
As respostas aos grandes problemas exigem empenho sério na
sua análise e muito trabalho coletivo na sociedade.
(…)
Os maiores exploradores são aceites como símbolos e heróis.
(…)
Nos planos económico, social, cultural e político parece que
a nossa sensibilidade só consegue despertar para temas e questões de círculos
muito próximos e momentâneos.
(…)
O funcionamento do mercado é indiferente ao sofrimento humano
e não garante relações pacíficas para além de espaços micro.
(…)
No final do século XIX e no início do século XX, foram muito
dolorosas para países e povos de todo o Mundo as interações entre povos pela
via do mercado livre.
(…)
Há muitos milhões de seres humanos abandonados e também no
nosso país.
Não há
dúvida, portanto, de que a manifestação [No King, nos Estados Unidos] de agora foi
uma das maiores mobilizações sociais de protesto contra o governo e a condução
da política norte-americana nas últimas décadas.
(…)
O
autocrata está destruindo a chamada ‘maior democracia do mundo’ (termo
estranho, é verdade, para um país que tantas guerras e conflitos promoveu e
continua a fazê-los), não se importa com críticas, porém, se ofende e reage
feito uma criança vingativa.
(…)
Age inabalável, ciente de seu poder. Comanda o
planeta ao sabor de seus interesses.
(…)
[Impõe] a todos seu conservadorismo
radical oportunista a servir de estímulo crescente aos extremistas.
(…)
[Neste
momento] utiliza quase 300 milhões de euros na destruição de uma parte da
icônica Casa Branca para iniciar as obras de um monumental salão de baile.
(…)
Na prática, Trump não se coloca
caricaturalmente como rei, ele está certo de já o ser.
(…)
O mundo existe para lhe servir, para lhe
enriquecer, para sua vaidade incorrigível e incontrolável.
(…)
Também Napoleão quis tomar o mundo para si. E
foi na Rússia, curiosamente, que foi vencido.
(…)
A
ideia de um homem ser suficientemente capaz de conduzir e idealizar um reino
não é nova, e desde sempre percorre as entranhas do poder.
(…)
Os
novos reis filósofos, agora tiranos, precisam ser líderes simples, aparentarem
ser poderosos diante da democracia desorganizada e desacreditada e terem como
força e estratégia a imprevisibilidade.
(…)
É
preciso admitir, mesmo vindo dele [Trump], a imprevisibilidade se confirmar, e
a tirania a ser encenada sem pudor na forma idealizada de um vídeo que lhe
revela imperador.
(…)
O
impacto no imaginário de seus apoiadores é gigantesco. Divertem-se, como se
tivessem qualquer intimidade e importância junto ao tirano que idolatram.
(…)
Mimetizam-no
com orgulho, como se fossem, enfim, o povo escolhido para ser o conselheiro do
rei filósofo. Mas não o são.
(…)
Alguns já perceberam isso e se indagam como
chegaram a acreditar no que acreditaram.
Ruy Filho, “Público”
(sem link)
Segundo o mais recente relatório do Conselho
Europeu, os lisboetas destinam 116% do salário à renda da casa.
(…)
Lisboa é hoje a cidade mais cara da Europa face
aos rendimentos dos habitantes.
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Hoje, viver em Lisboa é quase um hobby para milionários.
(…)
Porque ver o salário desaparecer totalmente
todos os meses quando se paga a renda não é para qualquer um.
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Na prática, um casal só consegue viver junto
porque um dos dois abdica do direito básico a comer.
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Três salários são o novo ideal romântico.
(…)
Se a
coisa correr mal e o poliamor falhar, há sempre o co-living, esse conceito
brilhante inventado para transformar o desespero em tendência.
(…)
O mercado livre é mesmo criativo.
(…)
Ter um
património líquido milionário, em Portugal, é simplesmente não ter dívidas e
possuir um T2 no Intendente comprado há vinte anos por um valor que hoje mal
chega para um jantar no Chiado.
(…)
Estas
pessoas são a nova aristocracia lisboeta. Não têm iate, nem Ferrari, mas têm
casa própria. Um luxo obsceno em 2025.
(…)
O mais assustador é o grau de normalização
disto tudo. Pagamos 900 euros por um T0 e achamos “barato”.
(…)
E depois ainda há quem diga que “é o mercado a
funcionar”.
(…)
O mercado não funciona, o mercado explora.
(…)
E nós
continuamos a agradecer por nos deixarem existir entre o sofá e a tábua de
engomar.
(…)
Em praticamente toda a União Europeia, a
habitação deixou de ser um direito e passou a ser uma commodity.
(…)
As casas já não são lugares para viver, são
ativos financeiros.
(…)
A vida real fica do lado de fora da porta.
(…)
[As casas] não podem ser tratadas como ações em
bolsa nem reféns de fundos imobiliários com sede nas ilhas do costume.
(…)
A nossa realidade material ultrapassou todos os
limites: estamos a assistir, em tempo real, à privatização da vida.
(…)
Há algo de comovente em ver líderes europeus a
falar de habitação quando nunca sentiram este problema.
Dinis de Oliveira
Fernandes, “Público” (sem link)
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